Voltou de viagem e não se sente bem? Os cientistas explicam os sintomas a que deve estar atento

As férias terminaram e está com o corpo “a reclamar”? Nem sempre é só cansaço ou jet lag — alguns sintomas podem esconder algo mais sério. Saiba quando deve mesmo procurar um médico.

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Pode ser mais frequente do que acha. Foto: Unsplash

O verão é, para muitos, sinónimo de descoberta, aventura e descanso. É aquela altura do ano que aproveitamos para explorar aquele país de sonho e há muito esperado. E, sim, viajar é um prazer, mas por vezes regressamos com mais do que boas histórias ou um bronzeado invejável.

Se voltou recentemente de férias e não se sente muito bem, vale a pena escutar o seu corpo.

Algumas doenças tropicais ou infeções comuns podem surgir dias — ou até semanas — após o regresso, e os especialistas recomendam não desvalorizar certos sintomas.

Jet lag, cansaço... ou algo mais?

É natural que, depois de dias de praia, caminhadas, voos longos e mudanças de fuso horário, regresse a casa a sentir-se um pouco “desalinhado”. O chamado jet lag — uma espécie de descompensação entre o seu relógio biológico e o novo horário local — pode provocar insónias, cansaço, irritabilidade e até alguns distúrbios digestivos. A boa notícia? Normalmente, resolve-se em poucos dias com descanso, hidratação e alguma paciência.

Mas há quem sinta o oposto: começa a adoecer assim que entra de férias. Sim, é mesmo um fenómeno reconhecido e tem nome — leisure sickness, ou "doença das férias". Segundo o jornal ‘The Times’, este mal-estar súbito pode manifestar-se com dores de cabeça, fadiga extrema, sintomas de gripe ligeira ou náuseas. E porquê? A teoria é que, ao abrandar o ritmo e relaxar, o corpo liberta finalmente o stress acumulado — e com ele, os sintomas que andavam “guardados na gaveta”. Algo como uma ressaca do descanso.

Ainda assim, nem todos os sintomas que surgem após uma viagem se devem ao relógio interno ou ao sistema nervoso a descomprimir. Em alguns casos, o corpo pode estar a dar sinais de alerta mais sérios — e aí, é importante saber escutar.

Quando o corpo fala mais alto: sintomas que exigem atenção

Se além do cansaço, sente febre persistente, não é motivo para entrar em pânico, mas também não o ignore. Muitas infeções associadas a viagens começam de forma discreta, com sintomas semelhantes a uma constipação ou gripe. No entanto, se viajou recentemente para zonas tropicais ou subtropicais, convém estar especialmente atento.

A malária, por exemplo, é uma das doenças mais comuns entre viajantes de destinos exóticos. Transmitida por mosquitos, pode manifestar-se com febre alta, dores musculares, arrepios e suores intensos.

Segundo o ‘Manual Merck’ (um guia clínico de referência internacional com informações médicas atualizadas para profissionais de saúde e o público em geral), são diagnosticados cerca de 2.000 casos por ano no Reino Unido, todos associados a viagens internacionais. E os sintomas podem surgir semanas depois do regresso.

A dengue, outra infeção transmitida por mosquitos, também é conhecida por causar febre elevada, dores fortes no corpo e manchas na pele. A maioria dos casos resolve-se com repouso e boa hidratação, mas há situações mais graves que requerem internamento. O site ‘Health.com’ relembra que existe vacina, embora recomendada apenas para quem já teve a doença anteriormente, pois oferece proteção mais eficaz nesse grupo.

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Esteja atento aos sintomas. Foto: Unsplash

Outro sintoma comum — e muitas vezes subestimado — é a diarreia. Estima-se que até 60% dos viajantes tenham pelo menos um episódio durante ou após a viagem. A chamada “diarreia do viajante” pode ser provocada por bactérias, vírus ou parasitas presentes em alimentos ou água contaminada. Na maioria dos casos, é uma incómoda (mas passageira) consequência de uma refeição menos feliz. No entanto, se notar sangue nas fezes, dores abdominais intensas ou sinais de desidratação, pode estar perante algo mais sério, como giardíase, disenteria amebiana ou até o cólera.

O ‘Passport Health’, serviço especializado em medicina do viajante, alerta que nestas situações a perda de líquidos pode ser mais perigosa do que a própria infeção, exigindo muitas vezes tratamento médico urgente.

Por fim, se ao olhar ao espelho notar a pele — ou, mais frequentemente, a parte branca dos olhos — com um tom amarelado, é provável que esteja perante um caso de icterícia. Apesar de ser fácil confundi-la com um bronzeado mais dourado do que o habitual, esta coloração é, na verdade, sinal de que o fígado pode não estar a funcionar como devia.

A icterícia resulta da acumulação de bilirrubina no sangue e pode ter várias origens, desde hepatites virais (como a A e a E, comuns em zonas com saneamento precário) até infeções como a febre amarela ou a própria malária.

De acordo com ‘The Conversation’, plataforma científica com contributos de especialistas universitários, a hepatite é uma das doenças mais silenciosas que se pode contrair em viagem, e os seus sintomas — como fadiga intensa, febre ligeira e náuseas — muitas vezes passam despercebidos.

Cuide-se — mesmo depois de regressar

Depois das férias, o corpo nem sempre entra logo no modo "voltar ao trabalho". Às vezes, precisa de atenção especial. Por isso, se regressar com febre, alterações na cor da pele, diarreia persistente, tosse estranha ou simplesmente um mal-estar que não sabe explicar, não hesite em procurar ajuda médica.

É importante levar consigo informações úteis: que países visitou, como foi a alimentação, se teve contacto com animais, picadas de insetos, relações sexuais desprotegidas ou outras situações de risco. Como sublinha o ‘Passport Health’, este contexto é fundamental para chegar ao diagnóstico certo e evitar complicações.

Viajar é uma das melhores formas de conhecer o mundo — mas cuidar da sua saúde também é parte da viagem. Se trouxe algo inesperado na bagagem, trate-se como merece. E que o único souvenir duradouro seja mesmo aquele íman no frigorífico.