Tempestade Claudia enche barragens e país entra em dezembro com valor próximo de 80% de armazenamento médio
Com 80% de armazenamento médio, Portugal fecha novembro com as principais barragens quase cheias. A chuva intensa da tempestade Claudia fez subir, em apenas uma semana, o volume nacional em 624 hm³. Ainda assim, a última semana registou uma quebra de 0,6%.

A passagem da tempestade Claudia em meados de novembro trouxe chuva forte a grande parte do território, fazendo disparar o volume armazenado nas principais albufeiras do país.
Reservas sobem cinco pontos em apenas uma semana
Em apenas uma semana, a média nacional subiu de 75% para 80% da capacidade total nas 80 barragens monitorizadas. Metade destes reservatórios apresenta agora disponibilidades hídricas superiores a 80%.
Segundo os dados da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e do Sistema Nacional Integrado de Recursos Hídricos (SNIRH), o acréscimo de água armazenada corresponde a 624 hm³, o equivalente a encher por completo a barragem do Cabril. A maior albufeira nacional, o Alqueva, no Guadiana, atingiu 81% da capacidade máxima, reforçando o papel destas infraestruturas na regulação do regime hídrico.
Globalmente, o sistema de grandes barragens entra no inverno hidrológico com uma folga confortável, ainda que desigual entre regiões.
A distribuição por bacias hidrográficas mostra um padrão evidente. O Norte e Centro beneficiaram mais intensamente da chuva associada à depressão Cláudia.
As bacias do Cávado (78,9%), Douro (88,8%), Vouga (90,5%) e Mondego (77,0%) registam níveis de armazenamento muito elevados, tal como o Tejo (81,3%) e as Ribeiras do Oeste (90,6%). No Guadiana, o valor médio de 79,9% confirma igualmente uma recuperação expressiva face ao início do outono.

Já em várias bacias do Sul e do litoral alentejano e algarvio o cenário é mais contido. Os armazenamentos são inferiores em Ribeiras do Alentejo (69,5%), Arade (75,8%) e Sotavento Algarvio (73,9%).
Os valores mais preocupantes concentram-se no Sado (50,5%), na bacia do Mira (53,7%) e no Barlavento Algarvio (45,8%), que continuam longe do patamar de conforto hídrico observado noutras áreas territoriais do país.
Os boletins hidrológicos da terceira semana de novembro indicam que, entre 17 e 24 de novembro, o volume armazenado aumentou em oito bacias hidrográficas e diminuiu em sete, refletindo a variabilidade espacial da precipitação, que se cifra agora em 10 498 hm³ (menos 0,58% do que na semana anterior).
Sul e, em particular, Algarve continuam abaixo da média histórica
Apesar desta oscilação, 50% das albufeiras têm mais de 80% da capacidade e apenas 5% apresentam disponibilidades inferiores a 40%. Em termos comparados, os armazenamentos de novembro de 2025 estão acima da média de novembro (1990/91 a 2023/24) na generalidade das bacias.
Verificaram-se neste período duas exceções: Mira e Ribeiras do Barlavento, que permanecem abaixo do valor médio das últimas três décadas.
Este enquadramento hidrológico ocorre num contexto meteorológico de forte contraste. Após a passagem da tempestade, o anticiclone permitiu o regresso de períodos de sol, mas também trouxe ar mais frio, com previsão de temperaturas negativas em áreas de Trás-os-Montes e da Beira Alta e possibilidade de neve nas serras mais altas.
O aumento rápido do armazenamento nas barragens reativa o debate sobre segurança de infraestruturas e gestão do risco de cheias. No início de novembro, o Governo anunciou uma inspeção extraordinária a todas as barragens do país, medida coordenada pelo Ministério do Ambiente, com o objetivo de avaliar o estado estrutural e operacional destas obras hidráulicas à entrada de um inverno que a ministra Maria da Graça Carvalho já admitiu poder ser particularmente chuvoso.
Paralelamente, o Orçamento do Estado para 2026 reserva cerca de 60 milhões de euros para medidas de prevenção de cheias, com intervenções previstas em áreas vulneráveis de Lisboa, do Algarve e de outras áreas ribeirinhas. A conjugação de barragens muito cheias com episódios de precipitação extrema pode obrigar a descargas rápidas, aumentando a pressão sobre leitos de cheia, sistemas de drenagem urbanos e áreas densamente ocupadas.
As autoridades sublinham a necessidade de articular a gestão das albufeiras com planos municipais de proteção civil e de ordenamento do território.