Taxas turísticas “verdes”: pagar mais pode salvar os destinos que tencionamos visitar
Governos de vários países estão a criar taxas turísticas ligadas ao clima para financiar recuperação, adaptação e conservação. As cobranças são modestas face ao custo total de viagem, mas podem gerar centenas de milhões para proteger praias, recifes e trilhos.

Em plena fase de ondas de calor, incêndios florestais e tempestades cada vez mais intensas, multiplicam-se pelo mundo taxas turísticas com finalidade ambiental. O objetivo é simples: fazer com que quem visita também contribua para preservar os recursos naturais que motivam a viagem. Para os turistas, o acréscimo costuma ser pequeno. No entanto, para os destinos, a diferença pode ser enorme, se o dinheiro for bem aplicado e comunicado de forma clara.
Alguns exemplos internacionais demonstram que há alguns caminhos para a sustentabilidade ambiental no turismo
O caso mais emblemático surgiu no Hawai. Após os incêndios devastadores de agosto de 2023, que arrasaram Lahaina, o estado aprovou em maio uma “Green Fee” que acresce 0,75% aos impostos já aplicados no setor do alojamento. A partir de 2026, a medida deverá gerar cerca de 100 milhões de dólares por ano, canalizados para a recuperação pós-fogo, a restauração de recifes e a adaptação climática. A decisão assenta na constatação de que a pressão de 10 milhões de visitantes anuais exige financiamento estável para cuidar dos ecossistemas que sustentam a economia local.
Na Europa, a Grécia substituiu, em janeiro de 2024, a taxa de pernoita por uma “Taxa de Resiliência à Crise Climática”. O valor varia entre 0,50 € e 10 € por noite, consoante a tipologia do hotel e a estação, com sobretaxas que podem chegar a 20 € por pessoa em ilhas de maior pressão turística, como Mykonos e Santorini, durante a época alta. O Governo estima arrecadar 400 milhões de euros anuais para reforçar a gestão da água, prevenir desastres e restaurar ecossistemas, prioridades particularmente sensíveis num país marcado por secas, incêndios e eventos extremos.

Também na Ásia-Pacífico há mudanças. Bali passou a cobrar, em 2024, 150.000 rupias por visitante internacional, verba destinada à proteção ambiental. Nas Maldivas, o “Green Tax” existe desde 2015 e foi duplicada em janeiro de 2025, fixando-se, para a maioria dos hotéis e resorts, em 12 dólares por pessoa e por noite. A receita alimenta um fundo público orientado para gestão de resíduos e resiliência costeira. A Nova Zelândia, por sua vez, quase triplicou o seu International Visitor Levy desde 2019, aproximando-o dos 100 dólares neozelandeses em 2024, para financiar conservação e infraestruturas de turismo sustentável.
Se o montante acrescentado ao orçamento do viajante é, na maioria dos casos, residual, o impacte no território pode ser transformador – desde que haja regras e escrutínio. Investigadores e profissionais do setor sublinham que a chave está na transparência: comunicar claramente onde é aplicado cada euro e publicar relatórios regulares com projetos, custos e resultados. Há bons exemplos.
As Maldivas divulgam relatórios mensais do “Green Fund”, detalhando alocações para proteção costeira, tratamento de resíduos e acesso à água. A Nova Zelândia publica balanços anuais sobre as iniciativas financiadas – como a recuperação de trilhos afetados por tempestades e o reforço das ciclovias com critérios de resiliência climática. No Hawai, após os incêndios, foi criado um grupo consultivo climático que definiu prioridades e fontes de financiamento, procurando cimentar a confiança pública no novo modelo.
Pacotes turísticos sustentáveis não devem ser tratados como opções premium, mas um padrão das viagens turísticas
Os inquéritos aos viajantes sugerem recetividade a este tipo de contribuição, desde que os objetivos e resultados sejam explícitos. O Relatório de Viagens Sustentáveis da Booking.com (2024) indica que 75% dos viajantes querem tornar as suas deslocações mais sustentáveis no próximo ano e 71% desejam “deixar o lugar melhor do que o encontraram”. Outro estudo, da Euromonitor (2023), aponta que quase 80% dos inquiridos aceitariam pagar pelo menos mais 10% por opções de viagem sustentáveis. Em termos práticos, muitos turistas encaram uma taxa de fração percentual na fatura do hotel como um pequeno preço a pagar por praias, florestas e recifes mais protegidos.
Ao mesmo tempo, especialistas alertam que sustentabilidade não deve ser tratada como um extra opcional. A ambição é “incorporá-la” no desenho de serviços e operações, tornando-a o padrão, e não uma escolha premium. Isso implica governança robusta, metas claras e avaliação independente. Sem estes pilares, as taxas correm o risco de serem percecionadas como meras fontes de receita, corroendo a adesão de residentes e visitantes.

A tendência das “taxas climáticas” assinala, em última análise, uma mudança de paradigma: do turismo entendido como consumo para um modelo de colaboração. Em vez de simplesmente “chegar, usufruir e partir”, o viajante é convidado a participar na manutenção dos lugares que visita. Para destinos sob pressão e cada vez mais expostos a choques climáticos, este financiamento dedicado pode significar trilhos reabertos com segurança, recifes resilientes, gestão de resíduos mais eficiente e cidades mais preparadas para eventos extremos. Pequenas quantias, bem geridas, podem garantir que os destinos mais amados continuem a sê-lo – e a existir – nas próximas décadas.