Projeto CannValue investiga novos produtos derivados de canábis medicinal
A Portocanna é líder de um projeto de investigação para o desenvolvimento de novos processos de extração de canábis medicinal. Financiado pelo Portugal 2030, tem como objetivo obter cinco novos produtos nos próximos três anos.

Quando falamos de canábis, falamos de uma planta florida da qual existem três espécies principais: Cannabis Sativa L., Cannabis Indica e Cannabis Ruderalis.
Os primeiros relatos do uso da canábis para fins medicinais remontam à época do imperador chinês Shen Nung, cerca de 2.700 a.C..
Registos muito antigos sobre o uso da planta em placas de argila cuneiformes Sumérias e Acádias, cerca de 1.800 a.C., mostravam o uso da planta para tratar uma variedade de doenças, incluindo “convulsões noturnas”.
Tratamento de convulsões e epilepsia
Mais tarde, já na literatura Árabe e Islâmica, surgiram registos explícitos do uso da planta para o tratamento das convulsões e epilepsia, segundo dados publicados no website do Observatório Português de Canábis Medicinal, criado há seis anos.
No século XX, o uso da planta canábis nos mais diversos países entrou em declínio, em parte devido à proibição do seu cultivo, mas os avanços científicos sobre as suas propriedades nunca pararam. E os investigadores e farmacologistas avançaram na caracterização química dos seus ingredientes ativos e na relação entre a estrutura molecular e a atividade biológica, que está hoje demonstrada.
Em março de 2024, o Infarmed, que é a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, tinha aprovado três novas autorizações de colocação no mercado de preparação à base da canábis para fins medicinais.
Canábis não é de venda livre
Estes produtos farmacêuticos à base de canábis não são de venda livre. Dependem de avaliação clínica, efetuada por um médico, em função das indicações terapêuticas aprovadas, sendo que a sua dispensa só pode ocorrer na farmácia e mediante apresentação de receita médica.
Os três novos produtos aprovados em 2024 estão indicados para combater a dor crónica associada a doenças oncológicas, a epilepsia e o tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, a esclerose múltipla, náuseas e vómitos causados por quimioterapia, assim como a estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes em tratamento oncológico ou com sida.

Até ao ano passado, só estava autorizado e em comercialização, desde 2021, um preparado de flores secas de cannabis sativa, que continha 18% de tetrahidrocanabinol (THC) e menos de 1% de canabidiol (CBD).
Cinco novos produtos em três anos
Com o arranque do projeto CannValue, que tem a liderança da Portocanna, que é especialista no setor da canábis medicinal, há novos produtos medicinais em perspetiva.
Com o projeto CannValue, que é financiado pelo Portugal 2030, as entidades envolvidas vão contribuir para a diversificação e introdução de diferentes produtos inovadores no mercado, que é altamente regulamentado e restringido, e que exige padrões elevados de qualidade e de segurança.
Resultados de inovação tangíveis
Fonte oficial do ISQ explica que também se prevê a “valorização de biomassa remanescente do processo produtivo, com o objetivo de estabelecer novas saídas comerciais para a mesma, numa ótica de economia circular”.
O ISQ não tem dúvidas de que este projeto CannValue representa “um caminho claro e estruturado para alcançar resultados de inovação tangíveis e mensuráveis”.

Significa ainda “uma oportunidade única para avançar na fronteira do conhecimento e inovação na indústria da canábis medicinal, com uma abordagem focada na otimização de processos e na valorização integral da biomassa”.
Através desses processos, promete-se um “aumento da eficiência e da qualidade dos produtos, ao mesmo tempo que se alinha com os princípios de desenvolvimento sustentável”.
A Bluestabil, uma empresa do grupo ISQ, é um especialista “único em Portugal” na armazenagem em condições climáticas ICH de Canábis medicinal. A empresa tem a autorização do Infarmed para armazenar canábis medicinal nas suas câmaras de estabilidade, o que “consolida a sua posição como referência” nesta área.
Com essa autorização, “a Bluestabil oferece aos produtores e investigadores de canábis medicinal um espaço seguro e regulamentado”, que está “apto a garantir a qualidade e a estabilidade dos produtos ao longo de toda a sua vida útil”, garante o ISQ.