Projeto CannValue investiga novos produtos derivados de canábis medicinal

A Portocanna é líder de um projeto de investigação para o desenvolvimento de novos processos de extração de canábis medicinal. Financiado pelo Portugal 2030, tem como objetivo obter cinco novos produtos nos próximos três anos.

Canábis
No século XX, o uso da planta canábis nos mais diversos países entrou em declínio, em parte devido à proibição do seu cultivo, mas os avanços científicos sobre as suas propriedades nunca pararam.

Quando falamos de canábis, falamos de uma planta florida da qual existem três espécies principais: Cannabis Sativa L., Cannabis Indica e Cannabis Ruderalis.

Os primeiros relatos do uso da canábis para fins medicinais remontam à época do imperador chinês Shen Nung, cerca de 2.700 a.C..

Registos muito antigos sobre o uso da planta em placas de argila cuneiformes Sumérias e Acádias, cerca de 1.800 a.C., mostravam o uso da planta para tratar uma variedade de doenças, incluindo “convulsões noturnas”.

Tratamento de convulsões e epilepsia

Mais tarde, já na literatura Árabe e Islâmica, surgiram registos explícitos do uso da planta para o tratamento das convulsões e epilepsia, segundo dados publicados no website do Observatório Português de Canábis Medicinal, criado há seis anos.

No século XX, o uso da planta canábis nos mais diversos países entrou em declínio, em parte devido à proibição do seu cultivo, mas os avanços científicos sobre as suas propriedades nunca pararam. E os investigadores e farmacologistas avançaram na caracterização química dos seus ingredientes ativos e na relação entre a estrutura molecular e a atividade biológica, que está hoje demonstrada.

Portugal permite a utilização da canábis para fins medicinais desde 2019, com a publicação da Lei nº 33/2018, de 18 de julho, e do Decreto-Lei nº 8/2019, de 15 de janeiro, que regulamentou aquela Lei.

Em março de 2024, o Infarmed, que é a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, tinha aprovado três novas autorizações de colocação no mercado de preparação à base da canábis para fins medicinais.

Canábis não é de venda livre

Estes produtos farmacêuticos à base de canábis não são de venda livre. Dependem de avaliação clínica, efetuada por um médico, em função das indicações terapêuticas aprovadas, sendo que a sua dispensa só pode ocorrer na farmácia e mediante apresentação de receita médica.

Os três novos produtos aprovados em 2024 estão indicados para combater a dor crónica associada a doenças oncológicas, a epilepsia e o tratamento de transtornos convulsivos graves na infância, a esclerose múltipla, náuseas e vómitos causados por quimioterapia, assim como a estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes em tratamento oncológico ou com sida.

Cristina Ascenço
Cristina Ascenço é gestora de programas de I&DI no ISQ, entidade que integra o projeto CannValue com a Universidade de Aveiro e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA). Crédito: ISQ

Até ao ano passado, só estava autorizado e em comercialização, desde 2021, um preparado de flores secas de cannabis sativa, que continha 18% de tetrahidrocanabinol (THC) e menos de 1% de canabidiol (CBD).

Cinco novos produtos em três anos

Com o arranque do projeto CannValue, que tem a liderança da Portocanna, que é especialista no setor da canábis medicinal, há novos produtos medicinais em perspetiva.

A investigação que está a ser desenvolvida em parceria com o ISQ, a Universidade de Aveiro e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) promete o desenvolvimento de novos processos de extração de canábis medicinal mais eficientes e sustentáveis. E com uma meta já traçada: obter cinco novos produtos inovadores em 36 meses.

Com o projeto CannValue, que é financiado pelo Portugal 2030, as entidades envolvidas vão contribuir para a diversificação e introdução de diferentes produtos inovadores no mercado, que é altamente regulamentado e restringido, e que exige padrões elevados de qualidade e de segurança.

Resultados de inovação tangíveis

Fonte oficial do ISQ explica que também se prevê a “valorização de biomassa remanescente do processo produtivo, com o objetivo de estabelecer novas saídas comerciais para a mesma, numa ótica de economia circular”.

Cristina Ascenço, gestora de programas de I&Di no ISQ, citada em comunicado, revela que “o ISQ contribuirá com as suas valências técnico-científicas nas áreas de ensaios de estabilidade, segurança de produto, avaliação de sustentabilidade e avaliação de ciclo de vida dos novos produtos”.

O ISQ não tem dúvidas de que este projeto CannValue representa “um caminho claro e estruturado para alcançar resultados de inovação tangíveis e mensuráveis”.

Produtos medicinais
Com o arranque do projeto CannValue, que tem a liderança da Portocanna, que é especialista no setor da canábis medicinal, há novos produtos medicinais em perspetiva. A investigação que está a ser desenvolvida em parceria com o ISQ, a Universidade de Aveiro e o IPMA.

Significa ainda “uma oportunidade única para avançar na fronteira do conhecimento e inovação na indústria da canábis medicinal, com uma abordagem focada na otimização de processos e na valorização integral da biomassa”.

Através desses processos, promete-se um “aumento da eficiência e da qualidade dos produtos, ao mesmo tempo que se alinha com os princípios de desenvolvimento sustentável”.

A Bluestabil, uma empresa do grupo ISQ, é um especialista “único em Portugal” na armazenagem em condições climáticas ICH de Canábis medicinal. A empresa tem a autorização do Infarmed para armazenar canábis medicinal nas suas câmaras de estabilidade, o que “consolida a sua posição como referência” nesta área.

Com essa autorização, “a Bluestabil oferece aos produtores e investigadores de canábis medicinal um espaço seguro e regulamentado”, que está “apto a garantir a qualidade e a estabilidade dos produtos ao longo de toda a sua vida útil”, garante o ISQ.