Ponte Inca sobrevive até aos nossos dias: conheça-a!

Uma velha tradição nos Andes subsiste até aos dias de hoje, sendo celebrada todos os anos pela população local. Fique a saber mais sobre este assunto, connosco!

Travessia da ponte.
Habitante local cruza a ponte Q'eswachaka, totalmente feita à mão pelos próprios.

Uma construção datada da civilização Inca subsiste até aos dias de hoje. Uma ponte, chamada Q’eswachaka foi uma das inúmeras pontes construídas pelo povo inca, durante o seu império, fazendo parte de uma vasta rede de caminhos que calcorreava os Andes Centrais, na altura designados de "Qhapaq Ñan".

Esta rede de caminhos ligava o grande império Inca, Tahuantinsuyo, que era composto por quatro regiões distintas: Collasuyo, Contisuyo, Chinchaysuyo e Antisuyo. Este conjunto de caminhos tinha como objetivo a interligação das várias povoações do litoral e das montanhas, permitindo uma ligação eficaz entre estas áreas distintas.

Esta celebração, mais do que uma festa sobre uma ponte, é uma celebração da arte, das técnicas e da cultura da população Inca dos Andes (...)

Face à difícil geografia da cordilheira dos Andes, recheada de montes, vales encaixados e rios, a implementação desta rede de caminhos exigiu a construção de inúmeras pontes. Estes equipamentos eram totalmente manufaturados, utilizando materiais como palha, pedras e madeira, que devido à sua reduzida durabilidade necessitavam de ser reconstruídas periodicamente.

Assim, a população substituía todos os anos a ponte, utilizando o sistema de trabalho por turnos que consistia em utilizar todos os trabalhadores da comunidade, envolvendo-os na construção, tanto de pontes como de estradas, e mesmo no cultivo dos campos. Este know-how de construir equipamentos em comunidade foi passando de geração em geração, permitindo que um dos últimos legados da civilização Inca permaneça intacto até aos dias de hoje.

Festival celebra esta obra de engenharia!

Desde há seis séculos que, no mês de junho, a população de Canas, localizada 100 km a Sudeste da cidade de Cusco (conhecida por ter sido a capital do Império Inca) nos Andes peruanos, celebra a construção da ponte Q’eswachaka, que cruza o rio Apurímac, a mais de 3700 metros de altitude. Esta data, que coincide com o equinócio de inverno no Hemisfério Sul, pretende celebrar uma ponte que é tecida e confecionada manualmente ano após ano, um ritual histórico que é Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, desde 2013.

O primeiro passo desta celebração passa por desmontar a ponte do ano anterior, cortando as ligações à terra e deixando que a ponte “antiga” seja levada pela força do rio. Posteriormente, as mulheres e crianças da comunidade começam a colher a matéria-prima essencial à construção da ponte, o qoya (ou inchu), uma espécie de palha com a qual são tecidas as cordas que servem tanto de base, como para as grades laterais.

Nos dias seguintes, com as cordas tecidas e entrelaçadas, o trabalho das mulheres e crianças é progressivamente substituído pelo trabalho dos homens, que começam a ligar as referidas cordas a um tapete de ramos que será utilizado como “chão” da ponte. Quando esta tarefa fica concluída, são os líderes da comunidade que inauguram a ponte e a testam pela primeira vez, numa festa que conta com comidas e bebidas tradicionais daquelas paragens sul-americanas.

Esta celebração, mais do que uma festa sobre uma ponte, é uma celebração da arte, das técnicas e da cultura da população Inca dos Andes, que marcou aquela região e perdura por gerações.