Pequim regista as chuvas mais fortes em 140 anos

A capital chinesa conheceu nos últimos dias um recorde de precipitação impressionante em 140 anos, fruto da passagem do tufão Doksuri, que deixou a capital e regiões vizinhas amplamente afetadas. Conheça os pormenores!

Ruas, passeios e casas inundados após as fortes chuvas que inundaram várias cidades chinesas. Na imagem, a cidade de Tianjin.

Na quarta-feira, as autoridades chinesas confirmaram que Pequim registou, nos últimos dias, as chuvas mais fortes alguma vez assinaladas, desde que os registos começaram há 140 anos.

As primeiras medições precisas feitas por máquinas na China datam de 1883. O recorde anteriormente estabelecido é de 1891, quando Pequim recebeu 609 milímetros (mm) de precipitação.

O fenómeno que agora se deu, deveu-se aos resquícios do tufão Doksuri, já como tempestade tropical, que inundou a região da capital e transformou as ruas em verdadeiros rios o que obrigou as equipas de emergência a utilizar lanchas para resgatar os moradores retidos.

Pequim e a província vizinha de Hebei foram atingidas por fortes inundações, com as águas a subir a níveis perigosos. A chuva que caiu, destruiu estradas e provocou danos no suporte de energia e mesmo no abastecimento de água.

A capital chinesa registou 744,8 mm de precipitação, a quantidade máxima de precipitação registada durante a tempestade, entre as 20h de sábado (29 de julho) e as 7h de quarta-feira (3 de agosto) na estação de Wangjiayuan, no distrito de Changping, segundo o Serviço Meteorológico de Pequim.

Para que se tenha uma real dimensão, a precipitação total do ano passado em Pequim não ultrapassou os 500 mm.

Vários vídeos foram compartilhados nas redes sociais que mostram a água em alta velocidade a "correr" pela cidade, onde se vê a força do movimento das águas agitadas e lamacentas que ameaçam levar consigo várias pontes, carros e outras estruturas.

O Centro Meteorológico Nacional da China chegou a emitir no domingo, 30 de julho, um raro aviso vermelho para a capital, o maior aviso de clima extremo do país, enquanto milhões se preparavam para as fortes enxurradas que estariam por vir nos dias seguintes. No sistema de alerta meteorológico chinês de quatro níveis, o vermelho indica as condições mais severas, aquelas com potenciais riscos à saúde e segurança.

É, pelo menos, a segunda vez que este aviso vermelho é emitido na China este ano. A primeira deu-se há pouco mais de um mês, quando aquele país experimentou temperaturas recorde.

O tufão Doksuri atingiu a China depois de causar deslizamentos de terra mortais nas Filipinas. A tempestade atingiu a província oriental de Fujian na manhã de sexta-feira, depois de trazer fortes chuvas e ventos para algumas partes da região de Taiwan, especialmente o arquipélago de Penghu.

Nas Filipinas, o evento havia causado, na ilha principal de Luzon, 39 mortes, incluindo 26 no naufrágio de um navio de passageiros.

Um rasto de destruição e tragédia

O número de mortes confirmadas na China aumentou para 21 na quarta-feira, 2 agosto, depois que o corpo de um socorrista ter sido recuperado. Pelo menos 26 pessoas continuam desaparecidas.

Milhares de pessoas foram evacuadas para abrigos em escolas e outros edifícios públicos nos subúrbios de Pequim e em cidades vizinhas. O governo central já desembolsou 6,1 milhões de dólares para ajuda humanitária nas províncias afetadas e destinou outros 14 milhões para apoiar a reconstrução em Pequim e na província vizinha de Hebei.

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Entre as áreas mais atingidas está Zhuozhou, uma pequena cidade na província de Hebei que faz fronteira com o sudoeste de Pequim. A cidade ficou meia submersa, com cerca de 134.000 residentes afetados e um sexto da população da cidade evacuada.

A chuva persistente levou Pequim a usar um reservatório destinado ao armazenamento de água de enchentes pela primeira vez desde sua criação, há 25 anos, para desviar as águas.

A capital chinesa observou pelo menos 12 casos de precipitação intensa trazida por tufões desde que as autoridades começaram a manter registos, segundo a imprensa estatal, sendo relativamente incomum registarem-se episódios como o que agora se deu.

Os mais relevantes datam de 2017 e 2018, quando os tufões Haitang e Ampil despejaram mais de 100 mm de chuva em Pequim. Talvez o mais significativo tenha sido causado pelo tufão Wanda em 1956, que desencadeou mais de 400 mm de precipitação na cidade de 22 milhões de habitantes.