O uso intensivo de chatbots de inteligência artificial atrofia o cérebro humano
Estudo do MIT revela que os modelos de linguagem, quando usados sem critério, interferem com a aprendizagem, corroendo também a criatividade, a memória e o pensamento analítico.

Os modelos de linguagem de inteligência artificial, como o ChatGPT, o LLAMA ou o Copilot chat entraram a grande velocidade na nossa vida. Estão tão presentes no dia a dia, que é já difícil imaginar viver sem estes talentosos assistentes virtuais capazes de escrever em poucos segundos e-mails, redigir artigos, resumir ideias-chaves, gerar imagens e muito mais.
As ferramentas de inteligência artificial (IA) poupam tempo, facilitam o nosso trabalho e, em boa parte dos casos, até são melhores que os humanos a desempenhar as tarefas que lhe são atribuídas. Mas tudo isso têm um preço que, a médio e longo prazo, pode ser demasiado alto.
É fácil ficar dependente da sua mestria, mas o uso intensivo destas ferramentas tem um grande impacto negativo nos níveis cognitivos e na capacidade de aprendizagem dos utilizadores.
A conclusão surge no estudo “Your Brain on ChatGPT”, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, que investigou as potenciais implicações de modelos de linguagem de larga escala na aprendizagem.

Os utilizadores destas ferramentas tendem, segundo os investigadores, a apresentar um desempenho consistentemente inferior nos níveis neuronais, linguístico e comportamental.
A investigação, desenvolvida pela equipa do MIT Media Lab, sugere que o uso de LLMs (Large Language Models, em inglês) pode vir a prejudicar em muito a aprendizagem, especialmente entre os mais jovens, cujo cérebro está ainda em desenvolvimento.
O estudo, todavia, não foi ainda revisto pelos seus pares e a sua amostra é relativamente pequena. Ainda assim, os autores decidiram ser importante divulgar já os resultados por temerem que o rápido avanço destas tecnologias possa ter efeitos negativos galopantes.
Tarefas escolares com e sem ChatGPT
A equipa do MIT esteve particularmente interessada na utilização de IA nos trabalhos escolares, dado que cada vez mais alunos recorrem a modelos de linguagem suportados em inteligência artificial generativa.
A experiência consistiu em dividir 54 participantes em três grupos, com adultos dos 18 aos 39 anos, incluindo estudantes, cientistas e engenheiros de universidades da região de Boston, nos Estados Unidos.
Ao longo de quatro meses, os participantes estiveram envolvidos em três sessões sendo-lhes atribuídas tarefas iguais. Recorrendo a eletroencefalogramas, a equipa de neurologistas mediu o nível de compromisso e a carga cognitiva para processar as informações necessárias com vista a escrever os seus textos em 20 minutos.

O grupo que escreveu as composições utilizando os Chat GPT apresentou textos muito semelhantes, sem originalidade, usando as mesmas expressões e conceitos. Dois professores de inglês que avaliaram os trabalhos, descreveram esses textos como escritos sem alma. Os encefalogramas, por seu turno, revelaram um baixo controlo e reduzida atenção envolvidos na execução das tarefas.

O grupo que utilizou unicamente o seu cérebro para redigir os textos apresentou maior conectividade neural, especialmente nas bandas alfa, teta e delta, associadas à criatividade, memória e processamento semântico.
Os investigadores verificaram que este grupo era mais empenhado e curioso, reivindicando a autoria dos seus textos e manifestando um certo orgulho com o resultado do seu trabalho.
Após escreverem as três composições os investigadores inverteram os papéis. Ao primeiro grupo foi pedido que reescrevessem um dos seus textos, mas agora sem a ajuda do CHAT GPT. A ferramenta passou para as mãos do grupo que até então não tinha usado qualquer recurso digital.
E o que aconteceu é que aqueles que usaram a IA nas experiências anteriores, demonstraram ter poucas memórias sobre as suas composições. O exame neurológico revelou também ondas cerebrais alfa e teta mais fracas, refletindo, provavelmente, desvios dos processos de memória.

O segundo grupo, por outro lado, exibiu um aumento significativo da conectividade cerebral em todas as bandas de frequência do eletroencefalograma. O desempenho intrigou os investigadores, sugerindo, por isso, que, quando usada corretamente, a IA generativa pode vir a melhorar a aprendizagem em vez de a prejudicar.
A urgência de educar para a inteligência artificial
O artigo está agora em revisão pelos pares podendo demorar oito meses ou mais até vir a ser aprovado. Esse foi o motivo para a equipa do MIT Media Lab não esperar pelo fim deste processo para divulgar os resultados.

Ao mostrarem os eventuais impactos destas tecnologias no cérebro humano, os cientistas esperam poder contribuir para que os regimes legislativos sejam adaptados aos novos conhecimentos e que, acima de tudo, as ferramentas digitais sejam testadas antes de implementadas.
A educação e a preparação sobre como usar a IA será determinante na forma como a aprendizagem das novas gerações irá evoluir. Por mais que as tecnologias avancem a um ritmo alucinante, os autores do estudo advertem que o cérebro humano estará sempre dependente dos recursos analógicos para se desenvolver.
Referência da notícia
Nataliya Kosmyna, Eugene Hauptmann, Ye Tong Yuan, Jessica Situ, Xian-Hao Liao, Ashly Vivian Beresnitzky, Iris Braunstein, Pattie Maes. Your Brain on ChatGPT: Accumulation of Cognitive Debt when Using an AI Assistant for Essay Writing Task. arXiv.