O papel do navio-escola Sagres nas mudanças climáticas

Para além da componente histórica, a viagem do NRP Sagres está também associada a uma vertente cientifica. Os cientistas a bordo do navio estão a recolher dados que vão permitir o estudo do clima e dos oceanos e do futuro dos mesmos. Saiba tudo connosco!

NRP Sagres da Marinha Portuguesa
O navio-escola Sagres vai recolher dados dos oceanos e do clima em áreas nunca antes estudadas.

A viagem do navio-escola Sagres, sendo uma recriação da circum-navegação de Fernão de Magalhães há 500 anos, tem uma forte componente histórica já que o navio vai replicar grande parte dessa viagem. Pretende-se com esta expedição celebrar a primeira volta ao mundo por via marítima que marcou a primeira fase das conquistas ibéricas de além mar.

À margem desta celebração, um conjunto de cientistas participa nesta viagem de um outro ponto de vista e com outros objetivos. Dois meses depois de partir de Portugal, o navio está a cruzar o Atlântico em direção à Cidade do Cabo, indo posteriormente navegar em águas do Índico e do Pacífico com o intuito de recolher dados sobre o comportamento do clima e dos oceanos em áreas nunca antes estudadas. O Sagres foi transformado num completo laboratório científico totalmente equipado.

Os investigadores multidisciplinares estão munidos de equipamentos próprios para recolher dados do oceano, da atmosfera e da radiação que vem do espaço. Para além disso, no mastro do navio foram instalados dois sensores próprios para registarem a cada momento o campo elétrico da atmosfera. Esta recolha e tratamento de dados está a cargo do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), da Universidade do Porto, no âmbito do projeto Space-Atmosphere-Ocean Interactions in the marine boundary Layer (SAIL).

Pertinência da investigação

Todos os dias, os investigadores recolhem cerca de 13 GB de informação, que vai ser tratada nos dois anos posteriores à viagem. A análise dos dados vai servir para atualizar os modelos climáticos que são produzidos atualmente, pois alguns ainda utilizam dados recolhidos há 100 anos. Estes modelos atualizados vão ser utilizados para prever tempestades e outros fenómenos climáticos extremos.

Através da utilização de equipamentos próprios, como o mini submarino construído pelo INESC TEC (Towfish), o projeto SAIL monitoriza vários parâmetros da água do mar. A informação retirada é usada para analisar os efeitos das alterações climáticas nos ecossistemas marinhos.

Através da observação direta, os responsáveis deste projeto acreditam que estão a lidar com um oceano com cicatrizes profundas de poluição, principalmente de origem humana, que fez desaparecer espécies de peixes voadores, cetáceos, baleias e golfinhos. Com o objetivo de monitorizar a poluição dos oceanos, decorre paralelamente outra investigação que tem o objetivo de medir a quantidade de lixo marinho e de microplásticos na água. Esta investigação está a ser desenvolvida pelo MARE, Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, um centro de investigação cientifica constituído por sete pólos em Portugal, incluindo a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Esta jornada única, com duração prevista de 371 dias, vai permitir colmatar uma falta de dados, principalmente do Hemisfério Sul, tratando o sistema Terra como um todo.