Já comemos, este ano, demasiado tamboril: a sua pesca está proibida a partir de agora
Portugal já usou 95% da quota de pesca da espécie, ficando a sua captura interdita até nova avaliação dos stocks de 2025.

Arroz e cataplana de tamboril estão entre os pratos algarvios mais típicos da gastronomia portuguesa. Mas os bons apreciadores de peixe vão ter de refrear o seu apetite por esta espécie muito valorizada pela sua carne firme e sabor delicado, que lembra a lagosta.
Portugal já utilizou 95% da quota de pesca da espécie, ficando a sua captura proibida a partir da meia-noite desta terça-feira, 21 de outubro.
A restrição aplica-se às zonas 8c (Golfo da Biscaia Meridional), 9 (águas portuguesas) e 10 (Banco dos Açores), bem como na zona CECAF 34.1.1. da União Europeia (áreas do Atlântico onde se situam as águas costeiras de Marrocos e da Mauritânia).
Já as descargas ficam limitadas a capturas acessórias (ou acidentais) até 5% do total descarregado por embarcação, em cada maré de pesca.

A medida foi anunciada pela Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), um serviço central da administração direta do Estado, com autonomia administrativa, que tem por objetivo executar as políticas de pesca e a preservação dos recursos.
Novas quotas conhecidas no início de 2026
A mais recente quota anual para o tamboril em Portugal foi definida em 2024 em 739 toneladas, representando um aumento de 7% em relação a 2023.
A quota de pesca é crucial para a sustentabilidade do ecossistema marinho e para a regulamentação da atividade pesqueira. O tamboril é a espécie-alvo de pescarias de arrasto do fundo e pesca fantasma (redes abandonadas), com um impacto significativo na sua população.
Os efeitos da sobrepesca na diminuição da espécie
Durante mais de uma década, entre 1987 e 1999, os limites totais admissíveis de captura (TAC) fixados para esta espécie foram muito elevados (10 mil a 13 mil toneladas) e não restringiram a pescaria.
O tamboril é mais comum no Atlântico Nordeste (do Mar de Barents até o Estreito de Gibraltar) e no Mar Mediterrâneo. Embora a nível global, o seu estatuto de conservação seja considerado pouco preocupante, esta classificação pode variar, consoante a zona e ou a subespécie em causa.
Nas águas europeias, as zonas de maior pressão da pesca do tamboril concentram-se no Atlântico Nordeste, abrangendo as águas que circundam a Península Ibérica. A costa da Escócia, o Mar do Norte e o Mar Adriático também são áreas sensíveis, com as autoridades nacionais a aplicar todos os anos medidas restritivas.
É preciso moderar o apetite
Para os que ficaram inconsoláveis com os condicionamentos impostos à pesca do tamboril, convém lembrar que as limitações são temporárias. Enquanto aguarda pelo fim das medidas saiba, já agora, que pode substituir esta espécie por garoupa, cherne ou safio, obtendo pratos igualmente deliciosos.

Mas, por mais que se aprecie pratos à base de peixe, é preciso moderar o apetite. Portugal está entre os maiores apreciadores, o segundo da Europa e o terceiro no Mundo, consumindo mais de 55 kg por ano e por habitante, o que contribui para a pressão de pesca e pode tornar a captura de espécies como o tamboril mais preocupante.
Referências da notícia
Aviso 95% e fecho da pesca dirigida ao tamboril - ANF/8C3411 – DGRM
Aprovadas as quotas de pesca para 2025 – DGRM
O Tamboril. O Guia para o Consumo do Pescado – WWF Portugal