Possível foguete da década de 60 retorna à órbita terrestre

Um objeto de pequenas dimensões entrou na órbita terrestre em setembro último. Aquilo que parecia um pequeno asteroide veio a revelar-se um resquício do programa espacial norte americano da década de 60. Fique a saber tudo connosco!

Foguete da NASA.
Foguete espacial descola de território norte americano em direção ao espaço.

Um dos telescópios de reconhecimento que orbitam o nosso planeta descobriu um objeto de pequenas dimensões, relativamente próximo da Terra, com uma trajetória peculiar. Aquando da sua descoberta, os especialistas acreditaram tratar-se de um asteroide a orbitar o Sol. Com base nisto, o objeto foi batizado pelo Minor Planet Center da União Astronómica Internacional, localizado em Cambridge, Massachusetts como “2020 SO”.

No entanto, cientistas californianos do Centro de Estudos de Objetos Próximos da Terra (CNEOS, na sigla em inglês) e do Jet Propulsion Laboratory ao analisarem a trajetória peculiar do objeto levantaram algumas dúvidas acerca veracidade do asteroide. A órbita do 2020 SO era demasiado semelhante à da Terra para ser um simples asteroide. Normalmente, os asteroides têm órbitas que são mais alargadas e inclinadas do que a órbita terrestre.

As próximas aproximações à Terra vão servir para comprovar (...) se o 2020 SO é um dos milhares de objetos deixados no espaço, resultantes da exploração espacial.

Uma análise mais profunda dos dados permitiu ainda compreender que a radiação solar desempenhou (e continua a desempenhar) um papel importante na trajetória do 2020 SO. Ou seja, algo que não é comum quando se trata de um verdadeiro asteroide. A radiação solar, tem um maior nível de interferência na trajetória de objetos ocos (de baixa densidade), em relação aos objetos sólidos (mais densos). Por exemplo, uma lata vazia é mais facilmente empurrada pelo vento do que pedra de pequenas dimensões.

A conjugação de todas estas informações, permitiu aos cientistas compreender que o 2020 SO na verdade aparenta ser um foguete propulsor, utilizado na corrida ao espaço, no contexto da Guerra Fria, durante a década de 60 do séc. XX.

Mas qual a real origem do foguete?

Aparentemente desmascarado o verdadeiro conteúdo do pequeno objeto, é importante clarificar a sua verdadeira origem. De onde teria vindo? Porque é que a Terra o “capturou” agora? A equipa de cientistas anteriormente mencionada acredita que se trata de um foguete propulsor, parte da missão Surveyor 2, que foi lançada em 1966 pelos Estados Unidos da América, no âmbito do programa espacial em vigor à data.

A Surveyor 2 foi a segunda sonda do programa Surveyor, lançada a 20 de setembro de 1966, da base de Cape Canaveral, Florida e tinha como principal objetivo recolher dados da superfície lunar. O objetivo final era contribuir para a chegada do primeiro homem à Lua (missões Apollo), algo que viria a acontecer em 1969. Esta sonda foi projetada para o espaço com a ajuda de um foguete "Atlas-Centaur".

Foi precisamente uma avaria numa parte deste foguete que fez com que a missão tenha fracassado. A Surveyor 2 nunca chegou à Lua em condições, já que no dia 23 de setembro desse ano acabou por se despenhar na superfície lunar. Parte do foguete de propulsão, já gasta, designada “Centaur”, evitou a colisão com a Lua e desapareceu numa órbita desconhecida à volta do Sol.

Analisando as datas dos lançamentos espaciais, a estrutura do CNEOS compreendeu que o objeto 2020 SO pode perfeitamente ser o foguete Centaur que se tinha irremediavelmente perdido em 1966.

Este objeto vai permanecer na nossa órbita durante os próximos quatro meses, até março de 2021, altura em que se vai “desprender” para uma órbita solar. Estes meses e as próximas aproximações à Terra vão servir para comprovar, com mais exatidão, se o 2020 SO é um dos milhares de objetos deixados no espaço, resultantes da exploração espacial.