Évora lidera projeto europeu de dessalinização solar e valorização de salmouras

O projeto SolH20 visa criar na cidade alentejana um laboratório vivo de tecnologias inovadoras, que possam vir a ser adotadas na Europa.

Igreja de Santo António, Évora
A paisagem semiárida e a elevada exposição solar fizeram de cidade de Évora o lugar ideal para desenvolver e testar tecnologias inovadoras em ambientes reais. Foto: Pedro Paulo Palazzo - Igreja de Santo António, CC BY-SA 2.0, via Wikimedia Commons

Évora é uma das cidades portuguesas mais antigas, com raízes no período Neolítico e na Antiguidade. O seu longo passado não invalida, porém, que também possa estar entre as mais inovadoras da Europa.

É isso mesmo que se pretende demonstrar com o projeto europeu pioneiro Sol2H2O. A iniciativa, financiada pelo programa Horizon Europe, instalou nesta cidade um piloto experimental no domínio da dessalinização solar e valorização de salmouras.

O intuito é fazer da cidade um laboratório experimental de tecnologias combinadas para usar a energia solar na produção de água potável a partir do mar, recuperando as descargas de salmoura (água residual concentrada em sal) e preservando os ecossistemas marinhos.

Soluções inovadoras para dois grandes desafios

Perante as alterações climáticas, a Europa enfrenta dois desafios distintos: a descarbonização da economia e a preservação dos seus recursos hídricos. São urgências distintas, mas profundamente interligadas pelo seu impacto na sustentabilidade, na resiliência e no futuro dos europeus.

Localizada nas instalações da INIESC – Infraestrutura Nacional de Investigação em Energia Solar de Concentração, na Universidade de Évora, o Sol2H2O irá abordar estes dois desafios em simultâneo, procurando soluções inovadoras que possam vir a ser adotadas no continente europeu.

O projeto Sol2H20, financiado pela UE, visa reunir uma equipa experiente de investigadores e parceiros europeus especializados em tecnologias de energia solar e hídrica para desenvolver estratégias para novos processos de dessalinização de água em circuito fechado.

As temperaturas elevadas e o clima semiárido da região tornam a cidade de Évora o lugar ideal para desenvolver e experimentar tecnologias inovadoras em ambientes reais de escassez de água e de grande exposição solar.

instalações da INIESC, na Universidade de Évora
O piloto está a decorrer nas instalações da INIESC, na Universidade de Évora, contando com a colaboração de institutos espanhóis e italianos. Foto: Sol2H2O/Universidade de Évora

O sistema irá, por isso, testar e operar várias tecnologias, como a osmose inversa e a destilação por membrana, bem como avançar com a recuperação seletiva de sais através de reatores de precipitação química.

Fechar o ciclo sem danos colaterais

Embora a água salgada seja um recurso abundante, a dessalinização implica ainda grandes consumos de energia e rejeição de resíduos de salmoura com elevados impactos ambientais.

Nas últimas décadas, têm sido desenvolvidas tecnologias que combinam energia solar fotovoltaica com os processos de osmose inversa, bem como soluções a envolver calor térmico e processos de destilação.

O que falta, porém, são formas eficientes de integrar e valorizar a salmoura descartada para o mar. No fundo, trata-se de desenvolver estratégias para fechar o ciclo e minimizar o impacte ambiental.

A integração de tecnologias inovadoras do Sol2H2O tem como finalidade criar um sistema de dessalinização solar líquida zero (ZLD) - um esquema de economia circular com a produção de água doce e a recuperação de recursos valiosos a partir dos resíduos obtidos com o processo.

mar e por do sol
Integrar e valorizar a salmoura descartada para o mar é o grande desafio da dessalinização que o Sol2H2O quer resolver através de energia solar e inovadoras. Foto: domínio público via Pixnio

O piloto inclui sensores e sistemas de recolha de dados que simulam diferentes cenários operacionais para otimizar os processos e recuperar a água e efluentes salinos, transformando-os em novos recursos.

Uma oportunidade para o Alentejo

O projeto, segundo a Universidade de Évora, traz vantagens diretas para o Alentejo, ao reforçar a capacidade científica e técnica em várias áreas cruciais como a água e a energia.

O que se espera é que esta iniciativa possa atrair parcerias nacionais e internacionais, formar estudantes e investigadores em tecnologias inovadoras e ainda dinamizar atividades com a comunidade e empresas da região.

Além deste piloto, o projeto inclui ainda o desenvolvimento de um fotocatalisador solar destinado a melhorar a eficiência dos processos de fotocatálise na degradação de poluentes em águas residuais. Esta vertente complementa a abordagem integrada do Sol2H2O e reforça a aposta em soluções sustentáveis baseadas na energia solar.

A primeira fase já arrancou com o teste dos equipamentos que estão a ser realizados em colaboração com as equipas da Universidade de Palermo, em Itália, do Instituto Tecnológico de Canárias e da Plataforma Solar de Almería, em Espanha.

Referência da notícia

SOLH2H20 – Solar-Water Energy Nexus