Eucalipto floresce em Portugal há mais de 150 anos. Livro “Conhecer o Eucalipto” apresentado na Feira do Livro de Lisboa
A obra, que envolveu autores e contributos publicados de diversos especialistas e entidades, explica o que é o eucalipto globulus. O objetivo é responder às dúvidas mais comuns e contribuir para um debate mais informado sobre esta espécie florestal.

A floresta é a maior ocupação do solo em Portugal, numa extensão de mais de três milhões de hectares.
De acordo com o último Inventário Florestal Nacional (IFN6), do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que foi apresentado em novembro de 2019, a floresta ocupa 36% do solo nacional (Continente + Regiões Autónomas). Esta é a principal ocupação do solo, seguida de matos e pastagens (31%) e agricultura (24%).
As espécies florestais autóctones constituem 72% da floresta nacional. Um terço da floresta corresponde aos montados de sobro (Quercus suber) e azinho (Quercus ilex), a formação florestal com maior expressão no território.

Mas é preciso dizer que o 6.º Inventário Florestal Nacional, que diz respeito a dados recolhidos em 2015, já estava desatualizado quando foi trazido a público. E que o processo de caracterização da floresta é baseado na recolha de dados com intervalos de 10 em 10 anos (imagens aéreas e medições da vegetação no terreno) e é um processo complexo.
Incêndios de Pedrógão e Monchique em 2017
Durante esse intervalo de tempo, os ecossistemas vão-se alterando em função de dinâmicas naturais e de fenómenos como incêndios ou pragas e doenças. Os incêndios rurais de 2017 (incluindo Pedrógão Grande) e de 2018 (Monchique), são dois fenómenos cuja destruição provocada fez alterar os dados de ocupação florestal e a sua distribuição por espécies.
O eucalipto é uma espécie florestal natural da Austrália. Foi trazido para Portugal no século XIX. O livro “Conhecer o Eucalipto”, promovido pela The Navigator Company, que esta semana foi apresentado na Feira do Livro de Lisboa, quer “promover a literacia sobre a floresta e desmistificar perceções sobre esta espécie florestal".
Esta obra de divulgação científica, embora escrita numa “linguagem acessível e clara”, foi “pensada para o público em geral”, refere a The Navigator Company em comunicado.
A obra "Conhecer o Eucalipto" resulta de um trabalho coletivo que envolveu autores e contributos publicados de diversos especialistas e entidades, entre as quais: a Biond, a Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), a ERENA – Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais e o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV).
Também estiveram envolvidos o Instituto Politécnico de Viana do Castelo, o Instituto Superior de Agronomia (ISA), o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), o Laboratório Nacional de Energia e Geologia, o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, a Universidade Católica Portuguesa, a Universidade de Coimbra, a Universidade de Lisboa e a The Navigator Company.
Outro tema central abordado é o da biodiversidade. “A obra analisa em que condições a presença do eucalipto pode afetar a diversidade biológica e destaca o papel determinante da gestão florestal”, refere a empresa que é liderada por António Redondo.
Paisagens em mosaico
São também mostradas práticas silvícolas consideradas “adequadas” e que “podem reduzir impactos negativos e até potenciar a coexistência com outras espécies, em paisagens em mosaico devidamente organizadas”.

Por fim, surgem “os muitos dos desafios que hoje se colocam à floresta portuguesa” e que, de acordo com os autores do livro, “não têm origem exclusiva nas espécies que a compõem, mas sim na ausência de gestão, na falta de escala, no abandono prolongado dos territórios rurais e na falta de ordenamento florestal”.
Defendem, por isso, que a gestão ativa e planeada da paisagem é “uma das principais respostas para garantir resiliência, sustentabilidade e valorização dos espaços florestais”.
Na reta final do livro "Conhecer o Eucalipto", também é deixado um repto aos leitores, que são “convidados a olhar para o futuro e a refletir sobre o papel que o eucalipto pode ter numa economia mais verde”, percebendo também que produtos sustentáveis podem nascer a partir desta árvore e, ainda, que papel Portugal pode assumir na construção de uma floresta produtiva, equilibrada e bem gerida.
“Em vez de posições polarizadas — a favor ou contra determinadas espécies — o livro propõe um debate informado, centrado na gestão responsável da floresta e na valorização do território”, refere a The Navigator Company.
Por essa razão a obra termina com uma reflexão sobre o "equilíbrio necessário entre produção, conservação e sustentabilidade".