Espécie de fungo azul, a única no mundo, é descoberta por investigadores no Brasil

O único exemplar desta nova espécie foi encontrado por investigadores no estado de Santa Catarina, a mais de 1.000 metros de altitude, e tem tamanho de, no máximo, dois centímetros.

Fungo azul (Microglossum azeurum)
Fungo azul (Microglossum azeurum) encontrado em Urubici, na serra catarinense. Crédito: Luís Adriano Funez/PELD BISC.

Uma nova espécie de fungo azul extremamente raro foi descoberta por investigadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Urubici, uma cidade do estado de Santa Catarina. A espécie foi encontrada no meio de uma densa floresta e pertence a um género que ocorre muito pouco no Brasil. Veja mais informações aqui.

A descoberta do fungo azul

A descoberta foi feita pelo investigador Luís Adriano Funez, da UFSC, e pela sua equipa, a mais de mil metros de altitude na serra catarinense. O fungo de cor azul reluzente foi chamado de Microglossum azeurum, e tem, no máximo, dois centímetros. É o único exemplar encontrado até hoje em todo o mundo.

“Encontramos num ambiente, mas um único exemplar. A gente não faz ideia de onde mais ele pode ocorrer. Vasculhamos tudo ao redor ali por meses e não achamos mais nada. Nem no mesmo momento achamos outro fungo”, disse Funez.

O Microglossum é um género de fungo raro, de cores brilhantes, e embora relativamente comum no Hemisfério Norte, existem pouquíssimas coleções na América do Sul. No Brasil, são conhecidas algumas espécies de Microglossum, mas a Microglossum azeurum descoberta em Urubici é única no mundo, não correspondendo a nenhuma espécie conhecida.

Na verdade, a descoberta aconteceu em 2020, durante uma atividade de levantamento da diversidade de macrofungos nas áreas que compunham a experiência. Mas durante os últimos quatro anos, os investigadores organizaram as informações necessárias para determinar que se tratava de uma nova espécie, e publicaram a descoberta na revista Phytotaxa.

Foram feitas visitas regulares a cada uma dessas áreas, e os fungos que cresciam lá foram fotografados, recolhidos e desidratados para estudar a sua morfologia e material genético. “É bem difícil de identificar, muitas vezes, estes fungos sem análise de DNA. Então a gente cortou, fez as análises microscópicas, demos uma olhada na bibliografia de forma geral e não encontramos nada que batesse bem com essa espécie", comentou Funez.

Fungo azul (Microglossum azeurum)
Fungo azul no meio da vegetação da mata em Urubici, Santa Catarina. Crédito: Luís Adriano Funez/Divulgação.

"Fomos para a análise de DNA. Mandamos sequenciar uma fração do DNA desse fungo e aí, quando voltou a sequência, é um processo um pouco trabalhoso, tivemos a certeza. Conseguimos montar o que a gente chama de filogenias moleculares, que são agrupamentos de espécies de acordo com semelhanças no DNA delas. Ele separou muito bem das outras espécies. Confirmamos que é uma espécie nova”, disse Funez.

Porém, a raridade do fungo atrapalha um pouco os estudos. "É um evento extremamente raro. Isso aí é muita, muita sorte mesmo se alguém achasse isso novamente, então fica muito difícil de conseguir fazer estudos de campo em cima de uma espécie de fungo assim", comenta Funez.

Os fungos são organismos que têm várias funções no ecossistema, como decompositores de matéria orgânica. “Os fungos são basicamente o motor de transformação da matéria nos ecossistemas. Microglossum, acredita-se que sejam decompositores de material particulado no solo, ou seja, reciclam a matéria morta, transformando-a em nutrientes vitais para a fertilidade do mesmo, de forma a nutrir a vida vegetal”, finaliza Funez.

Referências da notícia:

Funez, L A. et al. New species of Microglossum (Leotiales: Leotiomycetes) from Brazil. Phytotaxa, v. 637, n. 1, 2024.

UFSC. “Pesquisadores da UFSC identificam nova espécie de fungo na Serra Catarinense”. 2024.