Ano insólito na Sibéria

A região russa da Sibéria registou um ano anormalmente quente e seco. De julho de 2019 a junho de 2020, a temperatura média subiu cerca de 10°C. Serão consequências das alterações climáticas? Saiba tudo aqui, connosco!

Irkutsk, Sibéria.
Uma cidade, tradicionalmente fria, a receber radiação solar.

O serviço europeu Copernicus (Copernicus Climate Change Service ou C3S, em inglês), revelou os resultados da análise climática do passado mês de junho e dos 12 meses anteriores. Em termos globais, a temperatura foi 0.65 °C superior em relação à média de 1981-2010. De salientar que analisando o ano civil de 2016, a temperatura desse ano superou a média em 0.63 °C, e o 2019 superou também a média em 0.59 °C, valores muito próximos daqueles que foram divulgados para os últimos 12 meses.

As regiões Árticas da Sibéria estão a aquecer muito mais depressa do que o restante planeta.

Esta análise revela-se particularmente preocupante em algumas áreas do globo, já que no último ano, comparando com a normal climática de 1981-2010, os valores foram superiores em toda a Europa e em praticamente todo o planeta. Nas áreas de latitudes superiores, tanto no Hemisfério Norte como no Hemisfério Sul, foi onde se registaram as maiores variações. O Norte do Alasca, áreas dos Oceanos Ártico e Antártico bem como toda a Sibéria registaram temperaturas muito acima da normal climática 1981-2010.

A região siberiana é uma das mais afetadas, na análise da temperatura média e dos extremos, segundo os dados que foram disponibilizados pelo Copernicus. É uma vasta região, em termos de longitude e latitude, onde se têm verificado alguns problemas associados ao aumento das temperaturas. No passado junho registaram-se, em algumas áreas da Sibéria, temperaturas máximas na ordem dos 37-38ºC. Alguns peritos acreditam que 2020 será o ano mais quente, desde que há registos.

Na cidade russa de Verkhoiansk, localizada acima do Círculo Polar Ártico, na Sibéria Oriental, a cerca de 4700 km da capital Moscovo, foi registado no dia 20 de junho, um pico de temperatura de 38°C, no que se crê ser o valor de temperatura mais elevado registado àquela latitude. Nesta área, a diferença entre os valores de temperatura média dos últimos anos e os valores registados em junho cifrou-se nos 10°C. As regiões Árticas da Sibéria estão a aquecer muito mais depressa do que o restante planeta.

Porque acontecem estas anomalias?

Segundo os cientistas europeus, as temperaturas anormalmente elevadas na região siberiana estão ligadas a vários fatores interligados entre si, nos quais se podem destacar a força e a direção dos ventos, o aumento da incidência de incêndios florestais, a fraca cobertura de neve na superfície terrestre e o degelo no Oceano Ártico.

A fraca cobertura de neve e/ou gelo afeta a temperatura registada, porque altera o albedo. O albedo é a proporção de radiação solar refletida por um corpo em relação ao total de energia que nele incide. O valor do albedo é muito superior em materiais como gelo e neve, ou seja, em áreas de cor clara e superfícies lisas, o total de energia refletida é muito elevado.

No entanto, quando esta situação se alterou, quando o coberto de neve característico da Sibéria se viu reduzido, devido ao último inverno anormalmente seco, o albedo diminuiu, favorecendo a absorção de energia da radiação solar, promovendo igualmente o aquecimento.

Foi, ainda, registado, nos últimos 12 meses, um elevado número de incêndios florestais, associados à diminuição da humidade relativa e dos solos. Só na primeira metade de 2020, estes eventos já emitiram mais CO2 para a atmosfera que na totalidade do ano de 2019. Tendo em conta a análise da evolução destes fatores, é bastante provável que os recordes de temperatura continuem a ser batidos nos próximos 5 anos.