Um “rio atmosférico” vai atingir Portugal e haverá um dilúvio!

A esperada mudança para os últimos dias do mês vai resultar num poderoso episódio de chuva no fim de semana de Todos os Santos. Atingirá com intensidade o país inteiro, embora com significativas variações regionais. Saiba aqui todos os detalhes!

Rio atmosférico; Portugal; chuva
A travessia pelo Atlântico subtropical conferirá à massa de ar uma enorme quantidade de humidade. A chuva será forte na faixa costeira atlântica, e existe risco de trovoadas dispersas.

Ao longo dos últimos dias o anticiclone foi garantindo uma atmosfera estável em praticamente todo o território continental, embora com algumas nuvens em pontos do litoral e neblinas em vales. Mesmo as temperaturas, têm estado, no cômputo geral de outubro, acima da média, apesar do contraste térmico evidente que já se vai verificando entre máximas e mínimas diárias. Este panorama meteorológico vai mudar drasticamente durante os próximos dias, e em especial, no final de semana que antecede o feriado de Todos os Santos – 28 a 31 de outubro.

Mas afinal, o que é um “rio atmosférico”?

O ar quente consegue armazenar uma quantidade muito maior de água sob a forma de vapor do que o ar frio, quase quatro vezes mais para uma massa de ar a 20 ºC do que para outra a 0 ºC. Deste modo, se uma massa de ar temperada, proveniente de latitudes subtropicais percorre uma enorme distância ao longo de um oceano quente, irá obter um gigantesco teor de humidade, com potencial de gerar precipitação muito forte.

Uma massa de ar temperada de origem subtropical vai provocar um episódio de chuva abundante e persistente.

Quando as tempestades das médias latitudes descem em latitude no outono, possuem a capacidade de arrastar consigo enormes massas de ar pelo oceano Atlântico para, mais tarde, esticá-las e fazer com que estas subam em latitude, assemelhando-se a grandes línguas ou rios atmosféricos, bem visíveis nos mapas de água precipitável e humidade. Por vezes, incidem na Europa Ocidental, originando episódios de chuva significativos.

Como o anticiclone se vai deslocar para o interior da Europa, modificando por completo a atual configuração sinótica, deixará ‘via aberta’ para uma advecção (deslocação de uma massa de ar no sentido horizontal) do Sudoeste com um grande percurso pelo mar através do Atlântico subtropical, trazendo consigo um colossal rio atmosférico carregado de humidade. O conteúdo de humidade da massa de ar será, por isso, bastante maior do que noutro tipo de advecções, pelo que se prevê que a chuva associada às frentes que nos irão atravessar nestes próximos dias seja abundante e generalizada.

A primeira frente chegará à vertente atlântica do litoral Norte de Portugal continental, impactando, grosso modo, o Minho e Douro Litoral ao fim da tarde desta próxima quinta-feira (28). Mesmo assim, já será ativa o suficiente para deixar mais de 40 l/m2 no distrito de Braga, sendo difícil de alcançar esses valores noutras regiões próximas que deverão registar até à meia-noite - entre quinta e sexta-feira - metade desse valor de precipitação acumulada.

Contudo, a partir da 1h da madrugada de sexta-feira a chuva expandir-se-á com intensidade fraca ou localmente moderada para todas as restantes regiões do país. Nenhuma região de Portugal continental irá, portanto, escapar à precipitação. Este temporal também irá afetar o Arquipélago dos Açores, com chuvas moderadas e ventos fortes entre sexta e domingo, não se descartando o risco de trovoada.

A chuva vai intensificar no fim de semana

No sábado atingir-nos-á uma segunda frente, muito mais forte, que dará passagem ao possante rio de humidade, proveniente de latitudes subtropicais. Nesta ocasião, a chuva será ainda mais abundante e generalizada, atingindo novamente toda a geografia continental. Serão boas notícias possivelmente para o Sul português, à data de hoje, algo punido pela seca meteorológica, especialmente no Alentejo e Barlavento Algarvio.

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Nas áreas assinaladas a vermelho-escuro, a precipitação poderá localmente ultrapassar os 200 litros por metro quadrado.

Assim, o “rio atmosférico” atuará como uma espécie de combustível que alimenta estas situações de chuva persistente, reativando várias frentes e linhas de instabilidade que percorrerão o país no sábado, domingo e segunda-feira, deixando enormes quantidades de precipitação. Não esquecer também as fortes rajadas dos ventos ábregos (do sudoeste) que poderão causar estragos em várias regiões.

O risco de inundações é grande, dado que os acumulados de chuva previstos, serão bastante consideráveis no Minho, Douro Litoral e Beira Litoral, bem como noutras áreas, representadas por manchas a vermelho no mapa de precipitação acumulada. Em todas estas regiões deverão cair quantidades perto dos 150 l/m2, ou até mais, durante o fim de semana, não se descartando que, de forma local, se possa atingir ou até superar os 200 l/m2. Nesses sítios, terá de existir especial vigilância com o caudal dos rios e ribeiros que poderão mudar subitamente, transbordando numa questão de poucas horas.

A chuva acumulada localmente nos próximos dias poderá ultrapassar os 200 l/m2 nos distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto e Aveiro, e em partes dos de Vila Real e Viseu.

Nas restantes regiões do país, a chuva não será tão persistente, mas mesmo assim será frequente e intensa. Estão previstas quantidades de chuvas próximas ou algo superiores aos 50 l/m2 em boa parte da faixa costeira atlântica, não sendo tão expressivas no interior.