Tempo em Portugal em setembro: “ou seca as fontes, ou leva açudes e pontes”, eis a previsão!

Estamos prestes a entrar no primeiro mês do outono climatológico. É nesta época que aparecem as primeiras depressões atlânticas, o tempo mais fresco e até mesmo gotas frias. Como se prevê setembro em Portugal?

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Em setembro, "ou seca as fontes, ou leva açudes e fontes". O que se prevê em Portugal nas próximas semanas?

Para as disciplinas da Meteorologia e da Climatologia, setembro está convencionalmente definido como o primeiro mês do outono, apesar de que em várias regiões de Portugal continental- sobretudo no interior e no Algarve - costuma ser um prolongamento do verão.

No entanto, nestas datas setembrinas já é normal produzirem-se as mudanças típicas desta época de fim de verão/pré-outono. O anticiclone já não se apresenta tão robusto e os centros de ação exibem uma maior mobilidade, permitindo a chegada mais frequente de depressões isoladas em altitude (gotas frias); e/ou a aproximação das primeiras depressões atlânticas ao nosso país.

Tudo isto provoca um estado do tempo mais variável e instável. E aliás, tudo aponta para que isto aconteça muito em breve, na transição de agosto para setembro.

A climatologia de setembro: “Ou seca as fontes ou leva as pontes”

O provérbio acima exposto é um dos mais famosos e resume na perfeição aquilo com que podemos deparar-nos habitualmente em setembro. Há anos em que setembro é bastante chuvoso na generalidade do território continental, ora por causa de depressões atlânticas, ora por causa de gotas frias, sendo que estas últimas, quando surgem podem, por vezes, produzir chuva irregular mas extremamente forte e com possíveis consequências catastróficas.

Todos nos podemos recordar das chuvas torrenciais e inundações ocorridas em Portugal continental em setembro de 2021.

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A desigual distribuição e intensidade das chuvas de setembro poderá contribuir para um agravamento ainda maior das regiões onde a seca é mais grave.

Mas, há outros anos em que a nossa geografia fica exposta a um evidente prolongamento do verão, daí o “seca as fontes”, com o tempo seco a poder agravar substancialmente a situação de seca. Além disto, realce-se um pormenor importante: a chuva pré-outonal pode assumir um carácter irregular, localizado e muito forte, pelo que é extremamente difícil que uma seca como a atual seja totalmente debelada, especialmente nas regiões em que se apresenta na classe de seca severa ou extrema.

Em relação à temperatura, o valor médio nas regiões do interior de Portugal continental costuma descer cerca de 3/4 ºC comparativamente a agosto, sendo que no litoral e nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, a descida térmica é menor graças ao efeito termorregulador do oceano. É também neste mês que os dias vão ficando gradualmente mais curtos, pelo que as noites são mais frescas, de um modo geral.

Ainda assim, há dias que podem ser equiparáveis a um “veranico” (equiparável por exemplo ao verão de São Martinho em novembro), período de tempo curto em que o calor pode intensificar-se.

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Vislumbra-se que a semana de 11 a 18 de setembro seja a mais quente do mês em Portugal continental.

Setembro mais quente do que o normal? Sim, mas com variações semanais e contrastes regionais

Segundo o nosso modelo de confiança (ECMWF) e o mapa concebido no Departamento de Meteorologia da Meteored, à data de hoje, as temperaturas vão exibir valores acima da média em praticamente todo o território do Continente na globalidade do mês de setembro. Contudo, são esperadas exceções que devem ser mencionadas. No período até 4 de setembro, espera-se temperaturas abaixo da média e no período até 11 de setembro prevê-se temperaturas dentro do normal.

Após os primeiros dez dias de setembro, a incerteza aumenta significativamente, mas os primeiros indícios sugerem muito calor para a semana de 11 a 18 de setembro, “denunciado” por uma evidente anomalia térmica positiva de norte a sul de Portugal continental. Atualmente, estão previstos entre 1 ºC e 3 ºC acima da média, para essa semana, no Minho, Douro Litoral, Alto Tâmega e Douro, Nordeste Transmontano, Viseu Dão Lafões, Beira Alta, Beira Baixa e Baixo Alentejo, algo que também se aplica ao Grupo Ocidental dos Açores.

Primeira quinzena de extremos, a iniciar bastante fresca mas a terminar muito quente. Segunda quinzena com anomalias térmicas mais suaves, mas geralmente mais quente, tanto em Portugal continental, como nos Açores e na Madeira.

A anomalia térmica positiva será mais suave - isto é - prevê-se até 1 ºC acima da média climatológica no resto do país, quase todas as ilhas dos Açores e Madeira. As únicas exceções serão os distritos de Leiria, Lisboa e Faro, áreas onde se prevê temperaturas normais.

Para a segunda quinzena de setembro, não se vislumbram anomalias tão significativas como na primeira. No entanto, tanto para o Continente, como para os Açores e para a Madeira são esperadas, de um modo geral, temperaturas ligeiramente acima da média (1 ºC), com algumas regiões portuguesas a registarem valores normais.

Possibilidade de chuva acima da média em quase todo o país

É importante salientar o seguinte: setembro é um dos meses mais complexos para a elaboração de previsões a longo prazo no que toca à chuva, dado que a precipitação pode ser extremamente irregular e intensa (gotas frias, com trovoada) ou mais contínua, mas igualmente impactante (depressão atlântica), ou até mesmo nem existir de todo. Para estes primeiros dias de setembro de 2023 vislumbra-se instabilidade em boa parte do país devido ao provável aparecimento de uma gota fria.

Para os primeiros 11 dias do mês, prevê-se anomalia de precipitação positiva de norte a sul de Portugal (até 10 mm acima da média em quase toda a geografia do Continente, bem como na Madeira entre os dias e 4 e 11). Pelo contrário, os Açores, neste período, deverão registar tempo mais seco do que o normal. Isto não quer dizer que não vai chover nas Ilhas, simplesmente que a chuva cairá em quantidades inferiores à normal climatológica de referência.

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O mapa de anomalia de precipitação da Meteored antecipa, para o mês de setembro, entre 5 e 10 mm de chuva acima da média em grande parte do território de Portugal continental.

Do dia 11 em diante, como já se sabe, a incerteza na previsão aumenta consideravelmente. As primeiras tendências sugerem, para o período entre 11 e 18 de setembro, uma anomalia de precipitação negativa - ou seja precipitação inferior à média - na faixa costeira desde Viana do Castelo até ao Algarve e também nos Açores, esperando-se valores de chuva normais no resto do Continente. Pelo contrário, para a Madeira prevê-se até 10 mm acima do habitual.

No cômputo geral, a anomalia de precipitação em setembro em Portugal continental prevê-se positiva, podendo ser mais significativa (10 a 20 mm acima da média) em pontos dos distritos de Castelo Branco, Coimbra, Santarém e Portalegre.

De 18 de setembro até ao fim do mês, os mapas sugerem a continuidade da chuva em Portugal continental, embora desigualmente distribuída pelas várias regiões do país, o que denuncia a possibilidade da chegada de mais gotas frias às proximidades da Península Ibérica. Quanto aos Açores, para já não se preveem valores anómalos na segunda metade de setembro. A Madeira poderá viver uma segunda quinzena de contrastes, com uma semana possivelmente mais húmida (25 setembro - 2 outubro) do que a outra (18-25 setembro).