Cultivar frutas em climas frios: as melhores escolhas e cuidados

10 árvores de fruto que suportam o inverno de Portugal e garantem uma colheita de sucesso. Saiba mais aqui!

Um pomar em Portugal Continental exige uma compreensão refinada da nossa geografia.

Este artigo destaca as árvores de fruto que têm sucesso em "climas frios", esta vai depender da escolha de variedades "resistentes ao frio" (cold-hardy), neste sentido, foram selecionadas algumas das espécies que não apenas sobrevivem ao gelo, mas prosperam nele. Ter em atenção que em Portugal Continental dependerá sempre da localização da mesma, por exemplo em Trás-os-Montes, Norte Interior (geadas tardias na primavera e verões muito secos), grande parte sentir-se-á em casa.

Cultivar um pomar em Portugal Continental exige uma compreensão refinada da nossa geografia, especialmente quando nos deslocamos para o Interior Norte e para as Beiras.

Nessas regiões, o desafio não é apenas a sobrevivência ao inverno, mas sim a gestão das "horas de frio" — aquele período essencial abaixo dos 7°C que permite à árvore descansar para depois florescer com vigor.

1. O Castanheiro (Castanea sativa)

O Castanheiro, exige altitude e solos ácidos para prosperar. Variedades como a Judia ou a Longal não só suportam temperaturas negativas extremas, como dependem desse rigor para produzir frutos com a textura e o sabor que as tornam célebres.

O Castanheiro, exige altitude e solos ácidos para prosperar.

É fundamental garantir que o solo tenha uma excelente drenagem, uma vez que esta espécie é particularmente sensível à "doença da tinta", um fungo que ataca as raízes em terrenos onde a água fica estagnada. No momento da plantação, deve-se prever um espaço generoso, com cerca de 8 a 10 metros entre árvores, pois a sua copa monumental desenvolver-se-á ao longo de décadas, culminando numa colheita farta entre outubro e novembro.

2. A Nogueira (Juglans regia)

A Nogueira surge como uma escolha estratégica para o interior, pois a sua floração tardia protege-a das traiçoeiras geadas de abril que frequentemente assolam a região. Esta árvore exige solos profundos para acomodar a sua raiz pivotante e possui uma particularidade química: produz juglona, uma substância que pode inibir o crescimento de outras plantas vizinhas. Por isso, o planeamento do espaço é vital para que a colheita, realizada entre setembro e outubro, seja o culminar de um ciclo de crescimento sem competição externa.

3. A Cerejeira (Prunus avium)

As cerejeiras, especialmente as linhagens adaptadas ao ecossistema do Fundão, são autênticas máquinas de frio que transmutam o gelo na doçura de frutos como a Saco de Cova da Beira.

Para o sucesso deste cultivo, o solo deve ser leve e nunca "encharcado", prevenindo a asfixia radicular e doenças fúngicas como a moniliose, que apodrece os ramos.

A cerejeira floresce com o vigor acumulado no inverno, oferecendo os seus frutos entre maio e julho, dependendo da altitude da plantação.

4. A Macieira Bravo de Esmolfe

No campo das maçãs, nenhuma árvore representa melhor a resiliência nacional do que a Macieira Bravo de Esmolfe. Esta variedade DOP, originária da Beira Alta, utiliza o frio intenso para concentrar os seus açúcares e desenvolver o seu aroma inconfundível, florescendo onde muitas variedades comerciais falham.

A macieira bravo esmolfe utiliza o frio intenso para concentrar os seus açúcares e desenvolver o seu aroma inconfundível.

Embora seja uma árvore de crescimento mais lento e que demore alguns anos a entrar em plena produção, a sua longevidade e a resistência dos frutos compensam a espera. As maçãs colhidas em setembro têm a capacidade única de serem armazenadas durante meses em locais frescos, onde o seu perfume se intensifica gradualmente.

5. A Pereira Parda (Pyrus communis)

A Pereira Parda é uma sobrevivente nata, caracterizada pela sua pele rugosa e castanha que funciona como um escudo natural contra o frio e pequenos insetos. Ao contrário das variedades mais sensíveis, esta pereira adapta-se magnificamente aos climas de montanha do Norte de Portugal, onde a geada matinal é uma constante.

A pereira é caraterizada pela sua pele rugosa e castanha que funciona como um escudo natural contra o frio e pequenos insetos.

Os seus frutos, colhidos em outubro, são valorizados pela sua polpa firme, sendo a escolha ideal para a gastronomia regional, especialmente para serem assados ou cozinhados em vinho tinto, mantendo a sua estrutura e sabor mesmo após longas cozeduras.

6. O Marmeleiro (Cydonia oblonga)

Para quem procura um pomar que exija menos mimos, o Marmeleiro é um aliado indispensável. Esta árvore quase indestrutível tolera solos pesados e argilosos que seriam fatais para outras espécies, suportando o gelo persistente com uma facilidade admirável.

Na primavera, oferece uma das florações mais belas de Portugal, mas o cultivador deve ter atenção à poda: os marmelos surgem nas pontas dos ramos novos, pelo que uma poda excessiva pode comprometer a colheita.

Os frutos, colhidos entre outubro e novembro, são o epítome da resistência, transformando-se em conservas que atravessam todo o inverno.

7. A Ameixeira Rainha Cláudia Verde

A Ameixeira Rainha Cláudia Verde prova que a elegância e a força podem coexistir. Esta variedade exige um período de frio significativo para produzir os seus frutos que parecem mel condensado, tornando-se uma escolha de eleição para as Beiras e o Alto Alentejo. O principal desafio técnico prende-se com a colheita em agosto; chuvas fortes e repentinas nesta fase podem fazer o fruto "rachar" devido ao excesso de humidade. Para mitigar este risco, o uso de uma cobertura de palha (mulching) na base da árvore ajuda a manter a humidade do solo constante, protegendo a árvore do calor abrasador que muitas vezes sucede ao frio rigoroso.

8. O Pessegueiro de Vinha

O Pessegueiro de Vinha mantém uma rusticidade ancestral que o distingue dos seus primos comerciais mais sensíveis. Crescendo frequentemente de forma espontânea junto às vinhas do Douro e do Dão, esta árvore resiste bravamente às oscilações térmicas da primavera e apresenta uma resistência natural à "lepra do pessegueiro", uma doença fúngica comum em zonas húmidas.

Esta árvore resiste bravamente às oscilações térmicas da primavera e apresenta uma resistência natural.

Uma vantagem notável para o produtor amador é a sua facilidade de propagação: um pessegueiro de vinha pode ser plantado a partir do caroço, mantendo com frequência a qualidade e a força da planta-mãe, resultando em frutos de polpa firme e sabor intenso colhidos entre agosto e setembro.

9. A Avelaneira (Corylus avellana)

A Avelaneira floresce corajosamente no pico do inverno, quando o resto do pomar ainda dorme profundamente. Por ser uma espécie cuja polinização depende do vento, é recomendável plantá-las em grupos ou sebes para garantir que o pólen circule eficazmente entre as flores.

No interior de Portugal, a avelaneira aprecia a humidade das encostas e deve ser protegida de locais excessivamente secos; se o verão for muito rigoroso, uma localização em meia-sombra garantirá que a planta não sofra stress hídrico.

A colheita das avelãs em setembro completa a diversidade de frutos secos essencial para qualquer despensa de clima frio.

10. O Dióspiro de Inverno

Finalmente, o Dióspiro de Inverno, especialmente em variedades como a Coroa de Rei, encerra o ciclo anual do pomar com um espetáculo visual único. Esta árvore é extremamente rústica e raramente necessita de tratamentos químicos, pois os seus frutos laranjas permanecem nos ramos mesmo após a queda total das folhas, muitas vezes cobertos pela primeira neve. O frio é, na verdade, um aliado, ajudando a eliminar a adstringência natural de algumas variedades. Colhidos entre novembro e janeiro, os dióspiros simbolizam a vitória da natureza sobre o inverno, oferecendo uma fonte de energia doce quando a maioria das outras árvores está em repouso absoluto.

Plantar estas dez variedades entre novembro e fevereiro, enquanto o solo repousa, é garantir que o ciclo da vida se renovará com abundância, transformando o frio do interior numa colheita generosa e cheia de história.

Referências da notícia:

https://florestas.pt/descobrir/arvores-em-flor-no-inverno/ - Florestas

https://www.marthastewart.com/best-fruit-trees-to-grow-in-cold-climates-11863524 - Martha Stewart

https://www.jagarquiteturapaisagista.com/single-post/%C3%A1rvores-aut%C3%B3ctones-em-portugal - Arquitetura Paisagista

https://www.agroportal.pt/arvores-em-flor-no-inverno/ - Agroportal