Viagens exclusivamente femininas: entre o turismo, a identidade e o empoderamento
As viagens exclusivamente femininas afirmam-se no turismo contemporâneo, oferecendo segurança, empoderamento e redes de solidariedade. Fique aqui a saber mais!

O turismo contemporâneo tem-se diversificado significativamente, acompanhando transformações sociais, culturais e de género. Entre estas tendências, as viagens exclusivamente femininas emergem como uma resposta às necessidades específicas das mulheres enquanto viajantes, mas também como um reflexo do crescente protagonismo feminino no espaço público.
Mais do que uma mera modalidade turística, este fenómeno está associado a questões de empoderamento, segurança, pertença e solidariedade, constituindo um campo de estudo relevante para a compreensão das dinâmicas de género no turismo global.
Turismo e género
Tradicionalmente, o turismo foi pensado a partir de uma lógica universalista, desconsiderando especificidades relacionadas com género.
Contudo, diversos estudos em sociologia do turismo evidenciam que as experiências de viagem são mediadas por relações sociais de poder, desigualdade e estereótipos.
As mulheres, por exemplo, enfrentam barreiras adicionais, como preocupações com a segurança, representações culturais limitadoras ou a falta de produtos turísticos desenhados para as suas necessidades.
Neste contexto, surgem as viagens de grupos exclusivamente femininos, organizadas por operadores especializados ou comunidades de viajantes.
Estes formatos permitem repensar não só a prática turística, mas também a forma como as mulheres constroem a sua identidade e redes de apoio através da mobilidade.
Caracterização das viagens femininas
As viagens exclusivamente femininas caracterizam-se pela sua diversidade tipológica, abrangendo desde expedições de aventura (como trekking em montanhas ou desportos aquáticos), até circuitos culturais e retiros de bem-estar.
Um artigo publicado pela National Geographic Traveller (2025) ilustra esta pluralidade, apresentando exemplos que vão desde caminhadas na Snowdonia (País de Gales) até cruzeiros no litoral turco ou roteiros culturais em Cuba.
Contudo há três aspetos principais que podem ser destacados.
- A segurança e o conforto - a partilha de espaços apenas entre mulheres reduz receios de assédio e violência, permitindo uma experiência de viagem mais tranquila;
- O empoderamento coletivo – estes grupos fomentam redes de apoio e solidariedade, valorizando histórias de vida, conquistas e desafios das participantes;
- A valorização da cultura local – muitos programas incluem contacto com mulheres empreendedoras, artesãs ou guias locais, promovendo impacto económico positivo e reforço do papel feminino nas comunidades anfitriãs.
Implicações sociais e culturais
O impacto das viagens femininas ultrapassa o lazer.
Em primeiro lugar, estas experiências contribuem para a reconfiguração das identidades de género, ao desafiar normas sociais que historicamente restringiram a mobilidade feminina.

A possibilidade de viajar em grupo fortalece a perceção de autonomia e liberdade.
Em segundo lugar, observa-se um efeito de transformação cultural tanto nas viajeras como nas comunidades visitadas. O encontro entre mulheres de diferentes contextos potencia o diálogo intercultural e pode estimular práticas de inclusão, nomeadamente através do apoio a negócios locais liderados por mulheres.
Além disso, o fenómeno reflete uma demanda crescente por turismo sustentável e responsável, em que a escolha de operadores que respeitam princípios éticos e de equidade de género se torna parte integrante da experiência.
Desafios e críticas
Apesar dos benefícios, o turismo exclusivamente feminino não está isento de críticas. Uma das preocupações relaciona-se com a sua comercialização excessiva, em que o discurso do empoderamento pode ser apropriado por estratégias de marketing.
Outra questão é a acessibilidade económica, já que muitos pacotes são de elevado custo, limitando o acesso a grupos socioeconómicos mais favorecidos.
Desta forma, as viagens exclusivamente femininas representam um campo fértil de investigação científica, situado na interseção entre turismo, género e empoderamento.
Longe de constituírem apenas um nicho de mercado, estas experiências materializam novas formas de agência e solidariedade feminina no espaço global.
Embora subsistam desafios relacionados com acessibilidade e inclusão, o crescimento deste segmento evidencia a importância de reconhecer as especificidades de género no turismo e de promover práticas que não só satisfaçam as necessidades das mulheres viajantes, mas que também contribuam para transformações sociais mais amplas.
Assim, estudar e fomentar este tipo de mobilidade é contribuir para uma visão de turismo mais equitativa, responsável e atenta às dimensões humanas e culturais que moldam a experiência de viajar.