Sistemas de ar condicionado terão reduzido em um terço a mortalidade devido ao calor na Espanha

Um estudo recente aponta para que os sistemas de ar condicionado tenham contribuído para salvar a vida a milhares de espanhóis entre o final da década de 1980 e o início da década de 2010. Conheça aqui os pormenores!

sistemas de arrefecimento e aquecimento
Estudo revela que sistemas de arrefecimento e aquecimento se podem revelar como medidas adaptativas eficazes para mitigar os efeitos do calor e do frio.

Um estudo liderado pelo Instituto de Salud Global de Barcelona (ISGlobal) aponta que os sistemas de ar condicionado e aquecimento contribuíram consideravelmente para a redução da mortalidade associada a temperaturas extremas em Espanha. As conclusões, publicadas na Environment International, fornecem informações valiosas para a conceção de políticas de adaptação às alterações climáticas.

A investigação recolheu dados sobre mortalidade diária e condições meteorológicas (temperatura e humidade relativa) de 48 províncias de Espanha continental e das Ilhas Baleares. A análise abarcou também 14 indicadores de contexto (variáveis demográficas e socioeconómicas como habitação, rendimento e educação) das populações no mesmo período, por forma a melhor se encontrarem relações entre estes.

Este trabalho analisa o espaço temporal compreendido entre janeiro de 1980 e dezembro de 2018.

“Compreender os fatores que reduzem a suscetibilidade a temperaturas extremas é crucial para informar as políticas de adaptação à saúde e para combater os efeitos negativos das alterações climáticas”.

Hicham Achebak, autor do estudo e investigador do ISGlobal

Os investigadores analisaram fatores demográficos e socioeconómicos que justificassem a redução observada na mortalidade relacionada com o calor e o frio, mesmo apesar do aumento das temperaturas. Descobriram que o aumento da prevalência do ar condicionado em Espanha estava associado a uma redução da mortalidade relacionada com o calor, enquanto o aumento da prevalência do aquecimento estava associado a uma diminuição da mortalidade relacionada com o frio.

O ar condicionado foi responsável por cerca de 28,6% do declínio nas mortes devido ao calor e 31,5% da diminuição das mortes devido ao calor extremo entre o final da década de 1980 e o início da década de 2010.

Já os sistemas de aquecimento são responsáveis por cerca de 38,3% da redução nas mortes relacionadas com o frio e uma diminuição substancial de 50,8% nas mortes relacionadas com o frio extremo durante o mesmo período. Os autores entendem que a diminuição da mortalidade devido ao frio teria sido maior se não se tivesse dado, ao longo dos anos, uma mudança demográfica, com uma prevalência em crescendo das faixas etárias superiores a 65 anos, que são mais vulneráveis às baixas temperaturas.

Os autores concluíram também que a redução da mortalidade relacionada com o calor se deve, em grande medida, ao desenvolvimento socioeconómico do país durante o período de estudo, e não a intervenções específicas, tais como sistemas de alerta de ondas de calor.

Aumento das temperaturas, mas menor mortalidade

Os resultados do estudo vão ao encontro de outras investigações anteriores, que já apontavam que, contrariamente às expectativas, o aquecimento global não havia dado origem a um aumento da mortalidade relacionada com o calor em Espanha. Este trabalho demonstra ainda a importância dos sistemas de arrefecimento e de aquecimento como medidas de adaptação eficazes para mitigar os efeitos do calor e do frio.

“As nossas descobertas têm implicações importantes para o desenvolvimento de estratégias de adaptação às alterações climáticas. Também informam as projeções futuras sobre o impacto das alterações climáticas na saúde humana”.

Joan Ballester, investigadora do ISGlobal e coordenadora do estudo.

Mas como nem tudo pode ser positivo, os autores alertam para um risco já globalmente internalizado, o de que o uso generalizado de ar condicionado pode contribuir ainda mais para o aquecimento global, dependendo da fonte de geração de eletricidade, razão pela qual outras estratégias de arrefecimento, como a expansão de espaços verdes e azuis nas cidades (vegetação urbana e corpos d'água), também são necessárias.

Adaptação e mitigação a um mundo em mudança

O aumento das concentrações atmosféricas de gases com efeito de estufa devido às atividades humanas tem induzido um aumento acelerado das temperaturas globais desde meados da década de 1970, que se repercutirá em aumentos mais frequentes, mais intensos e mais prolongados de eventos de calor extremo duradouros.

Espanha emerge como um importante hotspot climático. Enquanto a temperatura média global da superfície aumentou 1,1 °C em comparação com os níveis pré-industriais (1850-1900), as temperaturas em Espanha aumentaram a um ritmo mais elevado, com um aquecimento adicional de 0,60 °C e uma temperatura média anual a aumentar a uma taxa média de 0,36 °C por década.

Estas mudanças nas temperaturas têm sérias implicações para a saúde humana, uma vez que se espera que condições mais quentes contribuam para um aumento da carga de morbilidade e mortalidade relacionada com o calor. É, por isso, fundamental que nos adaptemos.

Referência da notícia:
Achebak, H., Quijal-Zamorano, M., Lloyd, S., Méndez-Turrubiates, R., Rey, G., Ballester, J. Drivers of the time-varying heat-cold-mortality association in Spain: a longitudinal observational study. Environment International. 2023.