Será a pandemia benéfica para o meio ambiente?

A redução da atividade económica e o isolamento social provocados pela pandemia de Covid-19 originaram alguns impactos no meio ambiente, sobretudo na queda das emissões de poluentes. Mas será que estes impactos vão resolver as alterações climáticas? Não. Podem até agravar o problema.

Poluição do ar em tempos de pandemia
As medidas de isolamento implementadas por governos em todo o mundo devido à pandemia de COVID-19 estão a resultar numa forte diminuição de agentes poluentes no ar.

Em dezembro, no final de 2019, quando a notícia do novo coronavírus estourou na província de Hubei, na China, foram implementadas as medidas mais rígidas: as fábricas foram encerradas, as ruas foram higienizadas, as autoridades chinesas interromperam todas as atividades diárias para impedir a propagação da doença.

Isto levou à redução dramática nas concentrações de dióxido de nitrogénio, libertados pelas instalações industriais e veículos, em todas as principais cidades chinesas entre o final de janeiro e fevereiro. A queda nas concentrações também coincidiu com as celebrações do Ano Novo Lunar, que geralmente apresenta uma queda semelhante nas concentrações a cada ano.

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Contudo esta tendência veio na esteira da propagação da pandemia pelo planeta. O satélite Copernicus Sentinel-5P da NASA, através das suas imagens ilustra claramente uma forte redução das concentrações de dióxido de nitrogénio nas principais cidades da Europa, especificamente Milão, Paris e Madrid, desde a implementação das medidas de confinamento.

Na Península Ibérica o cenário foi o mesmo, a poluição e as emissões de gases de efeito de estufa em Portugal e em Espanha caíram abruptamente.

Em termos ambientais esses dados são positivos, mas não podemos esquecer que segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a poluição atmosférica mata 4,2 milhões de pessoas por ano. Contudo alguns especialistas temem que, uma vez finalizado o confinamento, as emissões batam recordes históricos de recuperação, pois ensina a história que, após momentos de crise como esta, a recuperação económica se faz com uma forte subida na produção, sacrificando preocupações ambientais.

Por outro lado...

Em simultâneo, a necessária resposta ao surto está a ter um forte impacto ambiental imediato, a utilização de produtos descartáveis (de equipamentos médicos a embalagens alimentares), estão a criar um “tsunami” de resíduos que vão a caminho do oceano.

Hoje em dia rara é a bolsa ou mochila na qual, para se proteger, não são encontradas máscaras desinfetantes, luvas e géis. Esses elementos tornaram-se essenciais para a humanidade, mas são tremendamente prejudiciais se não agirmos com responsabilidade ao descartá-los. Portanto, enquanto podemos ver um céu claro e livre de poluição, o consumo de plásticos continua a aumentar consideravelmente.

Muito recentemente a organização WWF (World Wild Fund), numa campanha de sensibilização, recolheu imagens de máscaras e luvas espalhadas por vários lugares, podendo contaminar pessoas e chegar ao mar quando arrastadas para os rios.

Material Cirúrgico nos oceanos
Cada máscara cirúrgica, que pesa cerca de quatro gramas, pode demorar 400 anos a degradar-se, o que apresenta um problema "muito preocupante" com o seu uso generalizado.

A organização apela para a responsabilidade dos cidadãos para porem as luvas e máscaras de proteção nos contentores do lixo para proteger a saúde e evitar que os rios e mares do planeta fiquem ainda mais poluídos e pede um plano urgente de gestão dos resíduos provocados pela pandemia.

A WWF teme que o levantamento das medidas de restrição de movimentos e confinamento de populações, sobretudo no verão, faça aumentar a poluição nas praias, com a qual sofrerão tartarugas, medusas e outros animais que confundem as luvas e máscaras com alimentos.

Anualmente, estima-se que todos os anos cerca de 100.000 animais marinhos morram presos, asfixiados ou envenenados com resíduos plásticos. Não há dúvida de que a poluição plástica já era um dos grandes desafios da humanidade antes da chegada da COVID-19 e o uso maciço de luvas e de máscaras recentemente mostrou ao mundo inteiro imagens de praias invadidas por esses produtos.