Sabia que o vinho e até mesmo uma chávena de chá preto podem deixar a boca seca?
Já alguma vez sentiu a boca áspera após um gole de vinho ou chá? Descubra aqui qual o fenómeno e a química existente neste processo.

Provavelmente depois de beber um copo de vinho tinto ou uma chávena de chá preto já sentiu a boca a fica seca e áspera. Este é um fenómeno que advém da sensação de secura ou adstringência que algumas bebidas proporcionam, no entanto depende do nível de hidratação oral da pessoa.
De acordo com um estudo publicado na revista Physiology & Behavior, esta sensação de secura acontece devido a um grupo de compostos vegetais chamados taninos. Estes compostos estão presentes em abundância nas cascas das uvas, nas folhas do chá, no cacau e até em algumas frutas e árvores, representando um dos mecanismos de defesa das plantas.
Mas o que fazem exatamente os taninos à nossa boca?
Os taninos adoram conectar-se ás proteínas, e encontram na nossa saliva proteínas ricas em prolina, essenciais para lubrificar as mucosas orais.
Quando os taninos se agarram a estas proteínas, desestabilizam a parte escorregadia que reveste a boca, o que resulta na sensação súbita de secura, rugosidade e contração que conhecemos tão bem.
A química da sensação: muito mais do que “falta de água”
Por vezes pensa-se que a boca seca depois de beber um chá forte ou vinho tinto é consequência de desidratação. Mas engana-se, é puramente química e não falta de água. A saliva perde temporariamente a sua funcionalidade e à medida que continuamos a beber, o efeito vai-se acumulando.
De acordo com os autores do estudo
Os taninos multiplicam as ligações às proteínas salivares e o revestimento protetor da boca torna-se cada vez mais fino. Daí a intensificação da secura ao longo do copo ou da chávena. No entanto, segundo o estudo da Universidade da Carolina do Norte, alimentos ricos em gordura, como queijos, frutos secos ou chocolate branco, conseguem suavizar este efeito.
A gordura atua como uma espécie de "almofada", revestindo a boca e reduzindo o ataque direto dos taninos.
Esta sensação pode ser pejorativa?
Surpreendentemente não! Pois os taninos fazem parte de uma grande família de compostos chamados polifenóis, conhecidos pelos seus efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios.

E, segundo os cientistas, o consumo regular e moderado de alimentos e bebidas ricos nestas moléculas pode reduzir o stress oxidativo no organismo, contribuir para a proteção cardiovascular, ajudar a modular o "mau" colesterol LDL e até até diminuir riscos associados a doenças crónicas.
Ou seja, aquele aperto momentâneo na boca pode ser o sinal sensorial de que ingerimos algo biologicamente ativo.
Todavia, nem para todos esta pode ser uma sensação agradável e, como tal para aqueles que se sentem desconfortáveis com este efeito, existem alguns truques para atenuar o efeito: Se estiver a beber vinho, beber água pelo meio ajuda a repor a saliva.
Pode também optar por vinhos menos tânicos, ou seja, vinhos mais jovens ou com a casta "Touriga Nacional", com o acompanhamento de alguns alimentos gordurosos, como queijos ou frutos secos.
Se está a beber chá opte por chás mais leves, como o chá verde ou chás brancos, ou até mesmo reduzir o tempo de infusão.
Assim sendo, este fenómeno desconhecido, denominado adstringência, é uma sensação que nos lembra que comer e beber é uma experiência multisensorial complexa, onde a química, a biologia, a cultura e o prazer se envolvem.
O que inicialmente parece algo estranho, a secura na boca é, na verdade, um marcador de que estamos a interagir com moléculas poderosas, que fizeram parte da evolução das plantas e que agora desempenham um papel subtil mas interessante na nossa saúde.
Referência da notícia
Steve Guest, Greg Essick, Mike Young, Nicola Phillips, Francis McGlone, "The effect of oral drying and astringent liquids on the perception of mouth wetness", Physiology & Behavior,Volume 93, 2008.