Quanto tempo se demora a escalar o Everest? Estes são os perigos de tentar fazê-lo numa semana
Escalar o Everest não é para todos, chegar ao seu cume é só para os mais preparados. A geografia implacável do Everest tem levado alguns promotores a propor alternativas de medicamentos que auxiliem na subida ao cume da montanha mais alta do mundo.

O Monte Everest é a montanha mais alta do planeta Terra, chegando a 8 848 metros acima do nível do mar, pertence à Cordilheira do Himalaia e foi formada pelo choque entre placas tectónicas.
Apesar de apresentar um ambiente bastante hostil, com temperaturas abaixo de zero e ventos intensos, além do risco de avalanches e terremotos, o Monte Everest é um dos principais pontos turísticos do Nepal e do Tibete, visto que se situa na fronteira entre esses territórios.
Para se adaptar ao ar extremamente rarefeito em altitude, a equipa passou várias semanas num processo de aclimatação, subindo lentamente. Após chegar ao acampamento base, passou sete semanas a realizar breves incursões pela montanha acima com o objetivo de fixar cordas, instalar escadas e estabelecer acampamentos cada vez mais altos antes do ataque ao cume.

Hoje, os quilómetros de cordas fixas colocadas ao longo da rota por equipas de sherpas (habitantes locais) e a logística sofisticada aperfeiçoada por empresas de guias comerciais permitem que centenas de alpinistas cheguem ao cume do Everest todos os anos. Mas o tempo que a maioria leva para escalá-lo não mudou drasticamente desde aquela primeira subida.
Muitas expedições ainda recomendam que se leve cerca de dois meses até atingir o topo, com aclimatação extensa, embora isso dependa de uma série de fatores que incluem o estado do tempo, a afluência à montanha e a condição física do alpinista. A caminhada até o acampamento base pode levar até uma semana, mas, uma vez lá, a maioria das pessoas demora, em média, cerca de 40 dias para chegar ao cume.
Uma nova estratégia para a subida ao ponto mais alto do planeta Terra
Recentemente, uma nova promotora turística, oferece uma subida ao cume muito mais rápida, de apenas uma semana. A subida até ao cume é poupada por uma viagem de helicóptero até ao acampamento base, evitando as três semamas de aclimatação.
A oferta conta com uma nova estratégia inesperada: inalar xenónio, um gás nobre, que por norma é utilizado como anestésico. A lógica por trás da ideia é relativamente simples, o xenónio tem um efeito colateral interessante: aumenta a produção de uma proteína chamada eritropoietina.

Conhecida como EPO, a eritropoietina é uma glicoproteína que os nossos rins produzem como reação a níveis insuficientes de oxigénio. A EPO combate a hipoxia, uma condição que ocorre quando o corpo deixa de obter oxigénio suficiente, aumentando o número de glóbulos vermelhos e a proteína crucial que eles carregam, a hemoglobina, que transporta oxigénio pelo corpo.
Com a utilização do xenónio pode abrir-se uma nova janela de oportunidade. Ao inalar doses cuidadosamente controladas deste gás pouco antes da expedição, pode ser possível acelerar os efeitos da aclimatação. Há, no entanto, poucas evidências científicas publicadas que demonstrem a eficácia dessa estratégia.
Andrew Peacock, professor honorário especializado em medicina de altitude na Universidade de Glasgow, Reino Unido.
A comissão médica da Federação Internacional de Escalada e Montanhismo (UIAA), grupo que reúne organizações de montanhismo de todo o mundo, emitiu uma declaração de advertência a esta entidade promotora após a revelação dos seus planos. A comissão alertou para a ausência de investigações clínicas ou comprovações científicas sobre a segurança e a eficácia do uso deste gás em grandes altitudes.
Uma avaliação anterior do mesmo órgão também alertou que medicamentos projetados para induzir EPO poderiam potencialmente aumentar o risco de coágulos sanguíneos capazes de desencadear derrames ou embolia pulmonar.
Busca por soluções alternativas tem aumentado
A maioria dos alpinistas nas montanhas mais altas do mundo usa oxigénio suplementar, fornecido por cilindros através de aparelhos respiratórios, com um fluxo constante de gás vindo de garradas de alta pressão que os alpinistas carregam nas suas mochilas.
Tanto Hillary quanto Norgay usaram oxigénio suplementar em 1953 e essa abordagem continua até hoje. Das 7.269 pessoas que se sabe terem alcançado o cume do Monte Everest, apenas 230 o fizeram sem a ajuda suplementar.
A busca por medicamentos que possam ajudar os alpinistas a melhorar o desempenho e a aclimatação em grandes altitudes nunca parou. De longe, o medicamento prescrito mais popular entre os montanhistas é a acetazolamida, mais conhecida como Diamox. Este inibidor da anidrase carbónica, usado no tratamento de diversas condições, do glaucoma à epilepsia, também é bastante útil em grandes altitudes.

Mas mesmo com toda essa ajuda, o Everest é um lugar perigoso e não há garantia de sobrevivência. Embora existam poucas evidências científicas sobre quanto tempo alguém pode permanecer em altitudes muito elevadas, os especialistas concordam que, mesmo com a aclimatação, o corpo eventualmente começará a deteriorar-se.
O frio extremo e exposição ao vento, a pressão exercida sobre os pulmões e o coração, a deterioração dos tecidos e órgãos, a desidratação e a perda de peso tornam cada vez mais perigosa qualquer visita prolongada à chamada "Zona da Morte", geralmente considerada acima de 8 000 metros.
É aqui que o xenónio pode vir a fazer uma diferença real. Ainda que não existam evidências suficientemente robustas que comprovem a sua mais-valia na subida ao Monte Everest, o seu estudo deve ser considerado como um passo importante no lançamento de uma semente que pode vir a dar frutos na proteção da saúde dos alpinistas.