Oceanos, florestas e solos estão a atingir o pico de carbono, alerta relatório nas vésperas da COP30

Os sumidouros naturais de carbono do planeta – os oceanos, as florestas e os solos – estão a atingir os seus limites, absorvendo menos carbono do que o esperado e representando um risco significativo de retrocesso nas metas climáticas globais.

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As florestas estão a perder a sua capacidade de armazenar carbono.

Décadas de alterações climáticas enfraqueceram a capacidade dos sistemas terrestres e oceânicos de absorver as emissões de carbono, de acordo com um novo relatório divulgado nas vésperas das negociações climáticas da ONU na COP30.

Elaborado por mais de 70 cientistas de 21 países, o relatório sugere que a dependência exclusiva da natureza para compensar a poluição de carbono já não é suficiente. Os autores recomendam a implementação em larga escala de novas tecnologias de remoção de carbono, em conjunto com cortes urgentes nas emissões.

Há muito tempo contamos com as florestas e os solos para limpar silenciosamente a nossa poluição de carbono, mas a sua capacidade está a diminuir”, disse a professora Sabine Fuss, chefe de departamento do Instituto Potsdam para Pesquisa do Impacto Climático e membro do conselho editorial do relatório.

“Isto significa que podemos estar a subestimar a lacuna de emissões atual, bem como o ritmo do aquecimento futuro”, acrescentou.

Habilidade enfraquecida

A Dra. Katie Smith, da Associação de Biologia Marinha de Plymouth, é uma das coautoras do relatório sobre o aumento acelerado da temperatura da superfície do mar e a intensificação das ondas de calor marinhas.

“O oceano tem sido o nosso maior aliado na mitigação dos impactos das alterações climáticas; as evidências são claras de que o aumento das temperaturas e a intensificação das ondas de calor marinhas estão a enfraquecer a capacidade do oceano de armazenar carbono”, afirmou ela.

“Estas mudanças já estão a afetar os ecossistemas marinhos, a pesca e as comunidades que dependem deles”, disse.

Há muito tempo que contamos com as florestas e os solos para limpar silenciosamente a nossa poluição atmosférica, mas a sua capacidade está diminuindo.

Smith também observou que as ondas de calor marinhas estão a ocorrer com mais frequência e a durar mais tempo, com temperaturas da água de 3 a 5 graus Celsius acima do esperado para esta época do ano, às vezes durante meses seguidos.

Estes eventos destroem florestas de algas, branqueiam recifes de coral e desencadeiam efeitos em cascata que se propagam por ecossistemas inteiros”, disse.

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As ondas de calor marinhas estão a tornar-se mais frequentes e intensas.

Apesar dos desafios, houve progresso em soluções, afirmou Smith. “Pela primeira vez, podemos prever quando e onde as ondas de calor marinhas provavelmente ocorrerão”.

"Isto dá-nos uma janela de oportunidade para agir – para estudá-los em tempo real, aconselhar o setor da pesca e preparar as indústrias costeiras antes que o dano seja feito", afirmou.

Avanços críticos na ciência climática

O relatório resume os avanços mais importantes na ciência climática dos últimos 18 meses. Entre eles, estão evidências de que o aquecimento global possivelmente está a acelerar; que os níveis de água subterrânea estão a diminuir; que o aquecimento está a ampliar a disseminação de surtos de dengue e os impactos do stress térmico na produtividade do trabalho.

Sobre as soluções, afirma que a remoção de dióxido de carbono – onde o gás é retirado da atmosfera e armazenado em formações geológicas, oceanos ou produtos – é necessária, mas deve concentrar-se nas emissões de difícil redução, como as da aviação internacional e de alguns setores industriais.

Enquanto isso, os mercados de carbono enfrentam desafios de integridade e precisam de parâmetros mais robustos e maior transparência, conclui o relatório.

Referência da notícia

10 New Insights in Climate Science 2025/2026. 06 de novembro, 2025.