O risco urbano de carraças e doença de Lyme é modelado exclusivamente pelo meio rural
A influência das florestas rurais distantes é crucial para o risco de carraças e doença de Lyme nas cidades, revelando a ligação entre o campo e o urbano. Saiba mais aqui!

O artigo aborda a questão de como o meio rural envolvente das cidades, designado por hinterland, influencia os riscos de saúde em ambientes urbanos, especificamente a ameaça das carraças (Ixodes ricinus) e da doença de Lyme em espaços verdes citadinos. O estudo analisou os riscos ambientais em 16 pequenas cidades do Reino Unido, comparando os espaços verdes urbanos (a 0-5 km do centro) com as zonas rurais arborizadas do hinterland (a 5-10 km).
O que nos indica o estudo?
A primeira e mais significativa conclusão do estudo é que os riscos ambientais de carraças e da doença de Lyme nos espaços verdes urbanos são substancialmente inferiores aos encontrados nas áreas rurais arborizadas circundantes, sendo o risco de carraças duas vezes menor e o risco da doença de Lyme três vezes menor nas cidades.
No entanto, o estudo revela um achado crucial e original: o risco de carraças e da doença de Lyme nas cidades é, na verdade, moldado pelas características do hinterland rural, e não pelas características da cobertura do solo dos próprios espaços verdes urbanos. Os modelos estatísticos demonstraram que as cidades com espaços verdes de maior risco de carraças e doença de Lyme eram aquelas cujo hinterland apresentava uma maior densidade de ninfas de carraças. Isto sugere que as áreas rurais atuam como uma fonte de vetores para o ambiente urbano.

Especificamente em relação à cobertura do solo, o risco de carraças nas cidades estava positivamente associado à cobertura florestal no hinterland (o habitat preferido das carraças e dos seus hospedeiros, como os veados) e negativamente associado à proporção de áreas construídas no hinterland. Esta é uma descoberta fundamental que estabelece que as condições da paisagem rural, a vários quilómetros de distância, têm um impacto direto no risco ecológico da cidade.

É interessante notar que, ao contrário do esperado, não foi encontrado qualquer efeito mensurável da cobertura do solo (seja arborizada ou construída) dentro dos limites da cidade no risco urbano. Além disso, a conectividade da paisagem na interface urbano-rural não mostrou uma associação com o risco. Os autores sugerem que esta aparente falta de efeito da conectividade pode indicar que mesmo um pequeno grau de ligação entre a cidade e a zona rural é suficiente para permitir que os hospedeiros vertebrados, como os veados, transportem carraças e influenciem o ecossistema urbano.
Quais os resultados?
Os resultados levam os investigadores a hipotetizar que o transporte de carraças para as cidades é impulsionado principalmente por hospedeiros de maior alcance que não transportam necessariamente o patógeno, como os veados, que são cruciais para manter as populações de carraças. Por outro lado, o ciclo de transmissão do patógeno da doença de Lyme, que requer a presença de hospedeiros mais pequenos (como roedores e aves), pode depender mais de caraterísticas muito locais e internas de cada espaço verde, o que explicaria a menor influência do hinterland neste risco em particular.
Em conclusão, mostra que as caraterísticas e a abundância de carraças no ambiente rural são determinantes-chave do risco urbano. Os autores defendem que as estratégias para mitigar o risco de carraças e da doença de Lyme em áreas urbanas devem, por conseguinte, visar não só as condições dentro dos parques, mas também as condições do hinterland circundante. Isto exigirá a colaboração e a coordenação entre as autoridades de governação urbana e rural para proteger eficazmente as populações citadinas.
Referência da notícia:
Gandy, S.L., Hall, J.L., Plahe, G. et al. The dependence of urban tick and Lyme disease hazards on the hinterlands. Nat Cities (2025).