O que uma equação com 190 anos sobre tempestades nos pode dizer

Em 1835, Émile Clapeyron começou a testar uma nova teoria, com base numa equação, para justificar a influência da pressão atmosférica no ponto de ebulição da água.

equação de Clausius-Clapeyron e tempestades
Tempestades com mais precipitação do que o previsto são conhecidas como eventos de Clausius-Clapeyron.

Decorria o ano de 1835 quando o engenheiro e físico francês Émile Clapeyron descobriu porque é que a pressão reduzida em altitude afeta o ponto de ebulição da água, ao ponto desta ferver mais rapidamente com uma temperatura inferior.

O seu trabalho acabou por estabelecer a relação entre a pressão de uma substância e a temperatura, quando duas fases dessa substância se encontram em equilíbrio. A relação é agora conhecida como a equação de Clausius-Clapeyron.

O impacto desta equação atualmente

Quase 200 anos depois, esta relação está a ajudar os climatologistas a compreender os efeitos das alterações climáticas. A equação mostra como o ar mais quente pode conter mais humidade, o que é crucial para prever o aumento da força das tempestades e a maior intensidade da precipitação.

"Um ponto chave sobre esta equação é que ela tem um exponencial lá dentro", diz Peter Stott, um climatologista do Gabinete Britânico de Meteorologia. "Uma curva exponencial, claro, sobe mais acentuadamente quanto mais se sobe. Então, à medida que a temperatura aumenta, o nível de precipitação acompanha este aumento".

Portanto, a equação aponta para um futuro mais húmido, mas como os investigadores começam a perceber, isto é apenas o início. As tempestades futuras podem produzir ainda mais chuva do que a equação prevê.

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A equação de Clausius-Clapeyron

Era a idade da máquina a vapor. Um grupo de cientistas composto por Sadi Carnot, James Joule, William Rankine e William Thomson, assim como Émile Clapeyron e Rudolf Clausius, trabalharam em teoria e aplicações práticas para tentar melhorar a eficiência desta tecnologia crucial.

Clapeyron foi um dos primeiros a considerar a teoria de como os estados gasoso e líquido da água se comportam enquanto este fluido é aquecido dentro de uma máquina a vapor. Em 1834, ele tinha teorizado de que forma a pressão do vapor - que é a pressão exercida pelo vapor quando em equilíbrio com o líquido - poderia mudar com a temperatura.

Em 1850, Clausius refinou a relação para incluir o calor latente, a energia necessária para vaporizar uma determinada quantidade de líquido, para dar a forma da equação que usamos hoje.

Esta equação pode explicar observações diárias, como, por exemplo, uma panela de pressão poder acelerar as refeições ao fazer a água ferver a 120 °C. Os cientistas de várias disciplinas utilizam-na para calcular tudo, desde a composição provável de atmosferas e oceanos noutros planetas, até ao potencial energético.

Contudo, uma das suas utilizações mais importantes é na meteorologia, particularmente em simulações de como a atmosfera e o clima irão responder às alterações climáticas.

Os meteorologistas utilizam a equação de Clausius-Clapeyron para compreender em que momento o vapor de água se condensará para o estado líquido. Isto acontece devido à pressão de vapor de saturação, a pressão máxima que pode ser exercida pelo vapor de água antes de se condensar. A equação mostra que esta pressão aumenta exponencialmente com a temperatura.

A equação mostra que para cada grau Celsius extra de aquecimento, o ar pode conter mais 7% de água. Pelo que com 2 °C de aquecimento global, o mundo poderia esperar mais 14% de humidade no ar, e com 3 °C de aquecimento, esse valor seria de 21%, e assim sucessivamente.

As tempestades atualmente

Grande parte das fortes chuvas e inundações observadas na Califórnia, nos últimos meses e anos, tiveram origem em eventos que começaram sobre o oceano, e assim transportaram a quantidade total de vapor de água extra, prevista pela equação de Clausius-Clapeyron.

Estas tempestades são impulsionadas pela deslocação de longas e estreitas colunas de vapor de água chamadas de rios atmosféricos, que muitas vezes têm origem nos trópicos.

Apesar desta equação ser uma mais valia no estudo e antevisão da intensidade das tempestades, ainda há outros fatores atmosféricos que podem intensificar ou diminuir a precipitação das mesmas.

"O aumento global da temperatura está mais próximo de 1,2 graus, pelo que há, provavelmente, 8% mais humidade nos rios atmosféricos agora do que teria havido sem as alterações climáticas", diz Stott.

Porém, às vezes o aumento da precipitação é menor do que o previsto pela equação, devido a um aspeto físico pouco compreendido pela ciência das nuvens chamado eficiência da precipitação.

Em suma, nem todo o vapor de água condensado do ar chega de facto ao solo como chuva ou neve, pois parte dele reevapora-se.