Novas luzes sobre os mistérios da Porta da Babilónia graças às técnicas de arqueomagnetismo

Utilizando novas técnicas de arqueomagnetismo, os investigadores desvendaram algumas das questões que envolvem o mistério do antigo monumento babilónico.

porta ishtar berlim
A Porta de Ishtar, atualmente preservada no Museu Pergamon em Berlim https://www.flickr.com/photos/24065742@N00/151247206/ Autor: Rictor Norton

Um estudo recente, utilizando as técnicas do arqueomagnetismo, relançou o debate científico sobre a datação das três diferentes fases de construção da Porta da Babilónia, ou Porta de Ishtar, identificadas por escavações arqueológicas anteriores.

O monumento, cuja construção foi ordenada pelo rei Nabucodonosor II (reinou entre 605 e 562 a.C.) em honra da deusa do amor e da guerra Ishtar, encontra-se atualmente no Museu Pergamon, em Berlim, e é famoso pelos seus tijolos de terracota cobertos de esmalte azul e baixos-relevos.

O estudo da Porta da Babilónia

Uma equipa internacional de investigadores do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia (INGV), do Museu Pergamon, em Berlim, e das Universidades de San Diego (EUA) e de Telavive (Israel) analisou fragmentos minúsculos (com menos de 3 milímetros) de cinco tijolos pertencentes a três fases diferentes da construção da Porta para tentar perceber se existe ou não uma correlação temporal entre os diferentes momentos da construção da Porta e o desfecho das guerras travadas pelo rei babilónico, que derrotou os egípcios na Batalha de Karkemiš e conquistou a cidade de Jerusalém em 586 a.C.

"As amostras foram analisadas com a técnica da arqueointensidade, ou seja, a análise da intensidade do campo magnético terrestre que ficou 'impresso' nos tijolos no momento do seu fabrico", explica Anita Di Chiara, investigadora do INGV e coautora do artigo.

"Se os tijolos tivessem sido fabricados ao mesmo tempo, teriam registado a mesma intensidade de campo magnético. Se, pelo contrário, os valores da intensidade do campo magnético medidos em laboratório fossem diferentes, isso significaria que foram fabricados em alturas diferentes", acrescenta.

A datação arqueomagnética como técnica de estudo

A datação arqueomagnética tem normalmente incertezas de séculos, uma vez que as variações do campo magnético da Terra são muito lentas. No entanto, neste caso específico, existe uma anomalia de campo, a chamada "anomalia da Idade do Ferro", que viu a força do campo magnético da Terra variar muito rapidamente ao longo de alguns séculos.

A datação arqueomagnética tem normalmente incertezas de séculos, uma vez que as variações do campo magnético da Terra são muito lentas. No entanto, neste caso específico, existe uma anomalia de campo, a chamada "anomalia da Idade do Ferro", que viu a força do campo magnético da Terra variar muito rapidamente ao longo de alguns séculos.

"As análises que realizámos no Laboratório de Paleomagnetismo da Universidade de San Diego revelaram que a intensidade registada é estatisticamente indistinguível e provavelmente posterior à conquista de Jerusalém em 586 a.C.", conclui Di Chiara.

Embora o estudo não forneça uma resposta conclusiva sobre as consequências dos acontecimentos, prova que mesmo pequenas amostras de material são suficientes para estudos de arqueomagnetismo. Esta prova abre a possibilidade de, no futuro, estes estudos serem alargados ao resto da antiga Mesopotâmia, uma região rica em construções milenares que nos podem oferecer novas perspetivas para a nossa investigação científica.

Referência da notícia:
Di Chiara A, Tauxe L, Gries H, Helwing B, Howland MD, Ben-Yosef E (2024) An archaeomagnetic study of the Ishtar Gate, Babylon. PLoS ONE 19(1): e0293014. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0293014