Fósseis inéditos na Etiópia desafiam a história da evolução humana
A descoberta de novos fósseis de hominídeos forneceu dados cruciais. Saiba mais aqui!

A evolução dos hominídeos na África Oriental, num período crucial entre 3,4 e 1,1 milhões de anos atrás, foi um processo muito mais complexo e diversificado do que se pensava anteriormente. Os artigos oferecem perspetivas complementares que, em conjunto, pintam um quadro detalhado desta complexidade, marcada pela coexistência de múltiplas linhagens de hominídeos.
Um dos estudos é focado na área de Ledi-Geraru, na Etiópia, aborda o período de transição entre o desaparecimento do Australopithecus afarensis e o surgimento dos géneros Homo e Paranthropus. A descoberta de novos fósseis de hominídeos neste local forneceu dados cruciais para este período pouco documentado.
Além disso, foram encontrados fósseis de Australopithecus datados de 2,63 milhões de anos, cuja morfologia se distingue de outras espécies conhecidas como o A. afarensis e o Australopithecus garhi. Estas descobertas sugerem que, ao contrário da ideia de uma transição direta, o Australopithecus e o Homo primitivo coexistiram como duas linhagens separadas e não-robustas na Região Afar antes de 2,5 milhões de anos.
Com base numa análise taxonómica de 108 dentes de hominídeos das formações de Shungura e Usno, no Baixo Vale do Omo, oferece um registo detalhado da dinâmica populacional de diferentes espécies ao longo do tempo. O estudo utiliza uma vasta base de dados comparativa para atribuir os dentes a diferentes táxons de hominídeos. A análise mostra que, nas camadas mais antigas (cerca de 3,4 Ma), o Australopithecus afarensis era a única espécie presente. No entanto, por volta de 2,95 Ma, já existiam duas linhagens distintas: o Paranthropus e um grupo que incluía o Homo e o A. afarensis.

O estudo documenta o aumento da frequência do Paranthropus a partir de 2,27 Ma, culminando na sua dominância relativa até 1,9 Ma, altura em que o Homo se torna o táxon mais comum.
A evidência mais recente do Paranthropus é de 1,37 Ma, após a qual apenas dentes de Homo são encontrados, o que aponta para o seu desaparecimento. O estudo destaca que a variação na morfologia dos dentes não se alinha perfeitamente com a classificação taxonómica baseada em medidas lineares, sugerindo a necessidade de abordagens mais complexas para a identificação de espécies.
Em suma, a conjugação de ambos os artigos fornece uma perspetiva detalhada e unificada da evolução humana. O trabalho de Villmoare et al., estabelece a coexistência de diferentes linhagens de hominídeos num período mais antigo do que o previamente conhecido, enquanto o estudo de Hlusko et al., demonstra a dinâmica populacional ao longo de milhões de anos.
Juntos, os artigos desmistificam a ideia de uma evolução linear, revelando um cenário de grande diversidade e complexidade onde múltiplas espécies, incluindo o Australopithecus, o Paranthropus e o Homo, viveram lado a lado, competindo e adaptando-se em ecossistemas partilhados. Este quadro evolutivo dinâmico moldou a paisagem da evolução humana na África Oriental até o Homo se tornar a linhagem sobrevivente.
Referências da notícia:
Villmoare, B., Delezene, L.K., Rector, A.L. et al. New discoveries of Australopithecus and Homo from Ledi-Geraru, Ethiopia. Nature (2025). https://doi.org/10.1038/s41586-025-09390-4
Hlusko, Leslea J., Franck Guy, Mario Modesto-Mata, Marina M. de Pinillos, Marianne F. Brasil, Ian Towle, Arthur Thiebaut, et al. 2024. “Taxonomic Assignments for the 3.4 Ma to 1.1 Ma Hominin Postcanine Teeth from the Usno Formation and the Shungura Formation, Lower Omo Valley, Ethiopia.” PaleorXiv. July 15. doi:10.31233/osf.io/g7kfx.