Estudo confirma que os aerossóis desempenham um papel inesperado na compensação do aquecimento global
Um novo estudo demonstra que a formação de nuvens na baixa atmosfera é altamente sensível à poluição por aerossóis, alterando significativamente as suas propriedades refletoras.

Como as características das nuvens variam muito ao longo do tempo, medições de longo prazo e de alta qualidade são essenciais para avaliar com precisão como os aerossóis influenciam o comportamento das nuvens.
Como os aerossóis influenciam o clima?
Os aerossóis são pequenas partículas flutuantes no ar que muitas vezes não são visíveis ou são quase invisíveis ao olho humano. Podem ter origem de fontes naturais, como vulcões ou salpicos do mar, mas também de fontes causadas pelo homem, como a queima de combustíveis fósseis, emissões industriais ou mesmo cozinhar.
Uma investigação internacional, liderada pela Universidade da Finlândia Oriental e pelo Instituto Meteorológico Finlandês, centra-se na forma como o número de gotículas nas nuvens responde às concentrações de aerossóis, que é um fator crítico para determinar a quantidade de radiação solar que as nuvens refletem.

Este estudo utiliza observações de um período longo, 3 a 10 anos, de aerossóis e nuvens, em três locais de alta latitude, as estações de monitorização ACTRIS (Aerosol, Clouds and Trace Gases Research Infrastructure) em Svalbard (Noruega) e na Finlândia.
Estas observações sugerem que as propriedades refletoras das nuvens respondem mais fortemente às mudanças nos níveis de aerossóis do que se acreditava no passado.
Os autores do estudo, com base nas observações, descobriram que as nuvens estratiformes de baixo nível são mais suscetíveis aos aerossóis do que os dados de satélite sugeriam.
Os resultados desta investigação, com base nas observações em estações, mostram que este efeito de arrefecimento está no limite superior das estimativas anteriores baseadas em dados de satélite e do intervalo de incerteza do relatório mais recente do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas.
Os autores do estudo avaliam ainda os campos de aerossóis simulados por modelos climáticos em relação às observações de aerossóis nas estações.
Modelos climáticos mais precisos para prever o aquecimento no futuro
No estudo é feita a avaliação de quatro modelos do sistema terrestre em relação às observações e constata-se uma grande variabilidade entre os modelos no que diz respeito à suscetibilidade do número de gotículas de nuvens aos aerossóis. Este é um dos principais fatores que controlam a mudança na quantidade de radiação solar refletida pelas nuvens quando as emissões de aerossóis são perturbadas.
Este estudo pode proporcionar uma melhor compreensão de quanto a poluição por aerossóis proveniente da atividade humana retardou o aquecimento climático causado pelos gases de efeito de estufa.

O estudo também avalia a capacidade dos modelos climáticos de simular com mais precisão a relação entre as propriedades refletoras das nuvens e as concentrações de aerossóis.
As comparações com dados das observações nas estações revelam lacunas na representação de processos-chave entre nuvens e aerossóis, com discrepâncias significativas entre os modelos.
Os cientistas alertam que os aerossóis produzidos pelo homem arrefecem as nuvens a um ritmo sem precedentes.