COVID-19 poderá provocar impactos no clima do planeta

Investigadores estimam de que forma a redução da poluição do ar e das emissões na atmosfera durante a pandemia poderá influenciar o clima no futuro.

COVID-19 pode causar impactos no clima do planeta
Investigadores estimam de que forma a redução da poluição do ar e das emissões na atmosfera durante a pandemia poderá influenciar o clima.

Um artigo divulgado recentemente na revista Nature abordou que impactos a pandemia trouxe ao clima do planeta, uma vez que a resposta global ao COVID-19 levou a uma redução repentina das emissões de gases com efeito de estufa e dos poluentes atmosféricos.

No momento em que a Organização Mundial da Saúde declarou o COVID-19 (cientificamente conhecido como Síndrome Respiratória Aguda Grave ou SARS-CoV-2) uma pandemia, o vírus já se tinha espalhado da China para outros países asiáticos, Europa e Estados Unidos.

Esta situação culminou em políticas de isolamento social e imposição de fortes restrições sobre viagens e trabalho em todos os países do mundo. Um dos efeitos destas restrições foi precisamente a redução das emissões de gases e de poluentes atmosféricos.

Estas grandes quedas de poluição devem ser temporárias, já que os níveis estão a voltar ao normal em grande parte da Ásia, foco inicial do vírus.

Os investigadores utilizaram dados de mobilidade global do Google e da Apple, uma fonte de informações sem precedentes que oferece uma oportunidade única de comparar tendências entre países.

Os dados indicam que uma grande parte da população mundial reduziu as viagens para metade durante abril de 2020. Além disso, há numerosas correlações entre a pandemia e alguns setores da indústria, especialmente a aviação e a navegação.

A análise mostra que as reduções de emissões provavelmente atingiram o seu auge em meados de abril de 2020.

Os dados sugerem que as emissões globais de gás carbónico de combustível fóssil e as emissões totais de óxidos de nitrogénio poderão ter diminuído até 30% em abril de 2020 devido ao declínio dos transportes de superfície, como carros, autocarros e camiões.

Por outro lado, a emissão de gás carbónico orgânico aumentou em torno de 1%, um resultado do aumento das emissões residenciais.

Já as mudanças na emissão de metano são principalmente impulsionadas pelo declínio do setor de energia e o dióxido de enxofre é mais fortemente afetado pela redução das emissões industriais.

Algumas evidências apoiam estes cenários, como a observação de um grande declínio nos níveis de dióxido de nitrogénio na atmosfera ao longo dos últimos meses em todo o planeta.

Resultados: o impacto da pandemia no clima

O que está a ser observado, portanto, é a combinação tanto de um aquecimento induzido pelos aerossóis quanto de um arrefecimento causado quer pelas reduções na concentração de gás carbónico quanto pelos óxidos de nitrogénio.

Os investigadores assumem, ainda, que condições de distanciamento social significativo podem ser necessárias por pelo menos dois anos, e portanto a redução das emissões continuará reduzida até ao final de 2021.

Os resultados, no entanto, não mostram impactos significativos no clima. Isto indica, portanto que a pandemia não será capaz de ter impacto ou alterar as mudanças climáticas observadas no planeta.

O efeito direto da resposta impulsionada pela pandemia será insignificante, com um arrefecimento de cerca de 0,01 °C até 2030.

O estudo sugere, no entanto, que caso haja um forte estímulo à políticas verdes e climáticas, o impacto sentido até 2050 pode ser bastante positivo, com uma redução de 0,3 ºC na tendência de aquecimento observada atualmente.

Muitos outros artigos e estudos têm indicado que este tipo de estímulo pode ser a chave para a recuperação da economia mundial e também para que os efeitos da recessão não sejam tão agressivos.

A pandemia pode, portanto, ser o ponto de partida para se construir uma sociedade mais eficiente e sustentável. Se seremos capazes de realizar tais mudanças, somente o tempo dirá.