Cientistas preveem exposição sem precedentes de determinado grupo de pessoas a fenómenos climáticos extremos

Estudo científico apresenta a forma como o aumento dos fenómenos extremos se traduz em exposição cumulativa sem precedentes durante a vida de uma pessoa.

Fenómenos extremos
Os fenómenos extremos estão a aumentar devido às alterações climáticas antropogénicas

Esta investigação projeta o número de pessoas que irão sofrer uma exposição cumulativa ao longo da vida a fenómenos climáticos extremos.

Impactos das ondas de calor nos jovens e nas populações vulneráveis

Este novo estudo, publicado na revista Nature, irá ajudar a comunidade climática a construir novas narrativas que clarifiquem melhor os impactos das alterações climáticas nas gerações mais jovens e nas populações vulneráveis.

Os autores utilizaram um caso de estudo centrado em Bruxelas e concluíram que as pessoas nascidas em 2020 sofrerão 11 vagas de calor sem precedentes durante a sua vida, mesmo que o aquecimento global se limite a 1,5 ºC até ao final do século.

Com recurso a modelos de um Projeto de Intercomparação de Modelos de Impacto, os autores calcularam a frequência das ondas de calor num mundo sem alterações climáticas e avaliaram também cenários em que o aquecimento se limita a 1,5 ºC, 2,5 ºC e 3,5 ºC até ao final do século.

Calor
Todos os cenários climáticos apontam para um aumento das ondas de calor no globo.

Além disso, utilizaram dados de informações demográficas, incluindo o número de pessoas que nascem nos países em cada ano e a sua esperança média de vida, diferentes bases de dados e as estimativas e projeções demográficas da ONU.

De acordo com o estudo, mais de metade das crianças nascidas em 2020, cerca de 62 milhões de pessoas, sofrerão uma exposição ao longo da vida, sem precedentes, a ondas de calor, mesmo que o aquecimento se limite a 1,5 ºC. No entanto, este número quase duplica para 111 milhões num cenário em que o aquecimento atinge os 3,5 ºC.

Os autores definem “exposição” como o número de eventos extremos que uma pessoa experimenta durante a sua vida, em relação ao número que teria experimentado num clima pré-industrial.

Este estudo mostra a evidência de que as ondas de calor têm impacto em todas as comunidades do mundo e oferece a visão mais clara de que a mudança climática é comprovadamente injusta: aqueles que menos contribuíram para o aumento das temperaturas globais sofrerão os impactos mais extremos.

Uma das informações importantes deste estudo é que apresenta a percentagem de pessoas de diferentes países, nascidas em 2020, que enfrentarão uma exposição vitalícia sem precedentes a ondas de calor nos cenários de aquecimento de 1,5 ºC, 2,5 ºC e 3,5 ºC.

Impactos de outros fenómenos extremos além das ondas de calor

O estudo analisa igualmente as quebras de colheitas, as inundações fluviais, os ciclones tropicais, os incêndios florestais e as secas.

Os autores do estudo chegaram à conclusão de que as quebras de colheitas e as inundações fluviais, afetarão, respetivamente, 23 milhões e 10 milhões de pessoas nascidas em 2020 perante um aquecimento de 1,5 ºC. Um número inferior às afetadas pelas ondas de calor.

Mantendo o aquecimento em 1,5 ºC, o número de pessoas nascidas em 2020 que serão afetadas por ciclones tropicais, incêndios florestais e secas será respetivamente cerca de 7 milhões, 9 e 6 milhões.

O estudo também abordou a forma como a vulnerabilidade socioeconómica afeta as suas conclusões, utilizando um índice de privação global, uma ferramenta que mede o nível de desvantagem e de dificuldades sentidas por indivíduos ou comunidades numa determinada área geográfica.

Os autores do estudo constataram que os grupos mais vulneráveis são maioritariamente oriundos de países africanos.

Vulnerabilidade ao longo dos anos
A percentagem de pessoas de alta vulnerabilidade (vermelho escuro) e de baixa vulnerabilidade (cor-de-rosa) em cada grupo etário que estariam expostas a um calor sem precedentes, num cenário de aquecimento de 2,7 ºC. Fonte: Gualdi e Muttarak, 2025).

Este estudo é um complemento importante da literatura científica, mostrando como os nossos atrasos no combate às alterações climáticas estão a pôr em risco o futuro das nossas crianças.

As crianças nascidas em 2020 enfrentarão uma exposição sem precedentes a fenómenos meteorológicos extremos, incluindo principalmente ondas de calor, secas e incêndios florestais, mesmo que o aquecimento se limite a 1,5 ºC acima das temperaturas pré-industriais, o que será pouco provável.

Referência da notícia:

“Global emergence of unprecedented lifetime exposure to climate extremes”, Luke Grant et al., Nature. Published: 07 May 2025.