Ameaça à viabilidade: taxa de crescimento populacional de golfinhos cai no golfo da Biscaia

Alerta de conservação urgente: a sobrevivência de golfinhos no Golfo da Biscaia cai devido a impactos humanos. Saiba mais aqui!

O golfo da Biscaia situa-se entre a costa norte de Espanha (onde é frequentemente chamado de Mar Cantábrico) e a costa sudoeste de França.

O artigo apresenta a primeira evidência de um declínio na viabilidade populacional do golfinho-comum (Delphinus delphis), o cetáceo mais abundante no Atlântico Nordeste, especificamente no Golfo da Biscaia. Este declínio é um sinal de alerta precoce de mudanças demográficas negativas, algo essencial para uma conservação eficaz, especialmente em face do declínio global das populações de megafauna marinha devido a impactos humanos.

Metodologia inovadora e resultados principais

Análises tradicionais de viabilidade populacional para cetáceos pelágicos, que são difíceis de monitorizar devido à sua mobilidade, geralmente dependem de dados de Captura-Marcação-Recaptura, que são logisticamente inviáveis. Este estudo utilizou uma abordagem alternativa, analisando dados de idade-à-morte de espécimes encalhados.

Os golfinhos são nadadores extremamente rápidos e ágeis, estando entre os cetáceos mais velozes.

Foi empregue um novo quadro metodológico de amostragem transversal com amostragem aleatória estratificada para mitigar o viés de seleção e relaxar a suposição de estacionaridade nas taxas vitais.

A análise de 759 espécimes encalhados (397 machos e 362 fêmeas) recolhidos entre 1997 e 2019 revelou um declínio dramático na longevidade das fêmeas, que caiu de 24 para 17 anos.

Esta perda de longevidade, que representa ≈7 anos de vida adulta esperada, implica uma redução no sucesso reprodutivo ao longo da vida, o que é crítico para a viabilidade populacional. A idade na maturidade sexual (AMS) para as fêmeas foi estimada em 7,3 anos.

Implicações Demográficas

O colapso da longevidade correspondeu a uma redução acumulada de 2,4% na taxa de crescimento populacional ao longo do período de estudo (1997 a 2019), com um declínio anual consistente de aproximadamente 0,3%.

Este resultado é atribuído exclusivamente à diminuição da sobrevivência, uma vez que outros parâmetros demográficos foram mantidos constantes na análise.

Esta queda é considerada substancial, pois representa uma redução significativa em comparação com a taxa máxima de crescimento de 4% tipicamente assumida para pequenos cetáceos.

Utilizam a ecolocalização (biossonar) para caçar. O seu sistema é tão avançado que lhes permite não só saber a distância, o tamanho e se o objeto está em movimento, mas também a textura e a densidade do alvo.

Apesar das estimativas de abundância se manterem estáveis (não mostrando evidências de declínio populacional), a tendência de queda na taxa de crescimento sugere que o Golfo da Biscaia se tornou um sumidouro demográfico (demographic sink) para a espécie. Esta inconsistência, juntamente com a alta mortalidade por capturas acessórias (bycatch) na região, indica provável imigração de águas adjacentes, mascarando a dinâmica local negativa.

Conclusão e Recomendações de Conservação

O estudo sublinha que as tendências na abundância populacional são limitadas na deteção de declínios rápidos em cetáceos, muitas vezes adiando ações de gestão oportunas.

O foco em alterações temporais nas taxas vitais, como a sobrevivência, oferece um poder preditivo superior para as trajetórias populacionais.

A descida da taxa de crescimento populacional serve como um indicador de alerta precoce de viabilidade que pode informar imediatamente a gestão de cetáceos no Atlântico Nordeste, preenchendo uma lacuna na Diretiva-Quadro Estratégia Marinha (MSFD) da União Europeia.

Os autores concluem que, embora medidas de emergência como o encerramento da pesca de 1 mês (implementado para 2024-2026) sejam importantes para reduzir a mortalidade induzida pelo homem a curto prazo, as suas descobertas demográficas indicam que são necessárias medidas de longo prazo para reverter o estado do Golfo da Biscaia, transformando-o de um sumidouro demográfico num ecossistema saudável.

Referência da notícia:

Rouby, E., F. Plard, V. Ridoux, et al. 2025. “ Longevity Collapse in Dolphins: A Growing Conservation Concern in the Bay of Biscay.” Conservation Letters 18, no. 5: e13142. https://doi.org/10.1111/conl.13142