A vincada presença da frente fria!

Apesar do contributo da precisão das ferramentas informáticas, a previsão do tempo continua a desafiar o conhecimento humano. Uma cuidada atenção aos indícios atmosféricos, proporcionou preconizar a mudança do tempo na passada quarta-feira.

Antes da passagem de uma frente fria ocorre uma ligeira diminuição na pressão atmosférica, e um brusco aumento após a sua passagem.

Um fenómeno atmosférico denominado de frente fria tem assolado a Península Ibérica desde a passada quarta-feira, interrompendo uma constante de amenas temperaturas e dias soalheiros. Efetivamente, o que aconteceu foi um pequeno desvio na agitada dinâmica das correntes de massas de ar que compõem o sistema atmosférico, manifestando-se pela injecção de ar polar marítimo sobre a plataforma continental, traduzindo-se num estado de tempo com características mais severas.

Um reflexo de na evolução da frente, por um lado, ocorrerem interações com os sistemas montanhosos que caracterizam a orogenia do interior da Península, assim como, com os processos de modificação adiabática da própria massa de ar, gerada por exemplo, pelo aquecimento diurno. Em resultado, ocorreu uma queda da pressão atmosférica, da temperatura e da humidade do ar, alterações da direção e velocidade do vento, aumento da nebulosidade, e surgiram períodos de intensa precipitação.

No que concerne à dinâmica que rege as diferenças de pressão, quanto maiores estas forem, maior será a quantidade e velocidade de ar, o qual frio, vai sendo comprimido, agregado e forçado a fluir de um centro de altas pressões, para um centro de baixas pressões, “habitat” do ar mais quente, impelindo este último a ascender.

Isto é, uma frente fria é a linha da frente, entre uma massa de ar frio e outra de ar quente, uma espécie de fronteira que é atraída em direcção ao calor, é uma barreira que antagonicamente vai anulando o poder da massa de ar frio. Ora, à medida que o ar frio, mais seco e denso, inunda uma placa continental, o ar quente é empurrado para cima, e, por acção da pressão atmosférica condensa, formando nuvens, primeiro do tipo Cumulus, e, quando, no estágio limite do teorema frio U condensação, formam-se as Cumulonimbus, revertendo-se em tempestuosos eventos de precipitação. Isso acontece porque, à medida que a frente avança, vai substituindo o ar quente e húmido, aumentando desse modo a formação de nuvens, potenciando a intensidade pluviométrica, e sendo geralmente, acompanhada de fortes rajadas de vento.

As frentes frias originam precipitação, porque arrefecem o ar até ao ponto onde a humidade retida condensa.

E como nos apercebemos da sua chegada?

Incontornáveis mudanças do padrão atmosférico, indicam o estabelecimento de uma frente fria, fazendo-se sentir alterações em parâmetros como:

  • - uma diminuição brusca e acentuada da temperatura do ar;
  • - uma mudança de direcção do vento dominante;
  • - ocorrência de precipitação, em geral sob a forma de aguaceiros.

Poder-se-ia, metaforicamente, comparar a dinâmica das frentes frias, essas massas de ar extremamente densas, com o mel, como líquido espesso e viscoso, que se espalha em todas as direções, movendo-se, em média, a uma velocidade de cerca de 10 m/s, o que permite extrapolar previsões, com recurso a ferramentas como as cartas de superfície, os modelos estatístico-meteorológicos, e aos essenciais diagnósticos de imagens de satélite, com uma considerável antecedência, e um espectro de confiança de cerca de 70%, para um espaço temporal de 5 dias, e de 95% para somente 48 horas!

Sucintamente, trata-se de um fenómeno natural, e de determinante importância na manutenção do equilíbrio entre o ar gelado que se movimenta nas células a partir dos pólos, e o ar quente que se acumula e desloca nas células na região equatorial do planeta. A constante recalibração do sistema atmosférico, exige permanente acompanhamento da sua dinâmica, sendo de relevante efeito, a ação concertada dos organismos de proteção civil, no âmbito preventivo e mitigador, junto dos cidadãos, avisando dos efeitos decorrentes de eventos atmosféricos severos, uma vez que é incontornável a sua ocorrência, cabendo ao Homem minimizar o risco de exposição.