A mecânica da Hidro-atmosfera

A energia solar impulsiona o movimento de massas de ar na atmosfera, numa busca por um equilíbrio dinâmico entre o grande contraste de temperatura existente entre os pólos e o equador, distribuindo-se assim o calor em redor do planeta. Saiba mais aqui.

O planeta Terra recebe, ininterruptamente, energia radiante do Sol num regime de 173 x 1015 W.

Em função do movimento de translação, a Terra dista do Sol entre uns curtos 147 e 152 mil milhões de quilómetros, uma distância que intervala em cerca de 8 minutos, o tempo que a luz solar que viaja a uns velozes 300 mil km/s chegue ao planeta. Da radiação solar recebida na Terra, aproximadamente 30% é refletida sem alteração na amplitude de onda, mas cerca de 47% é absorvida pela atmosfera, oceanos e litosfera, antes de ser irradiada de volta para o espaço, sendo que apenas 23% fica retido no sistema terrestre, representando esta energia, sob a forma de calor, a força motriz de massas de ar (ventos) e água (correntes e ondas) que modelam continuamente o sistema climático do planeta.

Esta dinâmica de equilíbrio, entre a admissão e a emissão de radiação, permite manter um óptimo de temperatura que possibilita a existência de vida e uma cíclica constância climática. Porém, para além da determinante influência que a radiação solar impele no sistema climático do planeta, é incontornável considerar a ação reguladora dos oceanos, através dos quais é (re)distribuída a energia recebida do Sol, sob a forma de calor, influenciando parâmetros como a humidade na atmosfera, desestabilizando-a.

A relevância de flutuações na TSM

O aquecimento dos oceanos influi com o aumento da temperatura do ar no planeta, uma vez que apesar da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) ter uma distribuição zonal, em função da latitude, concentrando-se normalmente as temperaturas mais elevadas na região equatorial e as mais baixas nas regiões polares, o efeito advectivo das circulações oceânicas horizontais e verticais perturba essa disposição. Quando a TSM é mais quente do que o ar que lhe está imediatamente acima, mais calor é transferido para a baixa atmosfera.

O ar quente é menos denso e sobe mais facilmente, criando uma zona de baixas pressões para onde o vento é impulsionado. Assim, uma região onde a TSM seja particularmente elevada implica com um aumento na intensidade dos ventos Alísios e da circulação de Hadley. Quanto mais quente for a superfície do mar, mais vigorosa será a convecção vertical, inferindo maior suscetibilidade de flutuação no comportamento da baixa atmosfera, e por inerência, maior ocorrência de fenómenos atmosféricos extremos.

Seja por causas naturais, como a aproximação do planeta ao Sol ou devido a fatores humanos, como poluição ou desflorestação, o aumento dos valores da temperatura do planeta não pode ser relacionado exclusivamente com perturbações no equilíbrio da atmosfera, mas também com o calor que é absorvido pelo colossal manto oceânico indutor de energia.

Estamos num intervalo de clima quente entre as cíclicas idades glaciares

Registos geológicos de há cerca de 600 milhões de anos, aferem a ocorrência de ciclos de arrefecimento que podem durar de dezenas a milhares de anos, em intervalos de 200 milhões de anos: as chamadas Idades do Gelo. O pico do último período glaciar ocorreu há 20 mil anos.

Refira-se que as comummente mencionadas “Mudanças Climáticas”, representam personificações de emergentes alterações nos padrões do sistema climático terrestre, resultando de uma dinâmica interação entre fatores tão díspares como: a quantidade de energia emitida pelo Sol que chega à Terra, a distância do planeta em relação ao Sol, a deslocação ou colisão de placas continentais, a variação da composição dos constituintes da atmosfera, a circulação oceânica (enfatize-se os efeitos que podem advir da abertura ou fecho de canais de circulação de correntes oceânicas, por provocarem significativa redistribuição de calor no planeta). Veja-se o canal do Suez (Mediterrâneo – Índico) construído entre 1859 e 1869, e o canal do Panamá construído entre 1904 e 1914 (Pacifico - Atlântico).

Destaque-se ainda os ciclos das marés oceânicas, as alterações na intensidade das marés, relacionadas com específicos alinhamentos do Sol, da Lua e da Terra, cuja periodicidade ronda cerca de 1800 anos, e que determinantemente contribuem para flutuações nas temperaturas do planeta, com alternância de períodos de arrefecimento e aquecimento do clima. Considere-se que os períodos de fortes marés oceânicas podem inferir na estabilidade climática por facilitar o transporte de águas mais frias e mais profundas para a superfície, fazendo diminuir a TSM e por consequência a pluviosidade. Antagonicamente, se as marés forem pouco enérgicas, parcamente ativas, emerge menos água fria, contribuindo para um período de aquecimento climático.

Os oceanos funcionam como uma assombrosa esponja absorvedora e distribuidora de calor, todavia um complexo conjunto de fatores concorrem para o equilíbrio da temperatura no planeta, conjugando a variabilidade natural com os efeitos antropogénicos. Aluda-se que alguns dos períodos mais marcantes da história da Humanidade, coincidiram com espaços temporais em que ocorreram grandes flutuações ao nível das marés, como a Pequena Idade do Gelo (1400 – 1700) e a grande seca da bacia do Amazonas há cerca de 4400 anos.