Stock de madeira na floresta caiu 10% devido aos incêndios de 2017. VAB da silvicultura atingiu 1 142 milhões de euros
As Contas da Floresta 2015-2023 publicadas pelo INE revelam que o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura e da exploração florestal voltou a diminuir (-1,4%) em volume, mas, ainda assim, aumentou 5,7% em valor.

Cerca de 36% do território português é floresta. Na União Europeia, a área de floresta representava, em 2022, aproximadamente 39% do território.
Além da tradicional produção de madeira, de cortiça e de outros produtos florestais, as florestas são cada vez mais valorizadas pelo seu papel ambiental e como bem público.
Em 2023, Portugal tinha uma área estimada de 3,35 milhões de hectares (ha) de floresta, tendo aumentado 1,2% comparativamente a 2015. Aproximadamente 67% é floresta disponível para o abastecimento de madeira.
Portugal com o maior crescimento florestal da UE
E o Eurostat, o gabinete oficial de estatísticas da União Europeia, revelou na última semana que, em 2023, Portugal registou o maior crescimento florestal na União Europeia (11,1%), com um desempenho à frente de países como a Dinamarca (7,6%) e da Irlanda (6,8%).
É que, entre 2020-2023, cerca de 87% do crescimento líquido de madeira em Portugal foi removido para a indústria, mas no período 2017-2019, as remoções ultrapassaram o crescimento líquido da madeira em aproximadamente 26%. O INE estima que, em 2022, o rácio médio na União Europeia tenha sido de 66%.
Em 2023 o crescimento líquido da madeira representou 11,1% das existências (stocks) iniciais de madeira na floresta.
Também em 2023, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura e da exploração florestal atingiu 1 142 milhões de euros, traduzindo “um crescimento nominal de 5,7% em relação ao ano anterior”, refere o INE. No entanto, descontando o efeito preço, esse valor registou uma redução em volume do VAB (-1,4%), pelo segundo ano consecutivo.
Peso relativo do VAB manteve-se
E as causas estão à vista. O INE não tem dúvidas de que esta evolução em termos reais foi “determinada pelo efeito conjugado de um decréscimo da produção (-1,4%) próximo do consumo intermédio (-1,5%)”.
Por outro lado, o peso relativo do VAB da silvicultura e da exploração florestal na economia nacional manteve-se em 0,5%, à semelhança do que sucede desde 2020.
E nem todos os números são negativos. O INE adianta que a produção da silvicultura e da exploração florestal “cresceu 5,6%, em termos nominais, em 2023, atingindo o seu valor máximo na série em análise”. Este aumento “refletiu fundamentalmente o acréscimo dos produtos não lenhosos silvestres, que correspondem essencialmente à remoção de cortiça e crescimento da cortiça na árvore, que moderaram o efeito dos decréscimos do crescimento líquido de madeira (-1,9%) e remoções de madeira (-3,1%)”.

O INE faz notar que, em toda a série disponível, estes dois últimos produtos representam mais de metade da produção. Em termos reais, o crescimento líquido da madeira, as remoções de madeira e os serviços característicos da silvicultura e da exploração florestal (que compreendem as plantações) foram determinantes na evolução negativa da produção (-1,4%), com decréscimos em volume de -4,1%, -5,2% e -9,3%, respetivamente.
Já os produtos não lenhosos silvestres (nos quais a cortiça tem um peso significativo) cresceram 36,1%.
Declínio da floresta de pinho e preços em alta
E há mais dados relativos às florestas. O INE revela igualmente que, em 2023, o crescimento líquido da madeira diminuiu 4% em volume, interrompendo a tendência de crescimento observada desde 2020. E, mais uma vez, os incêndios de 2017 tiveram “um forte impacto” nesse ano (-31,0%) e nos anos subsequentes (-2,1% e -1,0%), segundo a mesma fonte.
Já quanto à madeira para triturar, matéria-prima que é essencial na indústria de pasta de papel e também na produção de aglomerados, e tendo em conta que, em Portugal, a indústria papeleira está bastante desenvolvida, a necessidade de matéria-prima para transformar tem sido crescente. E tem gerado, nos últimos anos, um grande incremento da produção desta madeira, em particular de eucalipto.

Apesar disso, “a produção nacional não consegue satisfazer integralmente as necessidades do setor”, o que tem motivado “um crescimento sistemático das importações”, diz o INE.
Em 2023, o volume e o valor de madeira para triturar diminuíram 2,5% e 3,3%, respetivamente, após dois anos de acréscimos, destacando-se o crescimento nominal em 2022 de 26,3%, fundamentalmente induzido pelo forte aumento de preço (20,0%). Em 2023, o preço registou um decréscimo de 0,9%.
O INE divulgou, pela primeira vez, as Contas da Floresta para 2015-2023. Um projeto que constitui uma das contas económicas europeias do ambiente e corresponde às contas de ativos dos recursos florestais, que incluem os terrenos arborizados e a madeira dos terrenos arborizados, assim como as contas da atividade económica relativas à silvicultura e à exploração florestal.
Estas contas económicas combinam dados físicos de recursos florestais com dados económicos e de emprego, alargando o âmbito e o conjunto de informação que estava anteriormente disponível nas Contas Económicas da Silvicultura (CES).