Satélites e lixo espacial podem tornar os céus noturnos mais brilhantes

Inúmeras pessoas em todo o mundo olham para o céu noturno, não só astrónomos amadores e profissionais, mas também observadores casuais que gostam de olhar para as estrelas para contemplar o nosso lugar no cosmos.

lixo espacial; céu noturno
Desde sempre que o ser humano, um pouco por todo o mundo, gosta de contemplar o céu noturno.

O céu estrelado da noite não só tem inspirado inúmeras obras de música, arte e poesia, como também tem desempenhado um papel importante na cronometragem, navegação e práticas agrícolas em muitas tradições.

No entanto, o céu noturno está a mudar. Não só a poluição luminosa terrestre está a aumentar rapidamente, mas também o número crescente de satélites e detritos espaciais em órbita à volta da Terra começam também a ter impacto.

Um estudo anterior mostrou que os satélites e o lixo espacial podem aumentar a luminosidade geral do céu noturno. Já neste novo estudo, publicado na Nature Astronomy, Jessica Heim e os seus colegas aplicaram este conhecimento à previsão do desempenho de um grande levantamento astronómico do céu. Foi revelado que este fenómeno pode tornar o levantamento 7,5% menos eficiente e 21,8 milhões de dólares mais caro.

Um céu mais brilhante

O número de satélites em órbita está a crescer rapidamente. Desde 2019, o número de satélites funcionais em órbita mais do que duplicou para cerca de 7600. O aumento deve-se principalmente ao lançamento de grandes grupos de satélites pelo SpaceX e outras empresas para fornecer comunicações de alta velocidade pela Internet em todo o mundo.

No final desta década, estima-se que poderá haver 100 mil satélites na órbita da Terra. As colisões que geram detritos espaciais são mais prováveis à medida que o espaço se enche de novos satélites. Outras fontes de detritos incluem a destruição intencional de satélites em testes de guerra espacial.

O número crescente de satélites e de detritos espaciais reflete cada vez mais a luz solar em direção ao lado noturno da Terra. Isto irá quase certamente mudar o aspeto do céu noturno, dificultando os estudos para os astrónomos.

Uma das formas através da qual os satélites têm impacto na astronomia é ao aparecerem como pontos de luz em movimento, parecendo semelhantes a estrias através das imagens dos astrónomos. Outra é o aumento da luminosidade difusa do céu noturno.

Isto significa que todos os satélites que são demasiado escuros ou pequenos para serem vistos individualmente, bem como todos os pequenos pedaços de detritos espaciais, ainda refletem a luz solar, e o seu efeito coletivo é fazer o céu noturno parecer menos escuro.

Uma transformação sem precedentes

O aumento da luminosidade difusa do céu noturno irá também mudar a forma como o vemos a olho nu. Como o olho humano não pode identificar pequenos objetos individuais como um telescópio pode, um aumento dos satélites e dos detritos espaciais irá criar um aumento ainda maior da luminosidade aparente do céu noturno, quando e se recorrermos a este tipo de instrumento.

"Estamos a assistir a uma transformação dramática e talvez semi-permanente do céu noturno, sem precedentes históricos". - Jessica Heim, uma das autoras no novo estudo.

O aumento projetado da luminosidade do céu noturno tornará cada vez mais difícil ver estrelas mais fracas e a Via Láctea, ambas importantes em várias tradições culturais. Ao contrário da poluição luminosa terrestre (que tende a ser a pior perto de grandes cidades e áreas densamente povoadas), as mudanças no céu serão visíveis a partir de praticamente todo o lado na superfície da Terra.