Poeiras africanas: da Madeira voarão até Portugal continental

Desde ontem que o arquipélago da Madeira está envolto por partículas sólidas em suspensão na atmosfera. São invisíveis ao olho humano e conferem um tom esbranquiçado ao céu. A chegada de parte deste ar poeirento a Portugal continental está iminente. Também há risco para a saúde.

bruma seca; calima; poeira africana
A presença deste tipo de partículas sólidas e minúsculas em suspensão confere tom esbranquiçado ao céu e pode agravar problemas respiratórios.

Não são muitas as vezes em que os anticiclones representam um prenúncio de tempo adverso: devido a um centro de altas pressões localizado sobre o deserto do Sahara, gerou-se a advecção de uma massa de ar repleta de partículas minúsculas de poeira em suspensão que chegou até à Madeira. Ora, desde ontem que o arquipélago da Madeira se encontra sob a influência deste ar seco e repleto de pó. Posteriormente, parte deste ar poeirento chegará a Portugal continental. O que significa isto?

A bruma/névoa seca, designação em português ou ‘calima’ (designação espanhola) trata-se de um fenómeno natural que consiste, essencialmente, no transporte de partículas naturais com origem em regiões áridas. São partículas sólidas em suspensão na atmosfera, invisíveis ao olho humano e conferem um tom esbranquiçado ao céu. Quando atingem concentrações muito elevadas, degradam a qualidade do ar ambiente e podem representar um sério risco para a saúde humana.

Este evento natural continuará ao longo do dia de hoje, atingindo o auge esta quinta-feira, momento em que o arquipélago madeirense registará um aumento das concentrações à superfície que rondará os 50 mgm-3. A poeira em suspensão, que tem origem nos desertos do norte de África, também vai chegar até Portugal continental nas próximas horas, atingindo o auge amanhã, dia 18.

O nosso país está neste momento sob a influência de uma vasta região depressionária em deslocamento a oeste da ilhas Britânicas, que resulta numa circulação de quadrante sul nas camadas baixas da atmosfera. Ainda assim, esta configuração sinóptica não vai ser suficiente para remover a massa de ar quente e seca.

Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), estima-se um aumento das concentrações de partículas em suspensão (PM10) entre 20 a 50 mgm-3 nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Centro, interior Norte e litoral das regiões do Algarve e Alentejo, com um aumento de PM10 superior a 50 mgm-3 no interior das regiões do Algarve e Alentejo. Estas partículas contam com um tamanho inferior a 10 micrómetros (1 micrómetro corresponde à milésima parte de um milímetro).

Apesar da precipitação prevista, que deverá atenuar as concentrações de poeiras atmosféricas, esta situação meteorológica pode ter sérias implicações, acarretando potenciais riscos para a saúde, especialmente em pessoas que possuam alergias, problemas respiratórios, como a asma ou problemas dermatológicos (relativos à pele).

Devido à chuva prevista para estes próximos dias, sobretudo amanhã, é possível que se gere o fenómeno de “chuva de lama” provocado pelo junção da queda de partículas com a precipitação.

Outra invasão de ar sahariano à vista?

Não se descarta que durante o fim de semana, provavelmente no sábado dia 20, este material particulado que afeta a qualidade do ar ambiente volte a investir em território nacional.

Segundo alguns mapas, com a chegada do fim de semana, uma depressão poderá ajudar a limpar os céus da Madeira e, por outro lado, trazer uma segunda invasão de ar sahariano à Península Ibérica. Em Portugal continental, isso seria especialmente notório nas regiões Centro e Sul. Também parece que a chuva vai regressar em força. Estão a aproximar-se dias interessantes, meteorologicamente falando.