Os riscos dos fogões a gás para a saúde

Os fogões a gás produzem emissões que podem prejudicar a saúde humana e o meio ambiente. A polémica está instalada e fica a questão: será que os fogões a gás serão banidos?

fogão a gás
A maioria dos estudos sobre os efeitos do gás de cozinha na saúde tem sido observacional, porque seria antiético expor crianças intencionalmente a riscos ambientais.

Os cientistas sabem, há muito tempo, que os fogões a gás emitem poluentes que irritam as vias respiratórias humanas e podem causar ou agravar problemas respiratórios.

O furor recente, instalado nos EUA, parece ter sido desencadeado por comentários feitos por Richard Trumka, Jr., um comissário da Consumer Product Safety Commission (CPSC), uma agência governamental que aborda o risco de doenças e lesões de vários produtos.

Sobre os planos desta agência para regulamentar os fogões a gás, Trumka disse à Bloomberg News que “qualquer opção está sobre a mesa. Os produtos que não são totalmente seguros podem ser banidos.”

A polémica em volta da questão

Em resposta, os políticos conservadores reagiram contra o que perceberam como uma tentativa de proibir os fogões a gás. Os republicanos do Senado chegaram a introduzir uma legislação para proibir a CPSC de reprimir os populares aparelhos de cozinha.

O presidente da CPSC esclareceu que a comissão não está a planear nenhum tipo de proibição, mas está à procura de soluções para tornar os fogões a gás mais seguros.

Mas afinal, os fogões a gás produzem emissões prejudiciais à saúde humana?

Fogões a gás queimam gás natural, o que gera uma série de subprodutos invisíveis. A maior preocupação para a saúde humana é o dióxido de nitrogénio (NO2). Este gás é produzido quando o gás natural é queimado a altas temperaturas na presença de nitrogénio na atmosfera, de acordo com Josiah Kephart, professor assistente do Departamento de Saúde Ambiental e Ocupacional da Universidade de Drexel.

A Agência de Proteção Ambiental regula as emissões externas de NO2, estabelecendo padrões para o seu limite. Contudo, não existem padrões semelhantes para exposição interna. No entanto, estudos de décadas mostram os efeitos nocivos do NO2 em fogões a gás.

O nosso conhecimento sobre os impactos do NO2 na saúde aumentou significativamente nos últimos 10 anos e descobrimos que é um risco à saúde muito maior do que pensávamos anteriormente. - Josiah Kephart, Professor Assistente do Departamento de Saúde Ambiental e Ocupacional da Universidade de Drexel.

Estudos também demonstram que o gás natural não queimado escapa dos fogões - e esse gás contém benzeno, um conhecido agente cancerígeno.

Quais são os efeitos de saúde conhecidos à exposição ao NO2?

Numa meta-análise, de 1992, de estudos sobre este tópico, cientistas da EPA e da Duke University descobriram que a exposição ao dióxido de nitrogénio comparável à de um fogão a gás aumenta as chances de crianças desenvolverem doenças respiratórias em cerca de 20%.

Desde então, vários outros estudos documentaram os efeitos da exposição ao fogão a gás na saúde respiratória. Uma meta-análise de 2013, de 41 estudos, descobriu que cozinhar a gás aumenta o risco de asma em crianças.

Mais recentemente, um estudo publicado em dezembro revelou que 12,7% dos casos de asma infantil nos EUA podem ser atribuídos ao uso de fogão a gás.

Controvérsias

A American Gas Association (AGA), um grupo da indústria de gás natural, emitiu uma declaração contra o estudo de dezembro de 2022 que ligava os fogões a gás à asma. A declaração afirmava que os autores do estudo não realizaram medições do uso de aparelhos na vida real e ignoraram parte da literatura científica sobre esse tópico. A AGA citou um estudo separado que não mostra nenhuma evidência de ligação entre cozinhar com gás e os sintomas de diagnóstico de asma.