Novo alerta sobre possível apagão ibérico foi lançado pela Red Eléctrica de España após variações bruscas na tensão

A Red Eléctrica de España (REE) voltou a soar o alarme sobre a estabilidade da rede elétrica peninsular, após detetar variações bruscas de tensão que podem comprometer o fornecimento de energia em Espanha e Portugal. Seis meses após o apagão de abril, as autoridades nacionais reforçam a importância da preparação individual e comunitária.

Apagão de 28 de abril e as consequências sobre as infraestruturas.
O apagão de 28 de abril colocou em evidência a vulnerabilidade do sistema elétrico da Península Ibérica e demonstrou o impacte da falha generalizada deste sistema.

O apagão de 28 de abril expôs a vulnerabilidade do sistema elétrico ibérico e demonstrou o impacte imediato que uma falha generalizada pode ter em infraestruturas críticas. Os comboios pararam, os elevadores ficaram presos entre andares, as comunicações colapsaram e milhares de estabelecimentos foram obrigados a suspender a atividade. Em poucos minutos, a vida quotidiana de milhões de pessoas ficou em suspenso, num cenário que levou a União Europeia a ativar o seu plano de resiliência energética.

O documento da Comissão Europeia recomenda que todos os lares tenham um kit de emergência para 72 horas, preparado para situações de corte prolongado de energia.

Novo alerta da rede elétrica espanhola aponta para flutuações na energia

O novo alerta emitido pela Red Eléctrica, divulgado esta semana, indica que foram detetadas “variações bruscas de tensão na rede elétrica peninsular”, com potencial para afetar a estabilidade do fornecimento. Apesar das tensões se manterem dentro dos limites permitidos, a empresa adverte que estas flutuações, se não forem controladas, podem levar à desconexão automática de unidades de consumo ou geração, originando desequilíbrios que, em cascata, comprometeriam a integridade do sistema elétrico.

A empresa atribui essas oscilações à rápida expansão de instalações de geração renovável, nomeadamente solar e eólica, e ao tempo de resposta limitado dos sistemas encarregues de regular dinamicamente a tensão.

“A integração crescente de sistemas eletrónicos de potência, tanto em grandes centrais como em instalações de autoconsumo doméstico, criou novas dinâmicas no sistema elétrico”, explica a Red Eléctrica. “Muitos desses equipamentos não são visíveis para o gestor da rede, o que dificulta prever o seu comportamento em situações críticas”.

Em resposta, a REE solicitou à Comissão Nacional dos Mercados e da Concorrência (CNMC) a aprovação urgente de alterações técnicas e operacionais que reforcem o controlo e a estabilidade da rede. Entre as medidas propostas estão ajustes temporários nos procedimentos de programação, restrições técnicas, regulação secundária e controlo de tensão. Estas modificações teriam uma duração inicial de 30 dias, prorrogáveis por mais 15, enquanto são avaliadas soluções estruturais a médio prazo.

O Ministério para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico espanhol já instou a REE e a CNMC a adotarem “todas as medidas necessárias para garantir a segurança do fornecimento”. Embora a probabilidade de um novo apagão generalizado seja considerada muito baixa a baixa, o Governo espanhol admite que “a complexidade crescente do sistema energético europeu exige uma vigilância contínua e planos de contingência bem definidos”.

Pode repetir-se o mesmo cenário de abril? E estamos já preparados?

Para muitos cidadãos, no entanto, a pergunta é inevitável: poderá repetir-se o cenário de abril? Os especialistas reconhecem que a vulnerabilidade não desapareceu e que a rápida transição energética, embora essencial para cumprir as metas climáticas, está a colocar novos desafios à gestão da rede. A intermitência das fontes renováveis e a crescente descentralização da produção exigem sistemas de monitorização mais robustos e mecanismos automáticos de compensação para manter a estabilidade de frequência e tensão.

Em Portugal, a REN – Rede Energética Nacional acompanha de perto a situação. Fontes da empresa indicaram que os sistemas de interligação com Espanha estão “plenamente operacionais e sob monitorização constante”, mas sublinharam que qualquer instabilidade no lado espanhol pode ter reflexos imediatos em território português, dada a forte interdependência entre as redes.

Bruxelas insiste, por isso, na importância da resiliência doméstica. O objetivo não é gerar alarme, mas promover uma cultura de prevenção e autonomia em situações de crise energética. A recomendação de preparar um kit de sobrevivência de 72 horas baseia-se no princípio de que, em caso de falha generalizada, os serviços de emergência e abastecimento podem demorar até três dias a restabelecer condições mínimas de funcionamento. Nesse período, a capacidade de cada família em gerir recursos básicos pode ser determinante.

Seja uma simples lanterna ou um rádio a pilhas, cada item tem o seu papel na preparação para um cenário de interrupção prolongada de energia. E, embora ninguém deseje o regresso ao apagão de abril, as autoridades lembram que estar preparado é a melhor forma de reduzir o impacte de um evento que, apesar de improvável, permanece possível numa rede elétrica cada vez mais complexa e digital.