Leite e laticínios e indústria de carnes. Setor agroalimentar soma largos milhões de euros de prejuízos com o apagão

O corte abrupto de eletricidade ocorrido na passada segunda-feira, 28 de abril, gerou largos milhões de euros de prejuízos no agroalimentar. No setor do leite e na indústrias de laticínios e das carnes, as linhas de produção pararam. Empresários pedem ajuda.

ordenha das vacas
Com o apagão, as unidades de produção de leite sofrerem “constrangimentos por via da impossibilidade de realizar ordenhas e de refrigerar convenientemente o leite”.

Portugal viveu um apagão na passada segunda-feira, dia 28 de abril. O país ficou sem energia elétrica a partir das 11h33 da manhã e durante mais de 10 horas, deixando a população e as empresas de todos os setores de atividade abruptamente às escuras.

Entre os setores de atividade mais afetados está o setor agroalimentar, que opera com produtos altamente perecíveis, como o leite ou a carne.

Sem geradores, a ordenha das vacas nas vacarias, que é hoje totalmente mecanizada, não pôde ser feita e, na indústria de laticínios, as linhas de enchimento de leite ou de produção de iogurtes, queijos e manteigas paralisaram.

No setor agroindustrial lácteo, que labora em regime de laboração contínua 24 horas por dia, “a estimativa é ainda preliminar, mas deve ultrapassar os três milhões de euros", avança a Fenalac - Federação Nacional das Cooperativas de Produtores de Leite.

O setor lácteo caracteriza-se por um “consumo intensivo e contínuo de energia e pela forte dependência de refrigeração, devido à perecibilidade do leite e dos produtos lácteos”, refere a Federação. Esta falha de energia elétrica “impediu a descarga do leite nos estabelecimentos industriais, perturbando todo o processo a montante, nomeadamente a recolha contínua junto dos produtores”.

Por outro lado, as unidades de produção sofrerem “constrangimentos por via da impossibilidade de realizar ordenhas e de refrigerar convenientemente o leite”.

Indústria láctea quer planos de contingência

E, mesmo “após o restabelecimento da energia elétrica, os efeitos prolongam-se até ao dia de hoje [1 de maio, quinta-feira], devido à acumulação de matéria-prima não laborada no período do apagão e nas horas seguintes”, refere a Fenalac, que é liderada por Idalino Leão. Durante todo esse tempo, “foi necessário proceder à limpeza das linhas de produção industriais”, com os custos inerentes.

linha de produção láctea
No setor agroindustrial lácteo, que labora em regime de laboração contínua 24 horas por dia, “a estimativa é ainda preliminar, mas deve ultrapassar os três milhões de euros, avança a Fenalac.

A Federação das Cooperativas de Produtores de Leite, que representa cerca de 70% da recolha de leite em Portugal continental, entende que “importa apurar responsabilidades e determinar compensações justas para os prejuízos sofridos pelos operadores”.

O presidente desta estrutura, Idalino Leão, defende que “os prejuízos sofridos pela produção de leite devem merecer a atenção do Ministério da Agricultura”.

Também a ANIL - Associação Nacional dos Industriais de Lacticínios, veio alertar para os danos causados no setor, originados pelo apagão elétrico de âmbito nacional ocorrido a 28 de abril.

Afirmando que os prejuízos são "significativos", a ANIL diz que eles merecem "ser reconhecidos e tidos em conta", já que "o leite em natureza é altamente perecível, logo o setor não pode parar, de ponta a ponta".

Sete milhões de prejuízo nas carnes

Por essa razão, a ANIL apela reforçadamente ao Governo e às autoridades competentes para que a indústria de laticínios, enquanto atividade estratégica, "seja formalmente incluída como entidade prioritária, em termos energéticos, nos planos de contingência nacionais", especialmente em situações de exceção como a que se verificou.

Na indústria de carnes, por exemplo, o apuramento ainda não é definitivo, mas, entre as 58 maiores empresas do setor, os prejuízos variam entre 50 mil euros e 100 mil euros. Nas PME, as perdas situam-se entre os 10 mil euros e os 20 mil, por empresa. O prejuízo total só neste setor pode ter chegado aos sete milhões de euros.

Apesar de ainda ser “cedo para uma avaliação económica exaustiva”, a Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC) revela que “as linhas de abate, que operam de forma contínua e automatizada, ficaram paralisadas”, o que resultou na “rejeição de numerosas carcaças que se encontravam em linha, com números ainda por apurar”.

indústria de carnes
Na indústria de carnes, o apuramento ainda não é definitivo, mas, entre as 58 maiores empresas do setor, os prejuízos variam entre 50 mil euros e 100 mil euros. Nas PME, as perdas situam-se entre os 10 mil euros e os 20 mil, por empresa.

Também, a “produção de enchidos ficou comprometida”, diz a APIC, bem como a fatiagem e a embalagem das peças de carne e produtos cárneos, o que levou a “rejeições muito avultadas”.

Dado que “a maioria das unidades industriais não dispunha de geradores próprios nem conseguiu alugar equipamentos compatíveis com as suas necessidades energéticas”, dada a elevada potência exigida, os prejuízos foram inevitáveis.

Para a APIC, este episódio de corte abrupto e prolongado de energia elétrica “expõe de forma alarmante a perda de soberania de Portugal na produção de carne”, assim como mostra “a vulnerabilidade da indústria nacional face a perturbações energéticas”.

A Associação apela ao Governo que “crie mecanismos de apoio financeiro específicos”, que permitam às empresas adquirir geradores compatíveis com as suas necessidades.

Em paralelo, a APIC pede “um diálogo mais equilibrado entre autoridades competentes e o setor produtivo” e, por outro lado, que se “impeça os fornecedores de energia de se eximirem à responsabilidade dos danos causados”, uma vez que os prejuízos não são imputáveis às indústrias.