Lactogal baixa três cêntimos por litro no preço do leite à produção a partir de janeiro. Produtores estão “indignados”

A Associação dos Produtores de Leite de Portugal manifestou “profunda preocupação e indignação” face à decisão das três cooperativas acionistas da Lactogal (Agros, Proleite e Lacticoop). A descida de preço atinge 70% dos produtores.

Vacas
Portugal só tem, neste momento, cerca de 3300 produtores de leite no ativo, 2000 nos Açores e 1300 no continente.

O anúncio, nos últimos dias de dezembro, por parte das três cooperativas acionistas da Lactogal - Agros, Proleite e Lacticoop - de baixarem em três cêntimos por litro o preço ao produtor, a partir de 1 de janeiro, atinge imediatamente 70% dos produtores portugueses. E “poderá arrastar outras descidas por parte dos restantes compradores”, avisa a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP).

Portugal só tem, neste momento, cerca de 3300 produtores de leite no ativo, 2000 nos Açores e 1300 no continente.

Para a associação que representa a produção leiteira, estas descidas “são difíceis de aceitar, porque o preço do leite ao produtor em Portugal nunca acompanhou as subidas registadas noutros países, precisamente com o argumento de que o nosso mercado é maioritariamente interno ou ibérico”. Portanto, “usar agora a evolução negativa de outros mercados como justificação para baixas em Portugal revela uma enorme falta de coerência”, lamenta a APROLEP.

Os produtores portugueses “operam há vários anos num limiar de sobrevivência”, prossegue a associação, em comunicado.

Uma situação que os deixa “sem margem para investir, inovar ou responder às crescentes exigências em matéria de bem-estar animal, sustentabilidade ambiental e qualidade do produto”.

Acelerar o abandono da atividade

Em consequência, “qualquer redução do preço coloca em risco a viabilidade económica das explorações”. Além de acelerar o abandono da atividade, “comprometendo seriamente a produção de leite” em Portugal.

Leite
Os produtores portugueses operam há vários anos "num limiar de sobrevivência”, diz a APROLEP, o que os deixa “sem margem para investir".

Olhando para esta tendência, e sabendo-se que os preços de comercialização da carne de bovino estão em alta, os produtores leiteiros podem sentir-se tentados ou, até, obrigados a vender animais para abate, diminuindo à dimensão das suas explorações ou mesmo abandonando a atividade.

A APROLEP recorda que “a perda de produtores não é apenas um problema do setor”. É que “menos produção nacional significa maior dependência de importações, perda de emprego no meio rural, abandono do território e ameaça à soberania alimentar”.

Aumento das importações de lácteos

Aliás, em 2024, Portugal aumentou a dependência externa em produtos lácteos, sendo deficitário nos leites acidificados (52,5%), nas bebidas à base de leite (68,2%) e no queijo (60,8%).

A APROLEP não tem dúvidas: “sem preço justo à produção não haverá futuro para o leite português” por falta de viabilidade económica, com todas as consequências daí decorrentes para a indústria de laticínios, que terá mais dificuldade em abastecer-se de matéria-prima. A associação faz notar que esta descida nos preços do leite à produção acontece numa ocasião em que se acumulam “preocupações com os detalhes do acordo” de livre comércio com os quatro países do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai), que a Comissão Europeia deverá ratificar nos primeiros dias de janeiro de 2026.

Por outro lado, está em cima da mesa uma “redução de 20% de ajudas aos agricultores” na proposta de reforma da Política Agrícola Comum (PAC 2028-2034).

Leite
A APROLEP não tem dúvidas: “sem preço justo à produção não haverá futuro para o leite português” por falta de viabilidade económica.

A somar a tudo isso, há doenças emergentes, como a Dermatose Nodular Contagiosa, que já afeta países vizinhos, com Espanha à cabeça.

Por todas estas razões, a APROLEP decidiu solicitar uma reunião, “com caráter de urgência", ao ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, com vista a perceber se pode haver respostas em matéria de políticas públicas para ajudar a mitigar os problemas dos produtores de leite em Portugal.

No comunicado difundido nesta segunda-feira, 29 de dezembro, pela comunicação social, a APROLEP “renova, uma vez mais, o apelo ao consumo de leite e produtos lácteos nacionais”.

A associação diz que é preciso que os consumidores tenham a certeza de que o leite e os produtos lácteos nacionais são “produtos de qualidade reconhecida”, que estão “mais próximos, mais frescos e são melhores para a economia de Portugal”.