Férias forçadas: as ilhas mais bonitas onde ninguém queria estar
Entre praias paradisíacas e águas cristalinas, estas ilhas escondem um passado sombrio: foram prisões temidas onde a única fuga possível era sonhar com o continente.

Nem sempre uma ilha foi sinónimo de férias, caipirinhas e sombra de coqueiro. Durante séculos, vários pedaços de terra cercados de água serviram como prisões naturais — um método engenhoso (e cruel) de manter longe da vista e da memória quem incomodava o sistema.
Hoje, muitas dessas ilhas reinventaram-se: tornaram-se parques naturais, patrimónios da humanidade e até destinos turísticos. Mas, o passado permanece, entre muros gastos, celas vazias e histórias que dariam vários filmes — e deram mesmo. Vamos descobrir algumas das mais emblemáticas ilhas-prisão da história.
Alcatraz (EUA): o hotel de luxo dos fora-da-lei
Situada bem no meio da baía de São Francisco, Alcatraz foi durante quase três décadas (1934-1963) o lar nada acolhedor de alguns dos criminosos mais famosos dos EUA, como Al Capone. Originalmente usada como fortificação militar, a ilha transformou-se numa prisão de segurança máxima de onde ninguém (supostamente) conseguia escapar.
Atualmente, pode visitar a ilha de ferry, sem algemas, e ver as celas por dentro — arrepios incluídos.
Ilha do Diabo (Guiana Francesa): o inferno no trópico
Apesar do nome sugestivo, esta ilha perto da costa da Guiana Francesa era tudo menos encantadora. Entre 1854 e 1938, foi o destino “de férias” de cerca de 80.000 prisioneiros franceses, incluindo condenados por crimes menores e presos políticos.
Famosa pelo livro 'Papillon', escrito por Henri Charrière, que alegadamente escapou da ilha em 1935 (a sua história foi levada ao cinema duas vezes), este lugar era rodeado de águas infestadas de tubarões, vegetação densa e zero hipóteses de fuga. Literalmente, o diabo em forma de ilha.
Robben Island (África do Sul): da cela ao Nobel
A cerca de 11 quilómetros da Cidade do Cabo, esta ilha-prisão tornou-se mundialmente conhecida por ter sido o local onde Nelson Mandela esteve preso durante 18 dos 27 anos que passou encarcerado. Ali, sob duras condições e trabalhos forçados, o futuro presidente da África do Sul manteve viva a luta contra o apartheid.

Desde 1999, Robben Island é Património Mundial da UNESCO e símbolo da resistência e da reconciliação. Hoje, pode visitar a prisão com antigos reclusos como guias — sim, leu bem.
Santa Helena (Atlântico Sul): Napoleão em modo 'Robinson Crusoe'
Perdida algures no meio do Atlântico Sul, Santa Helena é um dos lugares mais isolados do planeta.
Ainda hoje se pode visitar a sua casa (bem, prisão disfarçada de residência) e o seu túmulo.
Coiba (Panamá): de prisão a paraíso natural
Durante quase um século, a Ilha Coiba funcionou como prisão de alta segurança no Panamá. A partir de 1919, foi o local para onde eram enviados os criminosos mais perigosos e dissidentes políticos.
Mas a natureza, como sempre, foi mais teimosa: hoje, Coiba é uma das ilhas mais bem preservadas da América Central e foi classificada como Património Mundial da UNESCO em 2005. Quem lá vai agora são mergulhadores em busca de tubarões-martelo, e não guardas prisionais.
São Lucas (Costa Rica): prisão tropical com morcegos e tubarões
Entre 1873 e 1991, esta ilha foi a mais temida prisão da Costa Rica. As condições eram tão desumanas que até os próprios guardas evitavam passar a noite ali.

Mas a natureza — outra vez ela — recuperou o espaço. Hoje, São Lucas é um parque nacional e refúgio de vida selvagem, com macacos, cobras, morcegos e tubarões à volta. Uma espécie de "Jurassic Park" sem dinossauros, mas com um passado assustador.
Ilhas Galápagos (Equador): não era só Darwin que andava por lá
Muito antes de serem o sonho de qualquer biólogo marinho, as Galápagos também serviram como prisão. Entre 1946 e 1959, a Ilha Isabela foi usada como colónia penal para cerca de 300 prisioneiros. Contudo, hoje, tudo o que resta são as tartarugas gigantes, iguanas marinhas e turistas curiosos. O passado sombrio foi literalmente soterrado por areia branca e documentários da 'BBC'.
Ilha de Sado (Japão): para onde iam os que falavam de mais
Durante a Idade Média, esta ilha ao largo do Japão era onde os opositores políticos iam "refletir sobre os seus atos" — em isolamento.
Hoje, é um destino turístico calmo, com festivais de tambores, gruas-coroa e muito pouco sinal de dissidentes.
E ainda… o prisioneiro mascarado de Sainte-Marguerite
Esta pequena ilha ao largo de Cannes, em França, foi palco de um dos maiores mistérios da história europeia. Em 1687, um homem foi ali preso, com o rosto coberto por uma máscara de veludo preto. Nunca se soube quem era, nem porque estava preso. Foi transferido para a Bastilha e morreu em 1703. Muitos acreditam que inspirou o famoso “Homem da Máscara de Ferro” de Alexandre Dumas.
Da brutalidade de Robben Island ao mistério de Sainte-Marguerite, estas ilhas mostram-nos que nem tudo o que parece um postal de férias é, de facto, um paraíso. Mas o tempo passa, e a história — com todos os seus dramas — acaba por ser reciclada em museus, parques naturais ou até filmes de Hollywood.
Da próxima vez que visitar uma ilha deserta, verifique se não há celas escondidas entre as palmeiras.