Cultura da maçã está a ser afetada pela escassez de água

Os produtores de maçã prevêem significativas quebras na produção devido às condições climáticas desfavoráveis que se tem sentido em Portugal. Contudo, há atualmente uma região portuguesa onde já existem ecopomares para fazer frente a estas adversidades.

Apanha da maçã
As elevadas temperaturas registadas em Portugal nas últimas semanas, provocaram fortes quebras na produção de fruta, sobretudo maçã.

O granizo sentido em maio, a falta de água devido à seca e as elevadas temperaturas dos últimos meses provocaram quebras de mais de metade na produção da maçã em Carrazeda de Ansiães.

Os produtores em Carrazeda de Ansiães, distrito de Bragança, estimam que haja perdas na produção que ultrapassam os 70%, devido às condições climáticas adversas, com a seca a atrasar a apanha do fruto e a diminuição do calibre da fruta.

Os produtores deparam-se com um ano atípico. No ano passado, a Herdade do Catalino produziu mil toneladas de maçã e este ano, prevêem nem chegar às 400, segundo o JN.

O concelho de Carrazeda de Ansiães é um dos maiores produtores de maçã da região agrária de Trás-os-Montes, onde são produzidas as variedades dos grupos Golden: Red Delicious, Gala, Reineta Parda, Jonagold, Granny Smith, Fuji e Bravo.

"As geadas na floração e granizo [em maio] deixaram estragos. Agora, seguiu-se a seca, que está a ser muito problemática uma vez que não conseguimos fazer a rega das plantas e vai haver dificuldades na maturação do fruto" - produtor José Reixedo.

De acordo com o produtor José Bernardo, este ano não haverá rentabilidade face aos encargos com os fatores de produção, e alerta que os próximos anos também vão ser difíceis para a produção devido à falta de água.

Segundo dados avançados pela autarquia de Carrazeda de Ansiães, dos 6.916 hectares de área agrícola existentes no concelho, 800 hectares estão a produzir maçã. Carrazeda de Ansiães produz, num ano normal, entre 28 a 30 mil toneladas de maçã, o que o torna no maior produtor de maçã da região de Trás-os-Montes.

Pomar de maçã com tela branca antigranizo. Fonte: Embrapa

Sendo uma das principais ameaças da fruticultura o granizo, alguns agricultores têm apostado na instalação de redes protetoras sobre as macieiras, mas o método que está a ganhar mais adeptos é a colocação de torres com um canhão que dispara para o ar cargas químicas que dispersam as nuvens da trovoada e destroem o granizo.

Esta solução está a ser testada no Douro Sul, nomeadamente nos concelhos de Armamar e Moimenta da Beira. Em Carrazeda de Ansiães pondera-se seguir o exemplo, por ser uma solução mais económica do que as redes.

Projeto inovador: Ecopomar em Alcobaça

Reconhecendo que os verões amenos e as baixas temperaturas geram uma diferenciação climática que permite isso, a redução do consumo de água nas explorações de maçã deve-se à tentativa dos produtores serem resilientes e lutarem contra a escassez de água no território, onde apenas 5% dos pomares beneficiam de dois a três regadios públicos.

Desta forma, um processo de uso eficiente da rega promovido pela Associação de Produtores da Maçã de Alcobaça (APMA) faz desta região a que menos água utiliza no mundo para cultivar o fruto, apostando na investigação e em ecopomares.

Esta é a região da Europa, que usa menos água para fazer um quilo de maçã e que usa menos água para fazer uma maçã, de acordo com o presidente Associação de Produtores de Maçã de Alcobaça (APMA), Jorge Soares.

É estimado que no cultivo do fruto sejam usados em média 60 litros de água por quilo, quando em Espanha esse valor sobe para 250 litros por quilo e na Argentina para 350 litros por quilo.

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Os dados fornecidos pelo equipamento mostram que se houver uma humidade satisfatória ou elevada no solo, e se estiver um dia de pouca evapotranspiração, os produtores sabem que não é necessário fazer a rega no pomar, porque essa necessidade hídrica está satisfeita.

Já se a reserva de água no solo for insuficiente é feita uma rega variável de dia para dia e não uma rega padrão, e é este ajuste diário, semanal que permite poupar, sem regar por excesso.

"Queremos estar na primeira linha da redução e do uso eficiente da água" - Jorge Soares, presidente da APMA.

Dados fornecidos pela APMA demonstram que nas duas últimas décadas, a prática de rega localizada gota a gota permitiu a redução de 5.000 metros cúbicos m3 para 3.000 m3 na água usada para produzir meio milhão de maçãs por hectare. Nos últimos cinco anos, com as técnicas de monitorização, a redução chegou aos 1.500 m3 para a mesma quantidade de fruto.

E este ano, face à necessidade de gerir a pouca água existente, em algumas explorações da área protegida que se estende entre Torres Vedras e Leiria, a redução pode chegar aos 1.000 m3.

Redução e eficiência no uso da água

No tema da eficiência hídrica, a associação tem já em experimentação um sistema inteligente que avalie, no futuro, o crescimento e qualidade do fruto e que determine as quantidades e horas de rega adequadas.