Após uma década de abandono, o Mochão da Póvoa vai acolher turismo de natureza
A ilhota entre Alverca e Loures esteve quase a ser engolida pelo Tejo, mas agora vai ser recuperada para um projeto que inclui observação de aves e alojamentos temporários para grupos de universitários.

Localizada a pouco mais de 10 quilómetros de Lisboa, o Mouchão da Póvoa é o maior do Estuário do Tejo. Com cerca de 810 hectares, esteve em vias de desaparecer, quando, em abril de 2016, a rutura de um dique deixou esta ilhota fluvial, entre Alverca e Loures, parcialmente alagada durante quase uma década.
Mas, depois de muitas soluções e projetos públicos fracassados, esta ilhota do Tejo vai ser finalmente resgatada para um projeto de ecoturismo, revelou recentemente ao jornal Público, a imobiliária Alvoradas e Savanas, sediada no concelho de Loures.
A empresa adquiriu o que resta do mouchão por 5,21 milhões de euros, pretendendo recuperá-lo através de um empreendimento turístico ecológico que inclui a valorização ambiental de todo este território.
Um lugar carregado de história e vida selvagem
Durante séculos, o Mouchão da Póvoa foi usado como um extenso campo para a agricultura, tendo até já sido considerado um dos maiores parques agrícolas da Europa.
Os diques protegeram-no contra as cheias, permitindo o cultivo intensivo e criando ainda condições para que um rico ecossistema estuarino pudesse prosperar, abrigando mamíferos, como como javalis, gamos e veados, em áreas adjacentes, e colónias de aves, muitas delas migratórias.
Com as águas a inundarem o mochão, após o dique se romper, a agricultura tornou-se impraticável, ficando este lugar ao abandono. Celeiros, casas, anexos e até uma famosa fonte de água mineral acabaram degradados e em ruínas.

O que se seguiu depois foi um longo processo, marcado pela insolvência dos seus proprietários, impasses administrativos, anúncios de intervenção pública nunca concretizados e disputas judiciais pela posse da ilha.
A renaturalização da ilhota do Tejo
Este longo e atribulado caminho culminou este ano com a venda do mouchão em hasta pública, vencida pela Alvorada e Savanas. Ao jornal Público, o administrador da empresa, Rui Barros, contou que a compra da ilhota já vinha a ser planeada há mais de uma década.
Reconhecendo o seu potencial único - próximo de Lisboa e imerso em história e paisagens naturais - a empresa admite ter de vir a investir mais alguns milhões de euros para reabilitar o encanto deste lugar esquecido ao longo dos últimos anos.
O que, no entanto, poderá avançar já no curto prazo é a renaturalização de toda esta área com um grande projeto de desassoreamento do Tejo a ser conduzido pela Administração do Porto de Lisboa. Os trabalhos irão implicar a utilização das terras e lodos do leito do rio na recuperação dos solos do mouchão.
O renascer de um santuário para aves
Este será o primeiro passo para se poder desenvolver o projeto de ecoturismo no Mouchão da Póvoa. O plano vai estar centrado na observação da natureza e nas atividades de birdwatching, com percursos pedonais, centro histórico e interpretativo, espaços de apoio a visitantes e alojamentos de pequena dimensão destinados sobretudo a grupos de estudantes universitários.

A estratégia, segundo a nova proprietária, passa por adaptar a estruturas já existentes, evitando assim, novas construções. Uma das atrações será também uma pequena área de restauração vocacionada para a gastronomia tradicional do Tejo e ainda instalações para eventos pontuais que promovam somente visitas de curta duração.
Referência do artigo
Jorge Talixa. Maior ilha do Tejo, inundada há nove anos, foi comprada por 5 milhões para turismo ecológico. Jornal Público