Alqueva vai reforçar o abastecimento de água ao Algarve
A interligação do maior lago artificial da Europa com as barragens de Santa Clara, em Odemira, e de Bravura, em Lagos, surge na sequência do acordo com Espanha para utilizar o caudal do Guadiana.

Os municípios do Algarve vão dar início ao projeto de transvase do Alqueva. O arranque das obras deverá acontecer até ao final do ano, esperando-se que o abastecimento da água seja reforçado através de várias ligações com aquele que é o maior lago artificial da Europa.
A interligação do Alqueva com as barragens de Santa Clara, no concelho alentejano de Odemira, e de Bravura, no município algarvio de Lagos, surge na sequência da autorização de Espanha para a utilização de 60 hectómetros cúbicos do rio Guadiana, obtida durante a última cimeira ibérica, em outubro do ano passado.
Embora a situação hidrológica tenha conhecido uma significativa melhoria nos últimos meses, os autarcas temem que a região seja atingida em breve por novas secas. Decidiram, por isso, avançar o mais depressa possível com o projeto de ligação para evitar a escassez de água.
A avaliação técnica irá definir o trajeto da água
Os planos preveem a captação de água a jusante do Alqueva, no Pomarão. A água, atualmente, já é conduzida até Ourique, mas será necessário avaliar se as infraestruturas existentes são suficientes para transportar os 30 hectómetros cúbicos adicionais pretendidos até à zona do Barlavento Algarvio.
Esse é o objetivo do estudo que já arrancou e que incluirá também a análise dos possíveis percursos da água, incluindo a passagem por barragens intermédias, como a de Santa Clara.

Em preparação está o caderno de encargos para realizar a avaliação técnica, com um custo estimado superior a meio milhão de euros. Duas alternativas estão a ser equacionadas para o destino final da água: a barragem de Bravura, em Lagos e a de Odelouca, a maior da região. O custo total da obra, bem como o seu modelo de financiamento, todavia, têm ainda de ser definidos.
O certo é que o acordo alcançado com Espanha permitirá utilizar 30 hectómetros cúbicos para a tomada de água do Pomarão e 30 hectómetros cúbicos para reforçar o Alqueva, intervenções consideradas essenciais para fornecer água ao barlavento e sotavento algarvios.
Mais intervenções estão previstas no Guadiana
Os projetos para combater a escassez de água na região algarvia não vão ficar por aqui. Está ainda prevista uma operação integrada nas rias e ribeiras do Baixo Alentejo e do Algarve.

A obra, com um valor estimado de 40 milhões, vai ser financiada pelo Programa Operacional Regional e inclui a construção de duas reservas fluviais - uma no Rio Vascão, no Sotavento Algarvio, um dos afluentes do Guadiana, e outra na Ribeira de Odeceixe, no Barlavento.
A Agência Portuguesa do Ambiente, em articulação com a Câmara Municipal de Mértola, no distrito de Beja, está também a preparar os estudos para renaturalizar as margens do Guadiana.
A empreitada, incluída na reprogramação do Plano de Recuperação e Resiliência, está a ser proposto à Comissão Europeia, que deverá aprovar uma verba de 10 milhões de euros para restaurar os ecossistemas ribeirinhos, com a recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade.

O processo irá incluir ainda a remoção de barreiras fluviais, o restauro de galerias ripícolas e a plantação de flora autóctone. O objetivo é devolver ao rio a sua condição natural, melhorando a qualidade da água e promovendo a recuperação ecológica da região.
Na sequência do acordo com Espanha e, graças à nova tomada de água no Pomarão, está planeada também a construção de uma ligação ao ponto de entrega da Águas do Alentejo, na localidade de São Bartolomeu da Via da Glória, em Mértola, tendo em vista o abastecimento de água para o consumo humano.
A iniciativa tem como finalidade resolver as insuficiências de fornecimento de água potável às populações das localidades de Mesquita e de Espírito Santo, assim como os territórios limítrofes. Ao todo, são cerca de 300 habitantes que ainda dependem de soluções precárias, designadamente o abastecimento por autotanques.
A decisão de avançar com esta infraestrutura mantém-se como prioritária apesar do aumento da precipitação no último inverno. Segundo a Agência Portuguesa do Ambiente, os aquíferos da região não registaram recuperação significativa, permanecendo em estado crítico. A comissão de acompanhamento da seca deverá reunir-se em julho para reavaliar as medidas em curso e futuras intervenções.