A poderosa vaga de frio de fevereiro de 1956 que deixou Portugal congelado

Há 67 anos Portugal continental foi viveu um excecional episódio de frio intenso, longo e sem precedentes. De acordo com os registos climatológicos modernos, fevereiro de 1956 foi o mês mais gélido observado no nosso país desde 1931. Relembre aqui esta extraordinária efeméride meteorológica!

fevereiro 1956; Portugal; frio extremo
Em fevereiro de 1956 Portugal continental viveu um episódio de frio de longa duração e muito severo.

Fevereiro de 1956 foi um mês particularmente excecional para a história da Climatologia em Portugal continental. Não ocorreu apenas um episódio de frio, mas sim vários. A mais longa e intensa vaga de frio teve lugar no período de 10 a 25 de fevereiro, e afetou severamente as regiões do Norte e Centro do país e a região de Lisboa.

Esta vaga, pela sua duração - cerca de 15 dias -, extensão espacial, intensidade e severidade (em particular para regiões da Serra da Estrela e Nordeste Transmontano, como se pode ver no mapa do tweet abaixo) pode ser considerada a mais significativa observada desde 1931. Foi precedida por uma outra, entre os dias 3 e 8 de fevereiro, que se limitou a alguns locais das regiões de Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo Litoral.

Num mundo pautado pelo gradual aquecimento global e por uma tendência que indica que a frequência de ocorrência de ondas de frio tem diminuído significativamente nos últimos 35 anos, os registos oficiais do tempo e do clima no nosso país mostram que, o mês de fevereiro de 1956 continua, à data de hoje, a ser o mais frio observado em Portugal desde 1931 (data de início dos registos da Meteorologia e Climatologia moderna).

A anomalia da temperatura média desse excecional mês foi de -4,7 °C tendo como referência a normal climatológica de 1971-2000, a da temperatura mínima -5 °C e a da temperatura máxima, -4,9 °C.

11 e 12 de fevereiro de 1956, quando o termómetro baixou para valores extraordinariamente baixos

De acordo com a carta sinóptica de superfície dos dias 11 e 12 de fevereiro de 1956, os valores de temperatura mínima registados foram extremamente baixos. Após deixar meia Europa congelada, uma massa de ar muito frio com origem e trajeto continental que se movimentava na circulação de um amplo anticiclone localizado a sul da Islândia, chegou a Espanha e Portugal entre os dias 10 e 11. Deixou neve nalgumas regiões da Península Ibérica, sobretudo no Norte e Centro peninsular.

Nestes dois dias quase toda a geografia continental lusa apresentou valores de temperatura mínima inferior a 0 °C (exceto Cabo Carvoeiro e Sagres). Alguns dos valores de temperatura mínima inferiores a -10 °C no interior Norte e Centro: -16 °C em Penhas da Saúde; -14 °C em Lagoa Comprida; -13,3 °C em Penhas Douradas; -12.3 °C na Guarda; -10.8 °C em Montalegre; -10.0 °C em Miranda do Douro, Moimenta da Beira e Arouca/Serra da Freita.

No referido dia 10 uma bolsa de ar descolou-se a -18 ºC na camada dos 850 hPa sobre a parte do Nordeste da Península Ibérica, mantendo-se este nível de pressão sobre Portugal e Espanha durante uns 4 a 5 dias, o que mostra quão duro, severo e intenso foi este episódio de frio, quer em espacialmente, quer em duração.

Uns dias mais tarde, entre os dias 17 e 18 uma nova massa de ar frio entrou no nosso país, não tão intensa como as que a antecederam, mas também se sobressaiu ao agravar e prolongar a situação de frio, nalgumas regiões até ao dia 25. Nesta ocasião foi uma massa de ar ártico continental, vinda de Norte, que alcançou a Península Ibérica após movimentar-se para sul, obrigada a cá chegar devido a duas cristas anticiclónicas que rodeavam a Europa.

Este episódio foi invulgarmente gélido e de longa duração

Segundo consta nos registos oficiais, disponibilizados pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), ao longo do extraordinário mês de fevereiro de 1956, os valores da temperatura do ar (máxima e mínima) foram baixíssimos. As regiões mais elevadas em Portugal continental registaram valores de temperatura máxima inferiores a 0 °C (os chamados ice days).

Na área da Serra da Estrela o número de dias com valores de temperatura máxima inferiores a 0 °C variou entre 14 (Penhas Douradas) e 20 (Lagoa Comprida). Nas áreas de montanha do Norte e do Centro, durante o mês inteiro, foram registados valores de temperatura mínima abaixo de 0 ºC, tendo inclusive ficado abaixo de -5 ºC durante mais de 14 dias. Também se salientaram, outros valores extremos de temperatura mínima, expressos na tabela abaixo.

LocalidadeValor extremo temperatura mínima11 fevereiro 195612 fevereiro 195613 fevereiro 195614 fevereiro 1956
Marvão-9,5 ºCx
Marinha Grande-8,5 ºCx
Salvaterra de Magos-6,3 ºCx
Dois Portos-6 ºCx
Melgaço-5,8 ºCx
Setúbal-5,3 ºCx
Vila Real de Santo António-5 ºCx
Évora-5 ºCx
Buarcos-3 ºCx
Lisboa/Tapada-2,8 ºCx
Lisboa/Geofísico-1,2 ºCxx
Monte Estoril-0,9 ºCx

Com que critérios uma vaga de frio é assim classificada?

Segundo o critério aplicado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e por conseguinte pelo IPMA, uma vaga de frio é assim designada quando durante pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura mínima diária é inferior em 5 °C ao valor médio diário do período de referência.

Curiosidades e outros episódios de frio em Portugal

  • -16 °C, valor de temperatura mínima observado no dia 12 de fevereiro de 1956, na estação meteorológica de Penhas da Saúde (Serra da Estrela) perdura, à data de hoje, como o extremo absoluto da temperatura mínima em Portugal continental.
  • É nas décadas de 1940, 1950 e 1970, e especificamente nas regiões do interior Norte e Centro, que é costuma ocorrer um maior número de vagas de frio.
  • Exceção notável às décadas supracitadas: vaga de frio de fevereiro de 1983, com a duração entre 6 e 11 dias.