10% da chuva do furacão Ian foi acrescentada pelas alterações climáticas

As alterações climáticas acrescentaram pelo menos 10% mais chuva ao furacão Ian, tal como afirmado num estudo realizado imediatamente após a grande tempestade. Saiba mais aqui!

Ian
Imagem do furacão Ian. Fonte: NASA.

Uma investigação feita imediatamente após a passagem do furacão Ian, comparou os picos de precipitação durante a tempestade com cerca de 20 cenários diferentes, de um modelo com as características deste furacão, a afetar o Sunshine State (Flórida), num mundo sem alterações climáticas.

"A tempestade causada por Ian foi 10% mais húmida do que devia ter sido", disse o cientista climático Michael Wehner, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, e coautor de um estudo que serviu de base para estes novos resultados. Os meteorologistas previram que a passagem de Ian poderia originar até 61 centímetros de chuva em algumas partes da Flórida.

O impacto das alterações climáticas nos furacões

Wehner, e Kevin Reed - um cientista atmosférico da Universidade Stony Brook -, publicaram este estudo na Nature Communications em maio deste ano, em que analisaram os furacões de 2020 e encontraram, durante os seus períodos mais chuvosos, mais 10% de humidade do que num mundo sem gases com efeito de estufa a prender o calor. Wehner e Reed aplicaram a mesma técnica de atribuição, cientificamente aceite, ao furacão Ian.

Uma regra de longa data da Física é que, para cada grau Celsius extra de calor, o ar na atmosfera pode conter 7% mais água. Na semana da passagem do furacão Ian, o Golfo do México estava 0,8 ºC mais quente do que o normal, o que deveria ter significado cerca de 5% mais chuva.

A realidade acabou por ser ainda pior. Os cálculos demonstraram que o furacão originou o dobro da precipitação, isto é, 10% a mais.

Outros estudos têm mostrado o mesmo feedback de tempestades mais fortes em tempo mais quente, afirmou o cientista atmosférico Gabriel Vecchi, da Universidade de Princeton, que não fez parte do estudo.

"Em geral, um mundo mais quente torna as tempestades mais chuvosas." - Kerry Emanuel, investigador de furacões do Massachussetts Institute of Technology ( MIT).

Em suma, os investigadores assumem que as alterações estão a contribuir, cada vez mais, para o aumento da intensidade dos eventos extremos e afirmam que veremos mais tempestades como Ian, em que os valores de precipitação podem ser mais elevados do que previamente pensado.