Qual será o futuro do argão na Península Ibérica?

A introdução assistida da árvore Argania spinosa (argão) na Península Ibérica, como resposta ao avanço da desertificação e ao declínio de espécies nativas.

As cabras gostam muito da polpa do fruto da árvore de argão e frequentemente sobem nas árvores para o comer, o que ajuda na dispersão das sementes.

A introdução assistida da árvore Argania spinosa (argão) na Península Ibérica, como resposta ao avanço da desertificação e ao declínio de espécies nativas como o sobreiro (Quercus suber) e a azinheira (Quercus rotundifolia), fortemente afetadas pelas alterações climáticas o que compromete os importantes serviços ecossistémicos, como a conservação do solo, a regulação hídrica, a biodiversidade e o apoio às economias locais.

A distribuição futura destas espécies nativas deverá deslocar-se para norte, reduzindo a sua presença nas regiões mais secas do sul da Península.

Através de modelos de distribuição climática baseados em dados da sua área nativa (Marrocos e Argélia) e da Península Ibérica, usando o software MAXENT, os autores avaliaram o potencial de adaptação do argão a estas novas regiões.

Foram considerados cenários futuros (2041–2060) com base no pior cenário climático (SSP5–8.5), tendo em conta variáveis como a temperatura mínima do mês mais frio e a variação térmica diária e incluíram três modelos climáticos distintos para maior robustez.

O que os resultados nos mostram?

Os resultados mostram que atualmente cerca de 6,7% da Península Ibérica possui condições climáticas altamente favoráveis para o argão, e este valor poderá aumentar até 22% nas próximas décadas. O argão, resistente à seca e com uma grande plasticidade ecológica, já demonstrou capacidade de adaptação em regiões fora do seu habitat natural.

Além disso, fornece vários serviços ecossistémicos importantes, como a proteção contra a erosão do solo, sombra para outras culturas, alimento para animais e produção de óleo com valor económico.

O óleo de argão é conhecido pelas suas propriedades hidratantes, regeneradoras e antioxidantes.

Os autores argumentam que a introdução do argão poderá funcionar como complemento à conservação das espécies nativas, garantindo a continuidade dos serviços agroflorestais e contribuindo para a resiliência socioeconómica das comunidades locais.

Monitorização e precaução

Consideram, no entanto, que esta estratégia deve ser cuidadosamente planeada, incluindo monitorização a longo prazo, avaliação dos impactos ecológicos e estudo da aceitação social e económica da cultura do argão.

O risco de invasão é considerado baixo, dada a lenta taxa de crescimento da espécie e a sua limitada competitividade com outras plantas. O estudo conclui que o argão pode ser uma opção viável como parte de uma estratégia mais ampla de adaptação às mudanças climáticas na Península Ibérica.

Referência da notícia:

Inês Gomes, Sergio Chozas, Mari Cruz Díaz Barradas, Fernando Louro Alves, Fernando Ascensão, Predicting the climatic suitability of non-native drought resistant trees in the face of desertification – A case study with Argania spinosa in the Iberian Peninsula, Agriculture, Ecosystems & Environment, Volume 376, 2024, 109232, ISSN 0167-8809, https://doi.org/10.1016/j.agee.2024.109232.