Muita chuva no Natal: ‘comboio’ de frentes atlânticas atinge Portugal

A primeira fase do temporal atlântico arrancou ontem à noite pelo sudoeste de Portugal continental. Ao longo dos próximos dias a chuva atingirá todo o país, inclusive nas festividades natalícias. Nalgumas regiões as acumulações serão impressionantes!

chuva; trovoada; Natal
A semana do Natal será muito húmida e instável em Portugal continental. Guarda-chuvas 'en garde'!

Até ontem à noite o panorama meteorológico que esteve em vigor derivava do anticiclone, que com as suas altas pressões nos trazia um estado do tempo estável, seco e soalheiro. Exceção feita aos vales do interior do país, em regiões como Trás-os-Montes e Beira Alta, onde o nevoeiro foi persistente. O fluxo fraco de leste também foi-se mantendo, a par de temperaturas relativamente amenas para a época do ano.

Mas, nas últimas horas, a situação meteorológica alterou-se drasticamente e assim continuará nos próximos dias. Será particularmente incisiva nos dias de Natal. Espera-se chuva forte e persistente, distribuída por todo o país. Grande parte das regiões afetadas estão a atravessar uma grave seca meteorológica que se arrasta há várias meses e esta água será como ‘ouro’ para os campos, que serão regados com abundância, favorecendo os caudais dos rios e a agricultura. Poderá, por vezes, ocorrer trovoada, não se descartando a queda de granizo.

A semana arranca com chuva abundante em Portugal continental e Arquipélagos

As mudanças provenientes do Atlântico já foram bem visíveis esta segunda-feira, que registou uma madrugada muito chuvosa e algo tormentosa, com atividade elétrica, especialmente no Oeste e Sudoeste português, em regiões como a Área Metropolitana de Lisboa, a Península de Setúbal, o litoral alentejano e o Barlavento Algarvio. Mais linhas de instabilidade associadas a estas frentes que acabarão por deixar chuva por toda a parte vão chegar nas próximas horas, ao estender-se para norte e para leste em direção às restantes regiões do país. As temperaturas até registaram um ligeiro aumento, com um ambiente húmido, nublado e ameno, em resultado do ar subtropical presente na atmosfera.

Para terça-feira prevê-se um panorama muito parecido, embora com a chuva a dar lugar, por vezes, a períodos de aguaceiros, esperando-se precipitação irregular e mais dispersa, sobretudo de manhã. Mesmo assim, à tarde, a chuva deverá intensificar-se, sendo novamente o Centro e o Sul do país os mais afetados, em especial, as regiões da Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Península de Setúbal, litoral do Alentejo e Algarve. O Norte também será atingido, mas somará menos litros de chuva por metro quadrado.

Nos Açores e Madeira o temporal de chuva e vento irá manter-se, mas muito menos “agressivo”. A instabilidade, no cômputo geral, diminuirá consideravelmente, exceto no que toca ao vento que continuará a soprar forte de Sudoeste, especialmente na Madeira. Na quarta-feira chegará ao Continente uma depressão isolada em altitude procedente do Atlântico, que poderá complicar a situação no sul do país. A chuva e a trovoada poderão ser bastante intensas, sobretudo no Baixo Alentejo e Algarve, sendo dispersa e praticamente residual no resto do país.

Festas Natalícias recheadas de água

Segundo o nosso modelo de confiança, o HRES-IFS do ECMWF, na segunda metade da semana o anticiclone situado sobre a Europa Central vai retirar-se, ao passo que as altas pressões em torno da Gronelândia vão reforçar-se, estimulando a circulação de depressões atlânticas e um fluxo do sudoeste (ventos ábregos) muito temperado e húmido, com precipitação generalizada.

A partir de quinta-feira, a circulação de depressões atlânticas e o fluxo do sudoeste vão trazer chuva generalizada a todo o país, estimando-se que os dias do Natal sejam muito condicionados pela instabilidade, num padrão meteorológico de rio atmosférico.

Na quinta-feira o dia ainda será muito húmido e instável, com chuva a cobrir todo o território graças ao aparecimento de duas frentes muito ativas. Durante a manhã a precipitação será mais intensa na faixa costeira ocidental (desde o Minho até ao Barlavento Algarvio), e no fim da tarde/noite desse mesmo dia será forte no interior do país, especialmente nos sistemas montanhosos, e desde Trás-os-Montes (Bragança) até ao Alto Alentejo (Portalegre).

Na Véspera de Natal, próxima sexta-feira, o temporal atlântico, já com características de rio atmosférico, deixará uma frente que, pelo caminho, descarregará chuva de oeste para leste, afetando todo o país. Há risco de inundações em áreas urbanas vulneráveis, com pouca capacidade de escoamento, bem como de transbordamento de rios. O vento vai soprar forte e pode causar a queda de árvores e outras estruturas frágeis.

O mesmo se prevê para o dia de Natal, próximo sábado. A precipitação voltará a ser intensa de norte a sul do país, cobrindo, de novo todo o território em 24 horas, especialmente Alentejo, Algarve, Minho e Douro Litoral. No que diz respeito à próxima semana, ainda existe muita incerteza: por um lado, há cenários que insistem no regresso da crista anticiclónica, por outro, há alguns que apostam num tempo frio e instável.

Algumas regiões vão somar mais de 150 l/m2

As acumulações de precipitação serão bastante significativas nos próximos dias no país inteiro. Em praticamente todo o território continental, a marca dos 50 l/m2 será ultrapassada. Os sistemas montanhosos do Minho e Douro Litoral, Montejunto-Estrela e uma grande parte do Algarve alcançarão 100 ou até mesmo 150 l/m2. Por fim, algumas pequenas porções da Beira Baixa e Beira Alta, Algarve, Ribatejo, Minho e Douro Litoral, alcançarão 250 l/m2 nas áreas mais expostas aos ventos ábregos.