No mercado de Natal mais alto da Europa, ainda se contam histórias de dragões
Entre altitude extrema, bancas festivas e relatos medievais de dragões, este mercado tornou-se uma das experiências de inverno mais singulares do continente.

Há mercados de Natal que se distinguem pelos enfeites, outros pelo tamanho. O do Monte Pilatus destaca-se por um motivo bem mais extraordinário: realiza-se a mais de dois mil metros de altitude, no topo de uma das montanhas mais emblemáticas da Suíça central, com vista direta para a região de Lucerna.
A cada edição, este pequeno mercado atrai visitantes que procuram uma experiência diferente das tradicionais feiras urbanas. Porquê? Sim, é verdade que ali se encontra artesanato local e gastronomia típica deste tipo de eventos, mas também existe um ambiente de montanha como nenhum outro lado da Europa.
Um mercado diferente, construído para quem chega às alturas
O mercado tem lugar em Pilatus Kulm, a, nada mais, nada menos, do que a 2 132 metros de altitude. Feitas as contas, cerca de 40 bancas são montadas junto aos hotéis de cume.
Apesar de compacto, o espaço concentra uma oferta variada: peças de artesãos que trabalham madeira, vidro e cerâmica, velas feitas com cera de abelha, brinquedos tradicionais, decorações de Natal cuidadosamente produzidas e os inevitáveis doces da época, entre eles o pão de gengibre e as variantes suíças de bolachas natalícias.
E, claro que a magia começa logo na viagem até ao topo. É que o percurso tem tanto protagonismo quanto o próprio mercado.
Quem opta pela histórica ferrovia de cremalheira, conhecida como a mais íngreme do mundo, percorre pouco mais de quatro quilómetros desde Alpnachstad até ao cume. O percurso revela encostas íngremes e zonas rochosas que raramente são observadas tão de perto num transporte público.

Já a alternativa por teleférico, a partir de Kriens, oferece outra perspetiva: cabines panorâmicas que atravessam florestas, ganham altura rapidamente e abrem a vista para os lagos e vales que caracterizam a região de Lucerna. Ambos os acessos terminam praticamente à porta do mercado.
Além das bancas, há um pequeno programa que enriquece a visita, incluindo contadores de histórias, oficinas para crianças e momentos musicais ao final da tarde. A própria montanha acrescenta um elemento identitário: o Monte Pilatus é conhecido pelas lendas medievais de dragões que alegadamente habitavam estas encostas. Hoje, as histórias são parte do património cultural local e surgem em trilhos temáticos, painéis informativos e até em atividades ligadas à tradição do mercado.
Dragões e histórias antigas
“Reza a lenda que, em 1421, um dragão caiu na Terra, mais precisamente no Monte Pilatus, na Suíça”, começa por contar a ‘NiT’.
A ligação do Pilatus aos dragões é uma das mais antigas da região e continua a ser mencionada nos dias de hoje. Durante a Idade Média, acreditava-se que estas criaturas habitavam fendas profundas e grutas escondidas da montanha.
Uma das histórias mais conhecidas conta que, em 1421, um dragão teria caído sobre o monte durante uma tempestade. Um agricultor chamado Stempflin, gravemente doente, encontrou-o por acaso e desmaiou de susto. Quando recuperou, o dragão já não estava lá, mas teria deixado para trás a chamada “Pedra do Dragão”, que, segundo a lenda, curou o camponês.
Outra narrativa fala de um tanoeiro que se perdeu no inverno e acabou por ser protegido por dragões que o ajudaram a sobreviver até ao dia seguinte.
Ao longo dos séculos, estas histórias moldaram a perceção do Pilatus, transformando a montanha num lugar associado ao mistério e à força da natureza. Hoje, este património lendário é explorado de forma subtil e informativa: existem trilhos temáticos, como o Dragon Moor, que explicam a origem e evolução destas lendas, e algumas das animações do mercado recorrem a personagens inspiradas nesses relatos antigos. Para os visitantes, é um elemento que distingue este mercado dos restantes e que acrescenta uma dimensão cultural inesperada à experiência.
Mais do que um destino sazonal
Talvez seja por isso que o Pilatus é um dos locais mais visitados da Suíça central durante todo o ano. No verão, é procurado por quem gosta de trilhos, miradouros e ar livre; no inverno, transforma-se num ponto de observação privilegiado sobre o clima alpino, com acessos controlados, mas mantidos em funcionamento sempre que as condições o permitem.

Ao redor do cume existem percursos curtos, plataformas panorâmicas e zonas interpretativas, como o Dragon Moor, que explicam a ligação histórica e mitológica da montanha aos seus famosos “habitantes lendários”.
Para quem pretende ficar mais tempo, existem dois hotéis históricos junto ao mercado, o Pilatus-Kulm e o Bellevue, que oferecem a rara possibilidade de dormir literalmente no topo da montanha. As janelas abrem-se para paisagens amplas sobre os Alpes centrais, e acordar ali é, para muitos visitantes, a parte mais especial da experiência.
E quando é que o Mercado de Natal acontece? A edição deste ano já aconteceu, como sempre, num único fim de semana de novembro. Mas é precisamente essa curta duração que faz com que muitos viajantes comecem a planear a próxima visita com bastante antecedência. Afinal, não é todos os dias que se tem a oportunidade de visitar o mercado de Natal mais alto da Europa — e a sensação de chegar até ele, depois de uma subida única, vale tanto quanto o que lá encontra.
Já está a planear a viagem do próximo ano?