A incrível dinâmica da Atmosfera!

A teoria da tectónica de placas assevera a sua união há longínquas Eras, o seu desenho indicia uma arcaica estreita ligação, mas é o poder dos mecanismos atmosféricos que mantém aos dias de hoje o seu contacto – falamos da Depressão de Bodélé.

Um evento atmosférico que liga a África à América do Sul.

Localizada no centro do continente Africano, no Chad, a Depressão de Bodélé é tida como a maior fonte de poeira do mundo, estando localizada sob uma região do Sahara onde há cerca de 5 mil anos existia um mar interior que secou. Aqui ficaram depositadas as diatomitos, rochas formadas por carcaças de plâncton que compõem o solo, e que antes compunham o fundo do mar, são areias, muito ricas em ferro e fósforo – nutriente fundamental para o desenvolvimento das plantas, e para a vida por inerência. A corrente de Jacto Bodélé é ainda constituída por material aerotransportável proveniente de processos erosivos, originário da cadeia montanhosa de Tibesti composta por vulcões inactivos.

Isto é, as intensas erupções de poeira observadas na região do Bodélé devem-se sobretudo ao jato de ar que se forma entre as cadeias montanhosas da região (geralmente designado de Bodélé Low Level Jet), e cuja magnitude é também determinada pelo sistema de alta pressão da Líbia.

Não obstante as características do solo, e a velocidade do vento, serem variáveis cruciais para as emissões de poeira, são parâmetros igualmente determinantes a cobertura do solo e a topografia, sendo de destacar a relevância das zonas de depressão no deserto do Sahara pela sua contribuição para as emissões da poeira. Geralmente, as depressões representam formas topográficas contíguas a grandes elevações, criando condições favoráveis, não somente para a acumulação de partículas resultantes da erosão das parcelas mais elevadas, mas igualmente para a formação de fluxos de vento propícios à suspensão dos sedimentos.

E, com satélites no seu encalço, é possível vislumbrar o trajecto que este evento atmosférico faz, atravessando o Oceano Atlântico, desde África rumo à América do Sul, transportando em média, cerca de 700 mil toneladas de poeira, todos os dias, particularmente durante o Inverno e a Primavera.

Poderosas correntes de ar levam a poeira em direcção a oeste, fazendo assim parte do (des)equilíbrio climático planetário.

E qual é a missão da Bodélé?

Ora, este pó, finos grãos de areia desfeitos por acção do vento, em 6 dias chega à Amazónia, situada a cerca de 8 mil km de distância. E são estes sais minerais, o antigo plâncton, em forma de poeira, transportados pelos ventos dominantes, que se dissolvem com as gotas de água e caem no Amazonas incessantemente na estação das chuvas, penetrando o solo, alimentando as raízes, e revitalizando assim a floresta, numa espécie de extraordinária maravilha da natureza – em dez dias, por cada folha caída, nascem 3!

É incrível como um dos lugares mais inóspitos e vazios de vida (o deserto), contribuem para um dos locais mais fervilhantes de vida como a floresta Amazónica, uma área com cerca de 5,5 milhões de km2, onde é processado cerca de 1/5 do oxigénio do planeta. Uma árdua tarefa a cargo das folhas, que transformam o carbono em ascensão em açúcar, e nos presenteiam libertando oxigénio. A vida no planeta Terra é uma permanente renovação!